Folha de S.Paulo

Caroline foi aluna de Olavo e prioriza projetos de lei que endurecem penas

- Victoria Azevedo

BRASÍLIA Eleita para comandar a principal comissão da Câmara, a deputada Caroline de Toni (PL-SC) integra a ala mais radical do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ela foi aluna do filósofo Olavo de Carvalho, guru do bolsonaris­mo morto em janeiro de 2022, e já teve quebra de seu sigilo bancário determinad­a pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Escolhida na quarta-feira (6), por 49 votos favoráveis e 9 em branco, para comandar a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), Caroline definiu nesta sexta a primeira pauta do grupo, para reunião na próxima terça-feira (12), com destaque para projetos que endurecem as penas para determinad­os crimes.

A catarinese escolheu propostas de expoentes da oposição, como a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-sp).

Um deles, de autoria de Kim, estabelece pena mínima de 25 anos a partir da terceira reincidênc­ia na prática de crimes dolosos contra a vida, crimes hediondos e tráfico de drogas.

Outro, elaborado por Zambelli, prevê aumento de pena se o crime de estelionat­o for cometido para fins de financiame­nto de exploração sexual, violência contra a mulher, criança, adolescent­e ou tráfico de pessoas.

Nascida em Chapecó (SC) e formada em direito, Caroline foi eleita para seu primeiro mandato na Câmara em 2018 e reeleita em 2022 —na segunda vez, foi a deputada federal mais votada em seu estado.

Nas redes sociais, ela se descreve como defensora da vida, da liberdade, da família, do agronegóci­o e da segurança pública. Caroline também foi autora de um dos primeiros pedidos de impeachmen­t apresentad­os contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Aliada de Bolsonaro, a deputada tece duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a seu governo. Caroline assinou o pedido de impeachmen­t do chefe do Executivo por suas declaraçõe­s comparando a ofensiva militar israelense em Gaza com o Holocausto e esteve em ato convocado por Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, no último dia 25.

Integrante da FPA (Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia), Caroline foi membro titular da CPI do MST (Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra) da Câmara dos Deputados no ano passado, na qual travou vários embates com parlamenta­res governista­s e participou de diligência­s nos estados.

Além de sua atuação em matérias que tratam do agronegóci­o, ela defende pautas caras ao bolsonaris­mo, como a flexibiliz­ação do uso de armas de fogo e a proibição do aborto.

Nesta semana, a deputada foi às redes sociais criticar a decisão da França de incluir em sua Constituiç­ão a liberdade de a mulher de abortar. “França celebra a matança de inocentes!”, escreveu.

Caroline defende na Câmara um projeto de lei que proíbe o aborto no Brasil em qualquer caso, o chamado Estatuto do Nascituro.

No ano passado, ela foi 1 dos 36 parlamenta­res que votaram contra projeto de lei do Executivo que obriga empresas a pagarem o mesmo salário para homens e mulheres que exerçam as mesmas funções.

Nas redes sociais, a parlamenta­r também já criticou a atuação de ministros do Supremo. Ela reforça o coro de parlamenta­res da oposição que se queixam das operações da Polícia Federal que recentemen­te miraram deputados do PL.

Em dezembro, criticou a aprovação de Flávio Dino para uma vaga no Supremo, classifica­ndo-a como “lamentável”.

Em junho de 2020, a pedido da PGR (Procurador­ia-geral da República), o ministro Alexandre de Moraes, relator no STF do inquérito que apura atos antidemocr­áticos organizado­s por apoiadores de Bolsonaro, determinou a quebra do sigilo bancário de dez deputados federais —entre eles a nova presidente da CCJ.

À época, ela afirmou que soube da quebra de sigilo por meio da imprensa e disse que não havia fato ou fundamento jurídico que justificas­se a medida.

“Não tenho mais dúvida de que estamos vivendo num estado de exceção”, escreveu Caroline numa rede social.

Em seu discurso na quarta-feira, , Caroline não fez críticas diretas ao Supremo, mas citou o que classifica como “ativismo judicial”.

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