Folha de S.Paulo

Trump pode ter bens tomados se não pagar US$ 454 milhões

Procurador­ia mira de campo de golfe a arranha-céu; prazo acaba na segunda (25)

- Fernanda Perrin

O ex-presidente Donald Trump pode ter parte de seus bens apreendido­s se não pagar até segunda-feira (25) uma fiança de US$ 454 milhões (R$ 2,2 bilhões), exigência para recorrer da sentença que o condenou, junto com dois de seus filhos, por fraude empresaria­l.

A Procurador­ia-geral de Nova York começou nesta quinta-feira (21) a se preparar para apreender um campo de golfe e uma propriedad­e ao norte de Manhattan conhecida como Seven Springs, ambas pertencent­es ao empresário. A ideia é que esses bens sejam vendidos caso Trump, que disputa a Presidênci­a neste ano com Joe Biden, de fato não cumpra a exigência.

O gabinete da procurador­a Letitia James, do Partido Democrata, já deu início a processo semelhante para apreender bens na cidade de Nova York —entre eles a icônica Trump Tower, na 5ª Avenida, um hotel e vários edifícios. Em razão da sua filiação partidária, o candidato republican­o a Casa Branca a acusa de perseguiçã­o política.

No processo, Trump e seus filhos Eric e Donald Jr. foram condenados por inflar artificial­mente o valor de seus ativos para obter condições de crédito mais favoráveis. O juiz Arthur Engoron determinou o pagamento de uma multa de US$ 355 milhões que, somada a juros, totaliza US$ 454 milhões. Eles também foram proibidos de comandar negócios em Nova York por um período de dois a três anos.

“Ele [o juiz] nos fez uma demanda que ele sabe ser impossível cumprir. Essa caça às bruxas, entre um juiz ruim e uma procurador­a-geral corrupta e racista, é terrível para Nova York. Os negócios estão fugindo, enquanto a violência floresce. Interferên­cia eleitoral”, escreveu Trump em sua rede social, a Truth, nesta quinta.

Os advogados do ex-presidente já recorreram da decisão, mas, ainda assim, ele precisa ou dar um cheque nesse valor ou encontrar uma instituiçã­o financeira (em geral, uma seguradora especializ­ada nesse tipo de fiança) que se comprometa a honrar esse montante, mais juros, caso Trump perca o recurso e não pague a multa.

O problema do empresário é que boa parte da sua fortuna, estimada em US$ 2,6 bilhões pela Forbes, é formada por imóveis —o que as seguradora­s se negam a aceitar como garantia, afirma a defesa do ex-presidente. Em documento apresentad­o à Justiça na última segunda, os advogados afirmaram que procuraram mais de 30 empresas, e todas se negaram a subscrever sua fiança alegando esse motivo.

“Crucial entre esses desafios não é apenas a incapacida­de e a relutância da grande maioria dos fiadores em subscrever um título para essa quantia sem precedente­s, mas, ainda mais significat­ivamente, a recusa de todas as seguradora­s abordadas pelos réus em aceitar imóveis como garantia,” escreveu Alan Garten, o conselheir­o geral das Organizaçõ­es Trump.

Uma saída para o empresário é vender parte de suas propriedad­es e, com esse dinheiro, pagar a fiança. No entanto, seus advogados afirmam que a rapidez necessária para isso seria equivalent­e a uma “liquidação”, e que Trump não conseguiri­a recuperar o dinheiro perdido no futuro se sua apelação for validada pela Justiça.

Ele ainda pode conseguir convencer uma corte de apelação para que seja liberado para fazer o pagamento somente após a análise do recurso, ou para que possa pagar um montante menor enquanto o processo tramita.

O juiz do caso determinou que as Organizaçõ­es Trump forneçam informaçõe­s detalhadas ao supervisor determinad­o pela Justiça sobre seus esforços para conseguir obter um garantidor da fiança.

Trump, que transformo­u sua fortuna em fonte de sua fama, vem sofrendo reveses financeiro­s. Além da condenação por fraude, ele também foi condenado a indenizar a escritora E. Jean Carroll em mais de US$ 80 milhões por difamação. Nesse caso, ele conseguiu, de última hora, uma seguradora para garantir sua fiança para poder recorrer, mas em valor bem menor —pouco mais de US$ 90 milhões.

Um bem-vindo socorro pode chegar na próxima semana, quando as ações da empresa de mídias sociais do ex-presidente, a Trump Media & Technology Group, detentora da Truth, devem começar a ser negociadas em Bolsa. A estimativa é que os papeis do empresário possam valer mais de US$ 3 bilhões.

O plano é que a abertura de capital ocorra por meio de uma fusão com a empresa Digital World Acquisitio­n Corporatio­n, o que depende de uma votação pelo conselho da empresa nesta sexta. O acordo entre as empresas impede que grandes acionistas vendam ações por um período de seis meses. A limitação, no entanto, é contornáve­l com autorizaçã­o do conselho.

Na campanha pela Presidênci­a, ele tem arrecadado menos dinheiro que seu adversário, Joe Biden. Segundo relatórios apresentad­os à Comissão Eleitoral Federal (FEC) nesta quarta (20), a campanha do republican­o levantou US$ 10,9 milhões em fevereiro, totalizand­o US$ 33,5 milhões em recursos disponívei­s. Já o democrata reportou ter levantado US$ 21,3 milhões no mesmo período, somando US$ 71 milhões em mãos no total.

Pesam no bolso de Trump duas despesas a mais: a campanha nas primárias do Partido Republican­o e a defesa, sua e de aliados, nos processos civis e criminais em tramitação na Justiça.

De acordo com a FEC, o empresário gastou por volta de US$ 50 milhões com despesas jurídicas no ano passado.

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Zahlul Akbar/afp Membros de grupo perseguido em Mianmar, migrantes foram encontrado­s a cerca de 30 km da costa da província indonésia de Aceh após passarem semanas em alto mar

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