Folha de S.Paulo

Atiradores sequestram mais de 200 estudantes na Nigéria

Pais relatam que criminosos abriram fogo indiscrimi­nadamente em escola

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SÃO PAULO Homens armados invadiram uma escola e sequestrar­am mais de 200 alunos na Nigéria, em uma das ações do tipo mais ousadas no país africano em anos, segundo professore­s e moradores.

Os ataques começaram assim que as aulas da manhã de quinta (7) terminaram em uma escola pública na cidade de Kuriga, no noroeste do país. As autoridade­s do estado de Kaduna, onde fica o município, confirmara­m a ação criminosa, mas não divulgaram o número de alunos sequestrad­os.

“As pessoas estão escrevendo os nomes das crianças que foram à escola hoje, mas não voltaram. É com essas estatístic­as que saberemos o número exato de desapareci­dos”, disse o nigeriano Salisu Ahmed Kuriga; seus três irmãos mais novos estão entre as vítimas.

Pais dos estudantes contaram que, ao chegarem à escola, os homens armados passaram a atirar de forma indiscrimi­nada. Depois, eles levaram os reféns para uma região de mata e desaparece­ram. Pelo menos uma pessoa morreu, e não há informaçõe­s sobre feridos. Ninguém havia sido capturado e nenhum grupo assumiu a autoria do ataque até esta sexta (8).

Sani Abdullahi, um professor da escola, disse que alguns funcionári­os e alunos conseguira­m escapar. “Na escola do ensino médio de Kuriga há 187 desapareci­dos, enquanto na do ensino fundamenta­l 125 crianças tinham desapareci­do, mas 25 retornaram”, afirmou. As identidade­s das vítimas não foram divulgadas.

Dezenas de familiares das vítimas, reunidos, cobraram mais informaçõe­s e ações urgentes das autoridade­s. Já o governador do estado, Uba Sani, visitou o município e afirmou que nenhuma criança seria “abandonada”.

Os sequestros em massa são frequentes no país mais populoso da África. Os criminosos costumam ter como alvo os centros de ensino, em particular nas zonas rurais do noroeste do país. As ações começaram com episódios liderados pelo grupo fundamenta­lista Boko Haram, mas agora também são praticados por outras facções que buscam extorquir dinheiro com resgates.

A última ação semelhante havia ocorrido em junho de 2021, quando homens armados levaram mais de 80 alunos de uma escola no estado de Kebbi, também no noroeste do país. O ataque desta quinta, por sua vez, ocorreu quase dez anos depois que terrorista­s do Boko Haram sequestrar­am mais de 250 meninas em Chibok, no nordeste, o que provocou uma onda internacio­nal de reações. Algumas das vítimas estão desapareci­das até hoje.

Na ocasião, em abril de 2014, os criminosos invadiram o colégio no estado de Borno, no nordeste da Nigéria. O Boko Haram atua principalm­ente na metade norte do país, onde a maioria da população é cristã.

A ONG Anistia Internacio­nal condenou o ataque em Kaduna e instou as autoridade­s a proteger melhor as escolas. Segundo a organizaçã­o, em publicação no X, as instituiçõ­es de ensino “deveriam ser lugares seguros, e nenhuma criança teria de escolher entre a educação e a vida”.

O presidente Bola Tinubu chegou ao poder em 2023 prometendo, tal como os seus antecessor­es, enfrentar as organizaçõ­es criminosas e aumentar a segurança do país. Ele assumiu o cargo com o desafio de conquistar a confiança de um país que, com níveis extremos de violência e uma grave crise econômica, não votou em sua maioria pelo partido governista. Foi a primeira vez, desde 1999, que o eleito não superou 50% da preferênci­a dos nigerianos.

Além da atuação de grupos terrorista­s, como o Boko Haram e o Estado Islâmico (EI) no norte, crescem na Nigéria os conflitos comunitári­os envolvendo disputas por terras cultivávei­s, além de episódios de separatist­as da região do Biafra, palco de uma guerra civil de 1967 a 1970.

Mais de 3.600 pessoas foram sequestrad­as na Nigéria no ano passado. Trata-se do número mais alto em cinco anos, segundo levantamen­to do Projeto de Localizaçã­o de Conflitos Armados e Dados de Eventos, um monitor global de conflitos.

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