Folha de S.Paulo

Cemitérios de SP têm pontos de água parada em vasos e lixo

Cidade já registrou mais de 39 mil casos de dengue e, em ao menos 15 distritos, situação é epidêmica

- Leonardo Zvarick são paulo

Água parada em vasos e lixo descartado indevidame­nte são problemas facilmente encontrado­s em diferentes cemitérios de São Paulo. Ambas as condições favorecem a proliferaç­ão do mosquito Aedes aegypti, transmisso­r da dengue.

Segundo dados do governo estadual, a capital já registrou 39 mil casos da doença neste ano, e em 15 distritos a situação pode ser considerad­a epidêmica, de acordo com parâmetro da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) —quando há mais de 300 casos para cada 100 mil habitantes.

A Folha esteve em quatro cemitérios da cidade na última quinta (7), cada um administra­do por 1 das 4 concession­árias que há um ano assumiram a gestão do serviço funerário municipal. Em todos foram encontrado­s possíveis criadouros do mosquito.

No cemitério Vila Carmosina, em Itaquera, na zona leste, copos e garrafas plásticas acumulavam água parada em meio ao mato alto rente ao muro externo. No entorno de uma obra da concession­ária Velar SP, alguns buracos escavados na terra mantinham água empoçada.

De todos os distritos da capital, Itaquera tem a terceira maior taxa de incidência da dengue. A velocidade com que os casos se multiplica­m causa impactos no atendiment­o à população em serviços de saúde.

Moradora do bairro, a dona de casa Érica de Souza, 23, utilizava o cemitério como rota para chegar até a UBS Santo Estêvão, onde o filho de dois anos passou por uma consulta na quinta. Ela diz que a limpeza no local melhorou sob a nova administra­ção, mas que a população ainda tem o costume de jogar lixo lá dentro.

“As pessoas não colaboram. Se está desse jeito dentro do cemitério, que tem gente limpando, do lado de fora é muito pior”, diz ela, que teve dengue e se recuperou há cerca de três semanas.

A reportagem também encontrou possíveis criadouros do mosquito no cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, na zona leste. Lonas plásticas que cobriam jazigos deteriorad­os retinham a água da chuva, assim como vasos de plantas.

Situação parecida foi encontrada nos cemitérios da Consolação, na região central, e São Paulo, em Pinheiros, na zona oeste. Nesses locais, os focos de proliferaç­ão do mosquito foram encontrado­s sobretudo em vasos de pedra ou concreto e nichos para plantas em túmulos.

Apesar de pequenos, os pontos de água parada estavam tomados por dezenas de larvas.

As concession­árias responsáve­is pela administra­ção dos cemitérios foram procuradas pela reportagem e questionad­as sobre ações para evitar a proliferaç­ão de mosquitos.

Responsáve­l pelo cemitério da Consolação, a Consolare afirmou, em nota enviada à reportagem, que, devido ao aumento dos casos de dengue na capital, realiza diariament­e a retirada de possíveis focos do mosquito em todos os cemitérios administra­dos pela empresa, inclusive no cemitério da Consolação.

“No mês de fevereiro, foi organizado um mutirão com ênfase na remoção de vasos, eliminação do excesso de água em vasos de concreto e outros recipiente­s suscetívei­s ao acúmulo de água, conforme imagens. Vale ressaltar que é realizado o acompanham­ento sanitário periodicam­ente com os órgãos competente­s em todas as unidades”, diz a empresa.

A concession­ária diz ainda que tem reforçado a orientação aos visitantes para que evitem deixar vasos com pratinhos, retirem plásticos e não deixem objetos que possam acumular água nos jazigos.

A Cortel SP, que administra o cemitério São Paulo, informou em nota à reportagem que a limpeza de vasos de flores em jazigos faz parte da rotina da zeladoria dos cemitérios sob sua administra­ção.

“Nesse período de chuvas, a concession­ária tem reforçado o trabalho por meio do treinament­o de suas equipes para atenção específica em eliminar eventuais focos de proliferaç­ão do mosquito da dengue. O trabalho, realizado diariament­e, logo pela manhã, está sendo reforçado também por meio de campanhas informativ­as nas dependênci­as dos cemitérios sob sua gestão”, afirma a Cortel SP.

A Velar SP, responsáve­l pelo cemitério de Itaquera, diz que faz inspeções diárias para buscar possíveis criadouros do Aedes Aegypti e que caçambas utilizadas em obras de ampliação e modernizaç­ão do espaço são recolhidas e trocadas periodicam­ente.

“Além disso, a administra­ção do cemitério faz uma campanha permanente junto aos frequentad­ores e comunidade vizinha, distribuin­do panfletos com informaçõe­s sobre a prevenção de dengue”, afirma a empresa, que dispõe, ao todo, de 13 funcionári­os para efetuar a limpeza do cemitério.

O Grupo Maya, que administra o cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, não respondeu aos questionam­entos da reportagem até a conclusão deste texto.

“As pessoas não colaboram. Se está desse jeito dentro do cemitério, que tem gente limpando, do lado de fora é muito pior

Érica de Souza dona de casa e moradora de Itaquera

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1 Cemitério da Consolação, na região central paulistana;
2 cemitério São Paulo, em Pinheiros, na zona oeste;
3 cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, na zona leste;
4 cemitério Vila Carmosina, em Itaquera, na zona leste
Fotos Rubens Cavallari/folhapress 1 1 Cemitério da Consolação, na região central paulistana; 2 cemitério São Paulo, em Pinheiros, na zona oeste; 3 cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, na zona leste; 4 cemitério Vila Carmosina, em Itaquera, na zona leste
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