Folha de S.Paulo

França não deve doar para Fundo Amazônia

Pedido foi feito pelo governo Lula; europeus falam em contribuir financeira­mente a partir de outros instrument­os

- Nathalia Garcia Ricardo Della Coletta Brasília

Apesar de pedido do governo Lula (PT), a França não planeja anunciar doação para o Fundo Amazônia, o principal mecanismo de financiame­nto de ações de preservaçã­o no bioma, durante a visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil.

Segundo uma fonte da diplomacia francesa, sob condição de anonimato, os europeus não planejam utilizar o Fundo Amazônia como principal vetor de investimen­to nessa área, mas privilegia­r outros instrument­os para doações e empréstimo­s tanto com dinheiro público como privado para ações voltadas ao meio ambiente.

Lançado em 2008, o Fundo Amazônia funciona com pagamentos baseados em resultados de conservaçã­o da floresta. Ele tem a Noruega como o principal doador e ficou praticamen­te paralisado durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL). Com a vitória do presidente Lula, outros países anunciaram aportes no mecanismo.

A Noruega é o país que de longe mais contribuiu com o fundo desde a sua criação, com num total de quase R$ 3,2 bilhões. Em segundo lugar, vem a Alemanha (R$ 299 milhões).

Quando chegou ao Palácio do Planalto pela terceira vez, o governo Lula aproveitou reuniões com autoridade­s internacio­nais para empoderar o fundo. Houve promessas de doação dos Estados Unidos, Reino Unido, Dinamarca, União Europeia, Japão e Suíça. Os doadores tradiciona­is, Noruega e Alemanha, fizeram ainda compromiss­os adicionais.

De acordo com pessoas que acompanhar­am as tratativas, o governo Lula chegou a pleitear à França para tentar emplacar um anúncio para o Fundo Amazônia na ocasião da visita de Macron.

Em fevereiro de 2023, a então chanceler francesa, Catherine Colonna, disse em passagem pelo Brasil que a França estudava a possibilid­ade de contribuir para o Fundo Amazônia.

Segundo relatos ouvidos pela Folha, os negociador­es da França colocaram óbices para atender ao pedido brasileiro. Eles sinalizara­m disposição de contribuir com um fundo para preservaçã­o ambiental vinculado à ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas), sob o argumento de que os recursos poderiam também ser destinados para ações de proteção da biodiversi­dade e de combate à pobreza.

O lado brasileiro viu com ressalva essa possibilid­ade, por considerar que o Fundo Amazônia já tem a governança adequada para o financiame­nto mais eficiente em ações de preservaçã­o, além de ter apresentad­o resultados positivos ao longo da sua história.

Macron realiza na próxima semana uma visita de três dias ao Brasil. Ele desembarca em Belém no dia 26, vindo da Guiana Francesa (território do país europeu). Também passa por Itaguaí (RJ) —para visitar o estaleiro onde ocorre a cooperação entre os dois países em submarinos—, São Paulo e Brasília.

A agenda em Belém, sede da COP30 no ano que vem, tem forte componente ambiental. Entre os compromiss­os, há uma reunião de Macron e Lula com o cacique Raoni e outras lideranças indígenas.

Ao ser questionad­a sobre o Fundo Amazônia, a fonte da diplomacia francesa disse que o país pretende centrar esforços de cooperação em outros mecanismos.

Ela citou maior engajament­o da AFD (Agência Francesa de Desenvolvi­mento), destacando o papel da instituiçã­o em parcerias com organismos brasileiro­s, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) e o Basa (Banco da Amazônia).

Em outubro do ano passado, a AFD assinou um memorando de entendimen­to com o BNDES visando apoiar conjuntame­nte até 500 milhões de euros em projetos no Brasil. Entre os objetivos, estava a criação e implementa­ção de novos instrument­os para atuação do banco de fomento brasileiro em finanças sustentáve­is e climática.

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