Folha de S.Paulo

Amazônia registra queda de 30% em alertas de desmate

Mesmo com diminuição, índice é o segundo mais alto para fevereiro na série histórica

- Jéssica Maes

Os alertas de desmatamen­to na amazônia tiveram redução de 29,7% em fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2023. No ano passado, 321,9 km² de floresta foram perdidos no mês, índice que caiu para 226,2 km² em 2024.

Mesmo com a queda, o índice é o segundo mais alto para o mês na série histórica do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 2016 no bioma.

No cerrado, houve cresciment­o de 18,5% no desmate em fevereiro, indo de 553,1 km² em 2023 a 655,5 km² em 2024. No entanto, a alta incidência de nuvens no bioma pode ter impactado a precisão dos dados.

Os números foram divulgados nesta sexta-feira (8).

Como a temporada de chuvas dificulta a derrubada da mata, o início do ano normalment­e tem melhora nos números de desmatamen­to.

Mas o tempo nublado também atrapalha a captura de imagens pelos satélites que alimentam o Deter.

Em fevereiro, a cobertura de nuvens registrada pelo Inpe no cerrado chegou a 77%, a maior já computada pelo sistema. Assim, é possível que áreas desmatadas que não tenham sido identifica­das agora venham a ser contabiliz­adas nos próximos meses. Na amazônia, a taxa de nuvens ficou em 20%.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Ana Clis Ferreira, ressalta que, ainda que a redução no desmatamen­to na floresta amazônica seja positiva, não se devem ignorar os altos índices de queimadas registrada­s no bioma em fevereiro.

“Em geral, o fogo na região está diretament­e ligado à atividade humana, como a renovação de pastagens e a limpeza de áreas recém-desmatadas”, diz.

“Ainda que em boa parte do bioma o período mais seco não tenha chegado, esse não é o caso em Roraima, o estado que registrou sozinho 2.057 ocorrência­s de focos de calor e 52 km² em alertas de desmatamen­to, um aumento de 51% em relação ao mesmo período do ano anterior.”

Os incêndios florestais em Roraima fizeram as emissões de carbono vindas dessa fonte dispararem no Brasil em fevereiro, atingindo o maior índice ao menos desde 2003, segundo dados do observatór­io climático e atmosféric­o europeu Copernicus.

Nas últimas semanas, cidades de Roraima têm ficado encobertas por fumaça, incluindo a capital, Boa Vista. A Terra Indígena Yanomami também foi impactada.

“A falta de pessoal para combater os incêndios e a demora do governo do estado em suspender licenças de uso do fogo pioraram a situação, especialme­nte em um estado que está enfrentand­o seu período de estiagem, agravado pelo El Niño”, afirma Ferreira.

De acordo com o governo federal,cercade60%dosfocosde incêndio registrado­s em Roraima neste ano estão em áreas privadas, onde o combate às chamas deve ser, preferenci­almente, feito pelos órgãos estaduais.

Atualmente, 341 brigadista­s e servidores do Ibama e do ICMBIO atuam no estado, conforme o Ministério do Meio Ambiente.

O Deter mapeia e emite alertas de desmate com o objetivo de orientar ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outros órgãos de fiscalizaç­ão. Os resultados representa­m um alerta precoce, mas não são o dado fechado do desmatamen­to.

Os números oficiais são de outro sistema do Inpe, o Prodes, mais preciso e divulgado anualmente.

Em novembro, os dados do Prodes mostraram que, de agosto de 2022 a julho de 2023, foram perdidos 9.001 km² de floresta amazônica, redução de 22,3% na comparação com o período anterior. No mesmo período, o cerrado perdeu 11.011,6 km² de vegetação nativa, representa­ndo uma alta de 3%.

No mês passado, os estados que registrara­m maior perda de vegetação nativa na amazônia, segundo sistema Deter, foram Mato Grosso (613,4 km²), Pará (386,2 km²) e Amazonas

(201,8 km²).

No cerrado, o estado líder em desmate em fevereiro foi a Bahia, com 499,5 km², seguido por Tocantins (432,8 km²) e Maranhão (417 km²).

Desde o início do ano, servidores ambientais do governo federal estão paralisado­s, em reivindica­ção por reestrutur­ação da carreira da categoria e melhoria nos salários e nas condições de trabalho.

Ainda não se sabe o impacto da paralisaçã­o sobre a política ambiental do governo, mas os servidores indicam redução no número de autuações e na emissão de licenças.

As negociaçõe­s junto aos ministério­s da Gestão e Inovação do Serviço Público (MGI) e do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA) seguem sem avanço aparente.

Na última terça-feira (5), foi realizada uma reunião extraordin­ária entre o MGI e a Ascema (Associação Nacional de Servidores Ambientais). Mas a organizaçã­o diz que ela foi infrutífer­a e o que o ministério­s não apresentou nova contraprop­osta. Agora, a Ascema busca encontrar a chefe da pasta, Marina Silva.

Os servidores reclamam que, apesar de a preservaçã­o do meio ambiente estar no discurso do presidente Lula (PT), a carreira não foi valorizada, mesmo após anos de sucateamen­to e ataques durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

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