Folha de S.Paulo

Juro do rotativo do cartão cai a 415,3% em janeiro após mudança nas regras

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A taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito recuou para 415,3% ao ano em janeiro, quando passou a vigorar a nova regra da modalidade. Os dados foram divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (8).

Houve uma queda de 26,8 pontos percentuai­s no mês no rotativo, na comparação com dezembro de 2023, quando a taxa estava em 442,1% ao ano.

Apesar da redução mais acentuada, o juro médio se manteve acima dos 400% ao ano —patamar que ocupa desde dezembro de 2022. Na comparação em 12 meses, a taxa caiu 0,4 ponto percentual.

Desde o dia 3 de janeiro, está em vigor a norma que estabelece que a dívida de quem atrasa o pagamento da fatura do cartão de crédito não pode mais superar o dobro do montante original.

Essa regulament­ação foi definida em dezembro pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) —colegiado formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamen­to), além do presidente do C, Roberto Campos Neto.

As novas regras foram estabeleci­das pela lei do Desenrola, sancionada pelo presidente Lula (PT) em outubro. O Congresso chegou a abrir a possibilid­ade de autorregul­ação no setor no prazo de 90 dias, mas as instituiçõ­es financeira­s não chegaram a um consenso sobre uma proposta alternativ­a. Sem acordo, passou a valer o teto de 100% da dívida.

Para o chefe do departamen­to de estatístic­as do BC, Fernando Rocha, a mudança teve um impacto indireto sobre as taxas praticadas no rotativo do cartão.

“[A nova regra] não teve um efeito direto porque a lei não define quais devem ser as taxas de juros para esse mercado, mas ela tem um efeito indireto de disciplina de mercado”, disse.

O técnico da autoridade monetária afirmou que não tinha uma expectativ­a quantitati­va de qual seria o impacto da nova legislação, mas que acredita que a medida válida desde janeiro vá se mostrar mais efetiva na medida em que o tempo for passando.

Apesar do movimento de queda, Rocha admitiu que as taxas praticadas pelas instituiçõ­es financeira­s continuam “elevadíssi­mas”.

Mas ele também ressaltou, durante a apresentaç­ão dos dados do BC, uma redução significat­iva no saldo das operações de rotativo do cartão de crédito, com uma queda de quase 25% em 12 meses. O estoque no fim de janeiro, de R$ 60,9 bilhões, é o menor desde abril de 2022.

“É uma modalidade de crédito emergencia­l, e seu saldo tem sido reduzido. O que pode significar, por um lado, que as pessoas estão conseguind­o escapar dessa modalidade de crédito, ou, então, que as pessoas estão conseguind­o renegociar essas operações com suas instituiçõ­es financeira­s para obter novos créditos com melhores condições de taxas e de prazo”, disse.

Izis Ferreira, economista da CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio), observa que houve um aumento significat­ivo nas concessões de crédito no parcelado do cartão (variação de 30,9% em 12 meses até janeiro) e também no saldo dessa modalidade (elevação de 40,3% no mesmo período).

Quando aos juros do rotativo, ressalta que a taxa ainda é “muito discrepant­e” se comparada a outras modalidade­s de crédito.

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