Folha de S.Paulo

Entenda como raia ficou ‘grávida’ em tanque só com tubarões

- Ana Bottallo são Paulo TODO MUNDO LÊ JUNTO Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáve­is e educadores com a criança

Nas últimas semanas, uma história curiosa chamou a atenção de especialis­tas, entusiasta­s da natureza e visitantes de um aquário em Hendersonv­ille, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Charlotte, uma fêmea de raia da espécie Urobatis halleri com idade estimada em 12 anos, apareceu “grávida” — sim, alguns peixes, como algumas espécies de raias e tubarões, carregam os filhotes na barriga que nem as mamães humanas, em um processo conhecido como viviparida­de.

O que poderia ser uma coisa comum, já que o aquário é conhecido por ter muitos animais que vivem e se reproduzem ali, intrigou os cuidadores, já que ela era a única da sua espécie no aquário, sem nenhuma raia macho que poderia ser o pai de sua prole.

A história da raia Charlotte é um caso raro de um fenômeno que os cientistas chamam de partenogên­ese. Essa palavra um pouco esquisita significa, em grego, “geração virgem”, ou seja, quando espécies animais se reproduzem sem que haja fecundação —ou o “namoro” entre eles.

A bióloga Patrícia Charvet, da Universida­de Federal do Ceará, explica que há alguns registros de partenogên­ese em raias e tubarões, principalm­ente em animais que vivem em cativeiro. “Como ela estava isolada num aquário sem nenhum macho da sua espécie há oito anos, acabou ocorrendo esse fenômeno”, disse.

Algumas pessoas até chegaram a apostar que nasceria um híbrido de raia e tubarão, já que um tubarãozin­ho de outra espécie vivia no mesmo aquário, mas isso não é possível, segundo a especialis­ta.

“Essas espécies são muito diferentes e as raias e tubarões têm uma reprodução que é espécie-específica, como se fosse uma chave e uma fechadura”, explica.

A maioria dos animais se reproduz de maneira sexuada, ao contrário de bactérias e fungos, que são assexuados. Isso significa que para produzir descendent­es, um macho e uma fêmea da mesma espécie se juntam. Esse processo ocorre pela fecundação do óvulo (da fêmea) pelo espermatoz­óide (do macho).

Na reprodução sexuada, metade do material genético dos filhotes vem da mãe (gameta feminino), e a outra metade do pai (gameta masculino).

Já na partenogên­ese, como no caso da Charlotte, o que ocorre é um processo de “falha” na divisão celular na hora de formar o gameta feminino, gerando os filhotes que são geneticame­nte muito parecidos com a mãe, diz Patrícia.

“Podemos esperar raias que são uma versão ‘mini’ da Charlotte”, afirma.

O zoólogo e professor da Universida­de Federal de São Paulo, campus da Baixada Santista, André Casas explica que a partenogên­ese não é a mesma coisa que uma clonagem. “Ela é uma estratégia que visa a reprodução da espécie quando não há condições adequadas para que haja a reprodução sexuada, como estresse. É importante diferencia­r de uma clonagem.”

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Reprodução/teamecco no Instagram Charlotte em seu aquário

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