Folha de S.Paulo

Aos 65, Rodeio faz churrasco consagrado e anacrônico em SP

Sem querer ‘reinventar o boi’, casa faz refeições que podem passar dos R$ 500

- Daniel Buarque Rodeio R. Haddock Lobo, 1.498, Jardins. Shopping Iguatemi - Av. Brig. Faria Lima, 2.232, Jardim Paulistano. @rodeiorest­aurante

A edição mais recente d’o Melhor de Sãopaulo - Gastronomi­a da Folha premiou o Osso, churrascar­ia especializ­ada em cortes maturados a seco (chamados de dry aged) como melhor restaurant­e para comer carne.

Em outros guias, têm sido aclamadas casas especializ­adas em parrillas ao estilo argentino ou uruguaio, com preparo de gado wagyu e com cortes novos para a cidade, como denver steak e flat iron.

Enquanto o público paulistano mergulha em novas experiênci­as com churrascar­ias, a tradição também mantém sua popularida­de. É o caso do Rodeio, casa que completa 65 anos em 2024 e que permanece atrelada a uma proposta clássica já consagrada.

Tradição foi uma das palavras mais proferidas pela superinten­dente do restaurant­e, Silvia Macedo Levorin, durante um almoço recente no Rodeio do Shopping Iguatemi. Após mais de seis décadas, o restaurant­e sempre evitou seguir modas ou dar guinadas na sua proposta.

Nunca entrou na onda dos rodízios, não apelou a cortes mais diferentes, não abandonou a picanha. Tudo para “manter valores da empresa e processos tradiciona­is”, explica. “Não dá para reinventar o boi”, diz Levorin.

A proposta pode soar um tanto anacrônica, e uma visita ao salão cuidadosam­ente decorado, com toalhas brancas e serviço formal pode contrastar com a ideia que algumas pessoas têm de um churrasco, mas a casa mantém seu apelo. Prova disso é que os dois endereços estão sempre cheios e lá são servidas 4,8 toneladas de carnes por mês.

Assim, os clássicos continuam dominando o menu.

Se é para falar em tradição, talvez poucos restaurant­es do mundo ainda sirvam o que o Rodeio chama de beef tea (R$ 75). Trata-se de um caldo preparado com carnes e ossos longamente cozidos com temperos e que remete aos “bouillons”, sopas restaurado­ras que estavam no surgimento dos primeiros restaurant­es, na França. O caldo chega na xícara, quente, quase translúcid­o e dá uma impressão de leveza, mas é encorpado, tem toque picante e parece preencher o estômago, energizand­o imediatame­nte.

Entre as carnes, a costela de boi (R$ 248) é macia e suculenta, daqueles cortes que se desfazem no garfo e cujo sabor se espalha pela boca.

O prato mais famoso da casa é a picanha fatiada (R$ 298). Servida bem fina, ela perde o apelo de textura e de ponto mais mal passado que tem sido valorizado por casas mais contemporâ­neas em cortes grossos, mas ganha sabor pelos toques de carameliza­ção dos dois lados e fica bem saborosa. A carne é finalizada no salão, em pequenas parrillas de inspiração argentina instaladas no centro do restaurant­e, mas cuidadosam­ente planejadas para evitar que a fumaça se espalhe.

Também tem clássico entre as sobremesas. O Rodeio volta décadas ao passado com um creme de papaia com cassis que foi moda em todo o país nos anos 1980 —e que pode surpreende­r quem acha que é um preparo ultrapassa­do. Gelado e com textura macia de um sorvete, tem um toque que lembra baunilha e é bem refrescant­e, fechando bem uma refeição cheia de carnes.

Uma das poucas inovações da casa é que ela atualmente oferece pratos mais pensados para clientes que não comem carne —mesmo que ainda sejam poucos. Além de saladas servidas com folhas e legumes picados e temperados, com texturas heterogêne­as e boa refrescânc­ia, a cozinha também oferece um risoto de brie e aspargos (R$ 155) que tem ganhado adeptos.

E é uma guarnição vegetarian­a que se destaca mesmo no meio de muitas carnes. O palmito assado (R$ 88) é capaz de valer a visita ao restaurant­e. Servido macio, tem sabor delicado e é acompanhad­o por manteiga e alcaparras.

A manutenção da repetida tradição faz com que o Rodeio tenha um público fiel, que frequenta a casa regularmen­te, conhece os garçons e se sente em casa no salão do restaurant­e, com uma relação quase familiar, segundo Levorin.

Não há dúvida de que o restaurant­e faz parte da história gastronômi­ca da cidade, mas se o cliente tiver limites financeiro­s, é bom olhar com atenção o menu e avaliar os custos de cada pedido para não se assustar. Uma refeição completa na casa pode passar facilmente de R$ 500 por pessoa.

Isso porque um almoço pode começar com couvert (R$ 45) para experiment­ar os deliciosos pães de queijo servidos quentinhos, incluir o beef tea (R$ 75) de entrada para conhecer o interessan­te caldo restaurado­r, e passar por uma salada mista (R$ 68).

De prato principal, não pode ficar de fora a famosa picanha fatiada para uma pessoa (R$ 298), que merece ser acompanhad­a pelo excelente palmito assado (R$ 88) e talvez de um popular arroz Rodeio, versão do popular biro biro com batata, cebola, ovo e bacon (R$ 88). Para finalizar, tem o creme de papaia (R$ 53).

É verdade que seria comida demais para uma pessoa só, mas daria um total de R$ 715, sem contar o serviço.

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Fotos Isadora Brant/folhapress Prime rib servido na churrascar­ia Rodeio, em São Paulo
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O tradiciona­l pamilto do restaurant­e

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