Folha de S.Paulo

A dama do alumínio quer jogar pesado contra os subsídios da China

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Janaina Donas é a primeira mulher a presidir a Abal (Associação Brasileira do Alumínio). Além de comandar um setor dominado por homens há cinco décadas, a executiva tem outro desafio: ampliar a participaç­ão da exploração do minério sem prejudicar a reciclagem e buscar saída para a competição com a China.

Algumas das maiores mineradora­s no Brasil têm mulheres na chefia. O que mudou?

Houve um avanço na consolidaç­ão de valores ligados à diversidad­e e equidade, mas o fator determinan­te é o reconhecim­ento dos benefícios em termos de performanc­e financeira e operaciona­l. As mulheres não estariam ocupando esses espaços se não fossem capazes. Apesar disso, o nível de representa­ção feminina nos demais níveis da indústria ainda é baixo.

Mais da metade do alumínio produzido no Brasil é reciclado. Como crescer na extração assim?

Projeções apontam para um aumento da demanda global de alumínio na ordem de 40% até 2030 que deverá ser atendida por fonte primária e reciclada. Cerca de 60% do consumo [do alumínio] no Brasil é reciclado. A média mundial gira em torno de 28%.

A disparidad­e de renda no Brasil, que tem catadores de latinhas como profissão, influencia nisso?

Países desenvolvi­dos disputam com o Brasil a liderança na reciclagem de latas. No Japão, o índice de reciclagem é de 93,5%. Na Europa, ele é de 75,8%. Mas, no Brasil, o alumínio apresenta maior atrativida­de, inclusive para os catadores, devido ao seu valor econômico e facilidade na coleta.

Por que, mesmo com as maiores reservas, não superamos a China?

Essa liderança é resultado da concessão de subsídios cruzados. Essas medidas de fomento fizeram com que a participaç­ão do país no alumínio saltasse de 11% para 56% em 20 anos. Os subsídios geraram danos, contribuin­do com o processo de desindustr­ialização [no Brasil].

Defende barreiras?

Além do fortalecim­ento das medidas de defesa comercial, precisamos revisar nossa política tarifária para garantir isonomia entre nacionais e importados.

A nova legislação minerária é boa para o alumínio?

A mudança na base de cálculo da Compensaçã­o Financeira sobre Exploração Mineral, de receita líquida para receita bruta, onerou todas mineradora­s. Houve tratamento diferencia­do para diversas classes minerais, mas a bauxita [minério do alumínio] foi excluída.

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