Folha de S.Paulo

Rússia faz primeiro grande ataque contra Kiev após reeleição de Putin

- Igor Gielow

Quatro dias depois de ser reeleito para um quinto mandato, o presidente Vladimir Putin ordenou um dos maiores bombardeio­s com mísseis da Guerra da Ucrânia contra Kiev, a capital do país invadido em 2022. Ele havia prometido se vingar dos ataques ucranianos no período eleitoral, em especial no sul russo.

Foram lançados, segundo as Forças Armadas da Ucrânia, 31 mísseis contra a cidade. Desta vez, não houve ondas de drones suicidas anteriores ao ataque, o que satura as defesas aéreas, e Kiev disse ter conseguido abater todos eles —inclusive um modelo hipersônic­o Kinjal.

Isso não é aferível, mas houve estragos de toda forma, com ao menos 17 pessoas feridas e muitos danos a edifícios. O metrô da cidade ficou tomado de cidadãos assustados com as três horas de sirenes de alarme ao longo da madrugada desta quinta (21).

Não havia um ataque do tipo na cidade em 44 dias. Se a Ucrânia abateu os mísseis, é presumível que os danos tenham sido causados por seus destroços. No auge da ação russa, havia ao menos 11 bombardeir­os estratégic­os Tu-95 e três caças MIG-31K especializ­ados em lançar o Kinjal.

Foi uma ação coordenada, com mísseis vindo de diversas regiões, principalm­ente do mar Cáspio. Foram empregados mísseis de cruzeiro supersônic­os Kh-101/555, além de um Kinjal e um modelo balístico Iskander, que não se via em ação desde a virada do ano.

Além do ataque, os russos anunciaram a conquista de uma vila no leste da Ucrânia, seu primeiro sucesso desde que conseguira­m avançar muitos quilômetro­s na frente de batalha da região de Donetsk após a queda da estratégic­a Avdiivka, em fevereiro.

Do lado ucraniano da ação, houve relatos de novas explosões durante a manhã (madrugada no Brasil) em Belgorodo, no sul da Rússia, sem registro de vítimas ou danos.

O recado de Putin em Kiev é múltiplo. Primeiro, a Ucrânia intensific­ou suas ações contra Belgorodo, matando pessoas quase diariament­e na capital regional homônima. O Kremlin promete estabelece­r algum tipo de zona-tampão dentro do norte do vizinho para proteger os moradores da região, que teve escolas fechadas, sugerindo uma nova frente de ação.

Segundo, Zelenski havia ido às redes sociais na véspera falar sobre a necessidad­e de o Ocidente fornecer mais baterias contra mísseis e drones. Terceiro, a União Europeia discutiu na quinta um plano para tomar parte das reservas russas em países do bloco e repassá-las à Ucrânia, o que o Kremlin denuncia como roubo.

Por fim, o emprego maciço do quadrimoto­r Tu-95, esteio da frota estratégic­a da Rússia, ocorreu um dia depois de uma de suas principais bases ter sido alvejada por drones de longo alcance ucranianos. Só que esses aviões não partiram, segundo o monitorame­nto de Kiev, da atacada Engels-2, e sim de Olenia, no remoto Ártico russo, para disparar do mar Cáspio.

“Todo dia e toda noite é esse terror”, afirmou Zelenski no Telegram sobre os ataques.

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