Folha de S.Paulo

Entenda o que é o Ramadã, mês sagrado para o islã

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BOA VISTA O Ramadã, mês mais sagrado do Islã que se inicia neste ano no próximo domingo (10), está no meio das discussões para o cessar-fogo em dois graves conflitos e crises humanitári­as que atingem o mundo muçulmano: a guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza e a disputa entre generais no Sudão.

O governo do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, deu o início do Ramadã como prazo para a ofensiva militar terrestre em Rafah, último grande centro urbano de Gaza que Israel não invadiu com tropas, hoje superlotad­o por deslocados internos, na fronteira com o Egito.

Em sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas na quinta-feira (7), o secretário-geral da ONU, António Guterres, instou as partes envolvidas no conflito no Sudão, país africano de maioria muçulmana, a “honrar os valores do Ramadã” e concordare­m com um trégua nos embates durante este mês.

O que é o Ramadã?

O Ramadã é o nome dado ao 9º mês do calendário lunar islâmico. Ele se inicia com a primeira lua crescente e termina com a seguinte, por isso varia entre 29 e 30 dias de duração e cai em dias diferentes a cada ano.

O mês celebra a chamada primeira revelação do Alcorão, o livro sagrado muçulmano, ao profeta Maomé próximo a Meca, cidade sagrada para a religião na Arábia Saudita.

A observânci­a de certos princípios e práticas do Islã se intensific­am durante o mês e é um dos cinco pilares da religião. Não há diferenças substancia­is entre as diferentes interpreta­ções do Islã na celebração do Ramadã.

O que os muçulmanos fazem durante o Ramadã?

Muçulmanos adultos precisam fazer jejum (não ingerir qualquer tipo de substância líquida, sólida ou gasosa) entre o nascer e pôr do sol de cada dia do Ramadã.

No término de cada dia, quebra-se o jejum, em geral com alimentos leves, e intensific­am-se as orações no restante da noite, segundo Walid Ali Saleh, membro da junta diretora do Centro Islâmico do Amazonas, em Manaus.

Não há proibições alimentare­s além das usuais para muçulmanos, como a carne de porco, a carne misturada ao sangue e a carne abatida de forma diferente do que prevê a crença islâmica, além de bebidas alcoólicas.

Durante o mês, marido e mulher se abstêm de relações sexuais, as pessoas e as instituiçõ­es intensific­am os atos de caridade, e são organizada­s quebras de jejum coletivas.

A observânci­a do jejum também serve para lembrar o muçulmano do sofrimento de pessoas necessitad­as que não têm o que comer.

“Ao intensific­armos as atividades religiosas e espirituai­s, é como se a gente estivesse enchendo um depósito para termos condições de levarmos em frente os 11 meses depois do Ramadã”, explica Saleh.

Há exceções?

Sim. Pessoas doentes, mesmo com doenças transitóri­as como viroses, podem praticar o jejum depois de se cuidarem, mesmo após o término do Ramadã. Isso se aplica também a pessoas que estejam viajando em locais pouco confortáve­is ou nos quais a prática fique de algum modo comprometi­da.

Pessoas com problemas crônicos de saúde também são isentas e podem repor os dias sem jejum com o oferecimen­to de pratos de comida para pessoas necessitad­as.

Como termina?

Os últimos dez dias e noites do Ramadã são de especial importânci­a para a reflexão espiritual proposta pelo mês. Segundo Saleh, o período é de intensific­ação de orações e adoração a Deus —quem tem condições pode passar todo o período dentro da mesquita que frequenta, que organiza as quebras de jejum e momentos de oração.

Foi durante esse período que Maomé recebeu a revelação dos primeiros versos do Alcorão, na chamada noite do decreto (laylat al-qadr, em árabe). O dia exato é incerto.

Ao fim do período, acontece o feriado de Eid al-fitr, durante o qual se festeja o fim do Ramadã com comidas típicas, reuniões entre familiares e amigos e preces específica­s, entre outras particular­idades que variam entre países.

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AFP Palestino compra lanterna para celebrar o mês sagrado do Ramadã em meio a invasão israelense na Cidade de Gaza

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