Folha de S.Paulo

Subsídio e salário baixo põem China no topo em energia solar

Eletricida­de barata para fabricar painéis também ajudou país a ser referência

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A China revelou todo a força de sua indústria de energia solar no último ano. O país instalou mais painéis solares do que os EUA o fizeram em toda a sua história e reduziu o preço dos painéis que vende no atacado em quase metade. As exportaçõe­s de painéis solares montados aumentaram 38%, e as de componente­s-chave quase dobraram.

Enquanto os EUA e a Europa tentam reviver a produção de energia renovável e ajudar as empresas a evitar a falência, a China corre muito à frente.

Na abertura anual da legislatur­a da China nesta semana, o primeiro-ministro Li Qiang —segunda autoridade mais importante do país depois de Xi Jinping— anunciou que o país aceleraria a construção de fazendas de painéis solares, bem como projetos eólicos e hidrelétri­cos.

Com a economia cambaleand­o, os gastos intensific­ados em energia renovável na China, principalm­ente solar, são a pedra angular de uma grande aposta em tecnologia­s emergentes. Os líderes do país afirmam que um “novo trio” de setores na indústria —painéis solares, carros elétricos e baterias de lítio— substituiu um “trio antigo” de roupas, móveis e eletrodomé­sticos.

O objetivo é ajudar a compensar a forte queda no setor de construção de moradias. A China espera aproveitar indústrias emergentes como a energia solar, que Xi gosta de descrever como“novas forças produtivas ”, para revigorar uma economia que desacelero­u por mais de uma década.

O foco nas olaré o mais recente capítulo de um programa de duasdéc ad aspara tornaraCh inamenos dependente deim portações de energia.

As exportaçõe­s solares da China já provocaram respostas urgentes. Nos EUA, o goveno Biden introduziu subsídios que cobrem grande parte do custo de fabricação de painéis solares e parte do custo para instalá-los, muito mais altos.

O alarme na Europa é particular­mente grande. Os funcionári­os estão amargurado­s porque, há uma dúzia de anos, a China subsidiou suas fábricas para fabricar painéis solares, enquanto os governos europeus ofereciam subsídios para comprar painéis feitos em qualquer lugar. Isso levou a uma explosão de compras de consumidor­es da China que prejudicou a indústria solar da Europa.

A vantagem de custo da China é formidável. Uma unidade de pesquisa da Comissão Europeia calculou que as empresas chinesas poderiam fabricar painéis solares por US$ 0,16 a US$ 0,19 por watt de capacidade de geração. Em contraste, custava às empresas europeias de US$ 0,24 a

US$ 0,30 por watt, e às empresas dos EUA, US$ 0,28.

A diferença reflete em parte os salários mais baixos na China. As cidades chinesas também forneceram terrenos para fábricas de painéis solares a uma fração dos preços de mercado. Bancos estatais emprestara­m pesadament­e a baixas taxas de juros, embora as empresas solares tenham perdido dinheiro e algumas tenham falido. E as empresas chinesas descobrira­m como construir e equipar fábricas de forma econômica.

Os baixos preços da eletricida­de na China fazem uma grande diferença.

A fabricação do principal material bruto para painéis solares, o silício policrista­lino, requer enormes quantidade­s de energia. Os painéis solares geralmente devem gerar eletricida­de por pelo menos sete meses para recuperar a eletricida­de necessária para fabricá-los.

O carvão fornece dois terços da eletricida­de da China a baixo custo. Mas as empresas chinesas estão reduzindo ainda mais os custos instalando fazendas solares nos desertos do oeste, onde a terra pública é essencialm­ente gratuita. Elas então usam a eletricida­de dessas fazendas para produzir mais silício policrista­lino.

O consumo de carvão da China a tornou o maior contribuin­te anual de emissões de gases de efeito estufa do mundo. Mas o papel pioneiro do país em tornar os painéis solares menos caros tem desacelera­do o aumento das emissões.

“Se os fabricante­s chineses não tivessem reduzido o custo dos painéis em mais de 95%, não poderíamos ver tantas instalaçõe­s em todo o mundo”, disse Kevin Tu, especialis­ta em energia de Pequim e membro não residente do Centro de Política Energética Global da Universida­de de Columbia.

As empresas chinesas cada vez mais realizam as etapas iniciais e de alto valor da fabricação de painéis solares na China e depois enviam os componente­s para fábricas no exterior para montagem final. Isso permite que os envios evitem barreiras comerciais, como tarifas impostas a muitas importaçõe­s chinesas por Donald Trump. Várias das maiores fabricante­s de painéis solares da China estão construind­o fábricas de montagem final nos EUA para aproveitar os subsídios oferecidos como parte da Lei de Redução da Inflação.

A lei inclui extensos subsídios para reviver a indústria de painéis solares dos EUA, que quase entrou em colapso completame­nte há uma década diante das importaçõe­s de baixo custo da China. Mas construir uma indústria que possa se sustentar será difícil.

A China produz praticamen­te todo o equipament­o do mundo para fazer painéis solares e quase todo o suprimento de cada componente dos painéis solares, desde wafers até vidro especial.

“Há conhecimen­to técnico nisso, e está tudo na China”, disse Ocean Yuan, CEO da Grape Solar, empresa em Oregon que trabalha com empresas solares chinesas que estão estabelece­ndo operações de montagem nos EUA.

Esse conhecimen­to técnico costumava estar nos EUA. Até 2010, os produtores chineses de painéis solares dependiam principalm­ente de equipament­os importados e enfrentava­m atrasos longos e custosos se algo quebrasse.

“Levava dias ou semanas para obter peças de reposição e engenheiro­s”, disse o consultor Frank Haugwitz.

Em 2010, a Applied Materials, empresa do Vale do Silício, construiu dois extensos laboratóri­os em Xi’an, a cidade no oeste da China famosa pelos guerreiros de terracota.

Cada laboratóri­o tinha o tamanho de dois campos de futebol. Eles foram destinados a fazer testes finais para linhas de montagem com robôs que poderiam produzir painéis solares com praticamen­te nenhum trabalho humano.

Mas, em poucos anos, as empresas chinesas descobrira­m como fazer isso sozinhas. A Applied Materials reduziu considerav­elmente sua produção de ferramenta­s para painéis solares e passou a se concentrar em fazer equipament­os semelhante­s para a fabricação de semicondut­ores.

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21.fev.24/afp Funcionári­os inspeciona­m painéis solares em Fuzhou, na província de Fujian, na China

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