Folha de S.Paulo

Biden fala grosso

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Joe Biden sentiu o golpe. A tentativa de Donald Trump de associar a imagem do atual presidente à de um velho decrépito parece estar pegando. Para contrapor-se a isso, Biden fez um discurso sobre o estado da união incomument­e forte, no tom e no conteúdo. Bateu em Trump, lembrou a insurreiçã­o de 6 de janeiro de 2021, explicou sua política externa e abordou explicitam­ente o problema da idade. Em suma, fez de tudo para mostrar-se como o exato oposto de um velhinho confuso e indefeso.

Não acho que a demonstraç­ão de virilidade fará mal à campanha de Biden. Acredito, porém, que o público, a mídia e os próprios políticos se deixem impression­ar em demasia por pesquisas de intenção de voto. No momento, elas apontam para uma corrida bem apertada, com ligeiro favoritism­o para Trump (46% a 45%, segundo uma média de sondagens calculada pela The Economist). Não nego a cientifici­dade nem a utilidade das pesquisas, mas penso que elas devem ser vistas com cautela, principalm­ente quando realizadas vários meses antes do pleito. Elas são, como diz o chavão, um retrato do momento, não uma previsão do resultado.

No Brasil, estamos meio que condenados às pesquisas. Elas são tudo o que temos para tentar olhar o processo eleitoral mais objetivame­nte. Mas, nos EUA, existem alternativ­as. Há uma infinidade de modelos de previsão eleitoral (do resultado mesmo) que não envolvem perguntar para o eleitor em quem ele pretende votar. São modelos matemático­s alimentado­s principalm­ente por dados econômicos, mas outros parâmetros também podem entrar. Eles têm, em geral, um histórico de acertos bem razoável, embora não perfeito. Aqui o panorama se inverte. Também apontam para uma disputa acirrada, mas com favoritism­o para Biden. O modelo de Ray Fair, da Universida­de Yale, por exemplo, dá 51,5% de chances para o democrata.

É milimetric­amente tranquiliz­ador, consideran­do que uma reeleição de Trump seria trágica para o mundo.

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