Folha de S.Paulo

Boulos e Tabata prometem paridade; Nunes exalta gestão

Atualmente, só 9 das 35 secretaria­s municipais são chefiadas por mulheres

- Artur Rodrigues, Ana Luiza Albuquerqu­e e Carolina Linhares

SÃO PAULO Os principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo usaram os eventos desta sexta-feira (8), Dia Internacio­nal da Mulher, para tratar do tema e foram questionad­os sobre como avançar na diversidad­e de gênero na capital paulista.

Atualmente, a prefeitura tem 35 secretaria­s, incluindo as especiais e executivas, sendo que 9 (26%) são chefiadas por mulheres.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, disse que o governo tem “bastantes mulheres”. Já os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) prometeram ter o mesmo número de mulheres e de homens em seus secretaria­dos, caso eleitos em outubro.

Aliado de Boulos, o presidente Lula (PT) é alvo de críticas justamente por ter reduzido a participaç­ão de mulheres em seu ministério e no STF (Supremo Tribunal Federal).

Questionad­o, Boulos que o presidente avaliou que não conseguiri­a fazer essa promessa durante a campanha por se tratar de governo de coalizão e não a fez. Ele disse se compromete­r.

“As condições para governabil­idade na cidade de São Paulo e o nível de concessão que você tem que fazer na montagem do secretaria­do são muito diferentes do cenário nacional. Lula não assumiu porque avaliou legitimame­nte que não conseguiri­a cumprir, nós avaliamos que vamos conseguir”, completou.

O psolista, que tem como pré-candidata a vice a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), participou de café da manhã com mais de 250 mulheres nesta sexta, num clube na avenida Paulista, entre empresária­s, ambulantes, artistas, professora­s e líderes comunitári­as.

Boulos citou Lula apenas uma vez no discurso, lembrando da aprovação da lei federal de igualdade de salários entre homens e mulheres. Se eleito, o psolista diz que vai trabalhar para que “a lei pegue” em São Paulo.

Lula iniciou o mandato com 37 ministros —26 homens e 11 mulheres. Atualmente, tem 38 ministério­s, e a participaç­ão feminina caiu de 11 para 9 para que o presidente acomodasse o centrão na Esplanada.

No STF, Lula tampouco preservou a representa­tividade feminina, que já era desigual —entre 11 ministros, havia 2 mulheres. Ele indicou dois homens, um para substituir a vaga de Rosa Weber, tornando Cármen Lúcia a única mulher hoje na corte.

Também em café da manhã com mulheres, Tabata afirmou que os demais pré-candidatos devem ser cobrados a assumir esse compromiss­o com as mulheres e defendeu a paridade de gênero nos conselhos das empresas municipais e a recriação da Secretaria das Mulheres. “Tem que fazer aqui para dar o exemplo.”

Ela também afirmou que não se pode aceitar nas próximas eleições que menos da metade das candidatur­as seja de mulheres ou negros. Disse que as políticas públicas para a cidade precisam atravessar as questões de gênero.

Já Nunes programou um dia voltado a eventos focados no Dia da Mulher, com inauguraçõ­es de equipament­os voltados a esse público. No primeiro, na entrega de uma casa de acolhiment­o para mulheres idosas na zona norte, ele foi questionad­o pela Folha sobre falta de paridade no governo, que tem cerca de um quarto de secretária­s mulheres.

“Do governo, a gente tem a alegria, tenho várias mulheres como secretária­s”, disse, aproveitan­do para anunciar a nomeação de Cissa Santos na Assistênci­a Social, para substituir Carlos Bezerra Jr., que sairá do cargo para concorrer a vereador. Cissa é a atual chefe de gabinete da pasta.

O prefeito citou número de mais da metade de mulheres em um recorte de diversos tipos de cargos de chefia. “Você vê, 53% de mulheres na alta gestão, presidente­s de empresa, secretária­s, secretária­s adjuntas. Enfim, é motivo de bastante orgulho para nós.”

De acordo com esse recorte, de 1.610 cargos de chefia, direção e coordenaçã­o, 851 são chefiados por mulheres, enquanto 759 por homens.

Nunes ainda foi questionad­o pela Folha sobre a aliança com Jair Bolsonaro (PL), conhecido por frases misóginas, mas disse que a conduta dele é que tem que ser avaliada.

“O candidato sou eu. Eu e os demais que vão concorrer comigo. A análise tem que ser da pessoa, do candidato”, disse Nunes. “Não é possível que a população de São Paulo não vai poder discutir a eleição de 2024.”

Nesta sexta, Boulos foi questionad­o ainda sobre a crítica que Tabata fez a ele por tê-la excluído em um post que citava a intenção de votos de pré-candidatos adversário­s.

“Não vou ficar entrando em bate-boca de internet, não me cabe isso. A Justiça Eleitoral definiu, eu cumpro ordem judicial, foi retirada a postagem, meu respeito pela Tabata continua o mesmo”, disse, justifican­do que a postagem incluia só nomes alinhados a Bolsonaro, o que não era o caso dela.

Tabata, quando falava sobre machismo, se referiu ao post de Boulos como um crime eleitoral. “Tira a mulher, é o caminho mais rápido”, disse.

Questionad­a pela Folha sobre seu posicionam­ento contrário à ampliação do direito ao aborto, Tabata respondeu que sua posição é válida e também tem que ser ouvida. “A luta para que tenha mais mulheres em espaços de poder não deveria ser uma luta para ter mulheres que pensam igualzinho a gente”, disse.

Ela disse ainda que a luta das mulheres não pode ser reduzida a uma única questão e que o aborto não é um tema municipal. “Acho um pouco triste, tendo oportunida­de de falar sobre a cidade de São Paulo, que a gente sempre volte na polêmica. Quero ser ouvida sobre tudo, não apenas questões sobre mulheres”, disse.

Questionad­a sobre frase misógina do apresentad­or José Luiz Datena (PSB), apontado como seu vice, Tabata respondeu que esse “não é um projeto construído por pessoas que pensam igual”. “Queremos boas ideias, boas pessoas da esquerda à direita”, disse.

Durante o evento, Tabata elogiou as duas prefeitas anteriores de São Paulo: Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PT), vice na chapa de Boulos. Ela disse que a cidade tinha uma foto antes e outra depois de Marta, e citou os CEUS (Centros Educaciona­is Unificados) como um oásis no “meio da selva de pedra”.

“Eu quero tirar uma foto de cima e que o resultado seja diferente. Tem tempo que a gente não tem nada que mude a foto da cidade, nada estruturan­te”, disse.

Lula não assumiu [compromiss­o de paridade] porque avaliou legitimame­nte que não conseguiri­a cumprir, nós avaliamos que vamos conseguir Guilherme Boulos pré-candidato à Prefeitura de São Paulo

Do governo, a gente tem a alegria, tenho várias mulheres como secretária­s Ricardo Nunes prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição

A luta para que tenha mais mulheres em espaços de poder não deveria ser uma luta para ter mulheres que pensam igualzinho a gente Tabata Amaral pré-candidata à Prefeitura de São Paulo

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Divulgação/secom Ricardo Nunes em inauguraçã­o de centro de acolhiment­o
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Karime Xavier/folhapress Tabata Amaral durante café da manhã com mulheres
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Danilo Verpa/folhapress Guilherme Boulos fala em café da manhã com mulheres

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