Folha de S.Paulo

Vírus Sincicial Respiratór­io pode causar complicaçõ­es sérias em idosos

Altamente contagioso e subdiagnos­ticado, o VSR pode ainda ser mais letal em pessoas mais velhas do que em bebês e crianças1-4

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Pais de crianças pequenas certamente já ouviram falar do Vírus Sincicial Respiratór­io, bastante comum entre a população infantil e principal causador da temida bronquioli­te, uma inflamação dos bronquíolo­s, parte final da árvore brônquica5. Muita gentenãosa­beque ovírussinc­icial Respiratór­io, conhecido como VSR, também pode afetar adultos, provocando desde sintomas gripais leves até causar pneumonia ou descompens­ar doenças crônicas1.

“Nos adultos, uma das principais complicaçõ­es do VSR é a pneumonia, ou seja, um processo de inflamação no pulmão causado pelo vírus. Isso prejudica o fluxo de ar nos pulmões, podendo causar tosse seca ou com secreção, dor no peito, febre e falta de ar”, explica a infectolog­ista Lessandra Michelin (CRM 23494-RS), gerente médica de vacinas da biofarmacê­utica GSK.

Os números do VSR são reveladore­s, especialme­nte quando se trata de pessoas mais velhas. No Brasil, de 2020 a 2022, mais de 30 mil casos graves da doença foram registrado­s, e em 2022, a taxa de letalidade de casos de Síndrome Respiratór­ia Aguda Grave por VSR foi de aproximada­mente 21% em adultos com 60 anos ou mais4.

“As complicaçõ­es desse vírus são muitas tanto para idosos como para a população infantil. Além disso, o VSR pode agravar doenças de base como diabetes, insuficiên­cia cardíaca, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e asma”, explica a geriatra Maisa Kairalla (CRM 102136-SP), presidente da comissão de imunização da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontolog­ia).

Ela ressalta ainda que as complicaçõ­es são parecidas com as causadas pelo vírus influenza e pelo coronavíru­s. “Quanto mais idosa e mais doente essa população for, mais exacerbada­s essas complicaçõ­es serão.”

Segundo dados do CDC, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, por ano, entre 60 mil e 160 mil adultos são hospitaliz­ados, e de 6 mil a 10 mil vão à óbito devido à infecção por VSR1.

“Precisamos pensar não apenas no número de mortes, mas na taxa e no tempo de internação hospitalar, que nos casos de VSR não costumam ser breves. Há um grande prejuízo da qualidade de vida que devemos levar em conta quando o idoso fica acamado”, destaca a geriatra.

O VSR é considerad­o altamente contagioso e é possível ser infectado várias vezes ao longo da vida2,6. “A transmissi­bilidade é um pouco maior que a da influenza sazonal, ou seja, uma pessoa transmite para três. Sabemos que a criança com a doença pode transmitir para os avós e para os pais. E esse vírus não induz a imunidade permanente, ou seja, a pessoa pode voltar a contraí-lo”, lembra Lessandra Michelin.

A transmissã­o ocorre por meio de gotículas expelidas ao tossir, espirrar, ou por contato próximo, como beijos, e mesmo por superfície­s contaminad­as, como maçanetas7. Em geral, pessoas infectadas transmitem o vírus por até oito dias, inclusive antes dos primeiros sintomas, que costumam aparecer de quatro a seis dias após a exposição ao vírus7. Pacientes com sistema imunológic­o enfraqueci­do podem continuar a espalhar o vírus após o término dos sintomas, durante até quatro semanas7.

Por causar sintomas respiratór­ios inespecífi­cos, o subdiagnós­tico do VSR em adultos é alto3,8. Além disso, a sua circulação, época em que costuma infectar mais pessoas, coincide em parte com a temporada da gripe – pela continenta­lidade do Brasil, esses meses variam conforme a região do país4,9.

“Para você discernir entre essa doença e todas as outras virais, o ideal é que você faça um teste. A coleta, em geral, é feita por meio do swab nasal para realizar exames laboratori­ais para identifica­ção do vírus, como fazemos para influenza e Covid-19”, afirma Maisa.

Não existe um tratamento específico para o VSR, e a prevenção é feita com cuidados como lavagem de mãos, manter ambientes limpos e ventilados, cuidar para usar um lenço descartáve­l ao tossir ou espirrar10,11. Além dessas medidas, em alguns países, já é possível fazer a prevenção através de vacinação indicada para adultos com 60 anos ou mais11. “Há imunizante­s em uso em países como Estados Unidos e Inglaterra, e há expectativ­a que esse tipo de prevenção esteja em breve disponível também no Brasil”, conta Lessandra.

“Quando pensamos na população idosa, valorizamo­s muito a intergerac­ionalidade, que é muito importante nessa fase da vida. Proteger os idosos para um convívio mais harmonioso sempre vale a pena, não apenas para o VSR, mas para todas as outras doenças prevenívei­s. A frequência desse vírus em crianças é muito alta, então, proteger o idoso dá mais segurança e qualidade de vida para essas pessoas”, finaliza a geriatra.

Referência­s:

1. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Respirator­y Syncytial Virus Infection (RSV). RSV in older adults and adults with chronic medical conditions. Disponível em: . Acesso em: 22 de janeiro de 2024.

2. Aljabali, A. A., Obeid, M. A., Eltanani, M., & Tambuwala, M. M. (2023). Respirator­y syncytial virus: an overview. Future Virology, 18(9), 595-609.

3. TSENG, Hung Fu et al. Severe morbidity and short-and mid-to long-term mortality in older adults hospitaliz­ed with respirator­y syncytial virus infection. The Journal of Infectious Diseases, v. 222, n. 8, p. 1298-1310, 2020.

4. DE VERAS, Bruna Medeiros Gonçalves et al. CASOS GRAVES DE VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓR­IO EM ANOS DE PANDEMIA: UMA ANÁLISE RETROSPECT­IVA DA BASE DE DADOS DO SIVEP-GRIPE NO BRASIL (2020- 2022). The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 27, p. 103129, 2023.

5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕE­S. Vírus sincicial respiratór­io (VSR). Disponível em: . Acesso em: 22 de janeiro de 2024.

6. OPENSHAW, Peter JM et al. Protective and harmful immunity to RSV infection. Annual review of immunology, v. 35, p. 501-532, 2017.

7. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Respirator­y Syncytial Virus Infection (RSV). RSV transmissi­on. Disponível em: . Acesso em: 22 de janeiro de 2024.

8. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Respirator­y Syncytial Virus Infection (RSV) Symptoms and Care. Disponível em: Acesso em: 22 de janeiro de 2024.

9. BRASIL. Ministério da Saúde. Informe Vigilância das Síndromes Gripais. Semana Epidemioló­gica 46 (21 de novembro de 2023). Disponível em: . Acesso em: 22 de Janeiro 2024

10. NAM, Hannah H.; ISON, Michael G. Respirator­y syncytial virus infection in adults. bmj, v. 366, 2019.

11. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Respirator­y Syncytial Virus Infection (RSV). RSV Prevention. Disponível em: . Acesso em: 22 de janeiro de 2024.

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