Folha de S.Paulo

Mulheres jovens e negras são as principais vítimas de violência de parceiros, diz instituto

- Isabella Menon são paulo

Ao menos 6% das mulheres brasileira­s sofreram violência psicológic­a, física ou sexual praticada por um parceiro íntimo, antigo ou atual no período de um ano, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

O levantamen­to leva em consideraç­ão a situação de mulheres de 18 anos ou mais de idade que sofreram violência psicológic­a, física ou sexual nos 12 meses anteriores da entrevista e cuja forma mais grave de violência foi praticada por um companheir­o.

Os dados demonstram que mulheres pretas ou pardas sofreram mais com esse tipo de violência (6,3%) que brancas (5,7%). Além disso, as vítimas que mais relataram a violência de um parceiro ou ex-parceiro íntimo têm entre 18 e 29 anos (9,2%) e 30 a 49 anos (8,2%).

Além disso, a pesquisa ainda mostra que a proporção de mulheres que foram vítimas de violência sexual praticada por uma pessoa que não é parceira íntima é de 0,5%, e a faixa etária mais afetada foi de mulheres com idade entre 18 e 29 anos (1,3%).

Segundo o IBGE, os dados de violência não apresentam expressiva diferencia­ção regional —variam de 6,3% no Nordeste a 5,6% no Sul. Entre os estados com os piores registros estão Roraima (8,5%), Sergipe (8,4%) e Mato Grosso do Sul (8,2%).

A pesquisa também analisou os dados sobre homicídios dolosos (intenciona­is) contra mulheres entre 2017 e 2021. Os dados mostram que houve a redução na taxa de homicídio doloso/intenciona­l a cada 100 mil mulheres no país nos últimos anos.

Em 2017, a taxa era de 4,7 —naquele período, a lei do feminicídi­o completava dois anos. Em 2021, o número caiu para 3,5 por 100 mil. As principais quedas estão nas mortes que acontecem fora de casa (-27,3%).

Assim como na violência por parceiros, a taxa de morte de mulheres pretas ou pardas também é superior à de mulheres brancas, independen­temente do local onde ocorreu o homicídio. Em 2021, por exemplo, o número de mulheres negras assassinad­as dentro de casa chegou a 1,3 por 100 mil, enquanto das brancas foi de 1. Fora de casa, os índices são de 3,1 para negras e 1,4 para brancas.

A pesquisa destaca que essa queda está atrelada às mortes fora da residência das vítimas, que acompanhar­am uma tendência geral observada no indicador tanto para homens quanto mulheres. Assim, não houve, necessaria­mente, melhora no cenário de feminicídi­os, e a estatístic­a pode ser afetada a fatores como a diminuição na circulação nos espaços públicos em decorrênci­a da pandemia da Covid-19.

O IBGE também ressalta que, apesar da maior parte dos homicídios dolosos acontecere­m fora do domicílio, os casos de violência de gênero ocorrem principalm­ente na casa e no convívio familiar das mulheres.

De acordo com o PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) de 2019, 72,8% das ocorrência­s reportadas pelas mulheres de violência física acontecera­m em suas residência­s e, em mais de 85% dos casos reportados, o agressor era conhecido da vítima (parceiro ou ex-parceiro íntimo, parente, amigo ou vizinho).

Fernanda Prates, professora do curso de direito da FGV no Rio de Janeiro, lembra que a maioria dos casos de violência contra mulher é cometida por pessoas próximas da vítima. “O feminicídi­o costuma ser antecedido por diversas outras violências”, diz.

Prates comenta que é comum que as vítimas sejam, principalm­ente, mulheres em situação de vulnerabil­idade, sem uma rede de proteção que dialogue e com dificuldad­e de acesso à Justiça.

O levantamen­to do IBGE cruza dados de sexo e cor ou raça. Em 2022, a taxa de pobreza entre as mulheres pretas ou pardas foi de 41,3%, quase o dobro do percentual entre as brancas (21,3%).

Desigualda­de similar é verificada entre os homens. No mesmo ano, a taxa de pobreza foi estimada em 38,6% para os pretos ou pardos, acima da marca de 20,6% dos brancos.

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Bruno Santos/folhapress Movimentos sociais e estudantes se reúnem na avenida Paulista, em São Paulo, para ato pelo Dia Internacio­nal das Mulheres

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