Folha de S.Paulo

Pressões políticas ainda não se refletem no preço da ação

- Stéfanie Rigamonti e Marcelo Azevedo

O temor de que o governo aumente a pressão sobre os rumos da Vale passou a ser considerad­o nas avaliações sobre o valor das ações da companhia na Bolsa, embora não com tanto peso quanto a atividade econômica da China e previsões operaciona­is da empresa.

Na segunda-feira (4) o BTG Pactual decidiu rebaixar sua recomendaç­ão para a ação da Vale de “compra” para “neutra”, citando em relatório ruído intenso, “que se intensific­ou recentemen­te em meio a discussões do conselho sobre quem será o próximo CEO da empresa”. O corte na recomendaç­ão ajudou a pesar no papel da mineradora na terça (5), que recuou 1,56%.

As primeiras notícias de interesse do governo na cúpula da companhia começaram em 2023, com a informação de que o governo articulava o nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, aliado de Lula, para o comando da Vale.

O mercado não puniu a ação da mineradora naquele momento. Um dia após a publicação da primeira nota sobre o assunto, no jornal O Globo, a ação da Vale subiu 0,21%, mesmo com uma queda de mais de 1% no minério na China.

A notícia, então, foi corroborad­a por outros veículos ao longo dos meses seguintes, com novas informaçõe­s. A situação escalou e causou bastante ruído e reação do mercado, até que a Folha adiantou que Mantega desistiu do cargo em movimento articulado por Lula. Mas nos bastidores ainda há conversas de que o presidente articula paleiras ra colocar um outro nome no comando da companhia.

A Vale tem sido alvo de alto grau de ruído e pressão política ultimament­e”, diz o relatório do BTG assinado pelos analistas Leonardo Correa e Caio Greiner. “E, talvez mais importante, há uma clara divisão entre os membros do conselho sobre a direção futura da empresa, o que acreditamo­s ser preocupant­e para uma companhia com tantos desafios pela frente.”

Segundo o BTG, os riscos aumentaram recentemen­te, o que pressiona o potencial de dividendos da empresa e leva os analistas do banco a acreditar que esses riscos “ainda não foram totalmente avaliados”.

De fato, desde as primeiras notícias sobre Mantega na Vale, em junho, o preço das ações seguem praticamen­te iguais, no patamar dos R$ 66.

Na contramão do BTG, muitos bancos como Itaú, Jpmorgan e Goldman Sachs deram pouca atenção para essa questão em suas análises recentes sobre a Vale, que focaram mais os resultados da mineradora do quarto trimestre.

“Há instituiçõ­es muito otimistas e outras mais pessimista­s, e isso é reflexo da situação complexa para definir quais seriam os próximos passos das ações da Vale diante de grandes incertezas no radar. O mercado deve aguardar movimentos mais concretos para tomar uma direção mais clara”, diz Apolo Duarte, chefe da mesa de renda variável da AVG Capital.

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