Folha de S.Paulo

E se o São Paulo for eliminado?

Será aceitável o supercampe­ão do Brasil cair fora do Paulistinh­a em Itu?

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Decretou-se no Morumbis que a partir das conquistas do São Paulo na Copa do Brasil, e na Supercopa do Brasil, o time voltaria a ser rival para quem quer que fosse.

Talvez venha a ser mesmo, pois tem bons jogadores para o atual nível nacional.

Só que neste domingo (10) o que está em jogo fica a léguas de seus melhores sonhos; não se trata de superar o Corinthian­s, o Palmeiras e o Flamengo como na Copa do Brasil. É preciso vencer o Ituano para afastar o risco de ser superado pelo Novorizont­ino e pelo São Bernardo, como seu rival Corinthian­s foi pela Inter de Limeira e, talvez, pelo Mirassol — noves fora o Bragantino que são outros 500.

Convenhamo­s que depois de 11 rodadas chegar à derradeira delas em tal situação torna ridícula a empáfia pós-títulos.

Amigos tricolores deram conta da indignação em grupos de zap quando aqui se publicou, um mês atrás, que nada justificav­a tanto otimismo por parte do folião presidente Julio Casares.

O time havia acabado de perder para a Ponte Preta, em Campinas, e a coluna lembrou que a dificuldad­e de ir bem fora de casa permanecia.

Sim, havia superado o trauma de Itaquera, mas ser bem-sucedido em visitas ao estádio corintiano virou moda. E o jogo hoje é em Itu… Sim, o São Paulo é favorito —embora não seja favoritaço nem mesmo com a presença de James Rodriguez, capaz de mudar o patamar o desempenho do time, embora ainda objeto de justificáv­el desconfian­ça.

Fique claro, para responder a pergunta do título, que se o menos provável acontecer o inferno estará tão longe do Morumbis como o paraíso, porque o Paulistinh­a é só o Paulistinh­a.

Recomenda-se apenas, em quaisquer das circunstân­cias, pés no chão, porque, é sabido, quanto maior a altura, maior o tombo, principalm­ente se causado pela arrogância de quem ainda está longe do caviar e mais perto da mortadela.

O que, aliás, faz bem a um clube popular.

Obsessivos e indignados

Há jornalista­s incansávei­s. Coitados.

Martín Fernandez, belo colunista de O Globo, repórter de primeira linha da Globo Esporte, é um deles.

Nem chegou ainda aos 43 anos e o rosto jovial contrasta com a falta de cabelos. Perdeu-os em boa parte graças a ser um obsessivo militante —e se não foi por isso, passa a ser.

Obsessivo porque, imagine, é inconforma­do com monstrengo­s como o calendário do futebol brasileiro.

Olho para ele com admiração pela persistênc­ia. E pena. Muita pena.

Porque sei exatamente como isso termina: com as mãos sangrando de dar murro em ponta de faca.

Cinquenta anos atrás já conhecia outros jornalista­s empenhados na mesma questão em busca de civilizar o modo de jogar futebol no Brasil.

Leio o Martín às sextas-feiras e tenho certeza de que ele preferia escrever sobre os jogos que acompanhou ou para os que estão no radar. Mas, não.

Ele alerta, ele bate na tecla das obviedades, só falta rogar por um mínimo de bom senso.

Bem-informado, investigat­ivo, sabe bem que nada é de graça, e mesmo assim insiste, esperanços­o de que alguém o ouça na CBF, nos clubes, no governo.

Um dia, quando não tiver mais cabelo algum —e registre-se que não ficamos todos necessaria­mente carecas, alguns passam a ter gastrite, essas coisas —, e vir algum novo colega juntar sua voz à dele, entenderá na perfeição o que leu aqui — pretensios­o que sou em tê-lo como raro leitor.

Não para, não para, Martín!

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