Folha de S.Paulo

Leila Pereira questiona silêncio de jogadores sobre casos de estupro

- Com Catia Seabra, de Brasília

A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, questionou, nesta quinta-feira (21), o silêncio do mundo do futebol sobre as condenaçõe­s por estupro de Robinho e Daniel Alves, referindo-se a estes casos como “um tapa na cara” das mulheres.

A dirigente, uma das poucas mulheres no comando de um time da primeira divisão, está em Londres como chefe da delegação da seleção brasileira, que disputa um amistoso contra a Inglaterra no estádio de Wembley, no próximo sábado (23).

“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves”, disse ao UOL.

“Isso é um tapa na cara de todas nós, mulheres, especialme­nte o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, acrescento­u.

Leila Pereira foi nomeada chefe da delegação pela CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol) para os dois amistosos que serão disputados na Europa este mês. O jogo seguinte será na próxima terça-feira (26), contra a Espanha, em Madri.

Até o momento a CBF não se pronunciou sobre as sentenças dos dois ex-jogadores de 40 anos. Tampouco seus ex-companheir­os de equipe ou clubes em que jogaram.

Na quarta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o pedido de liberdade condiciona­l feito pela defesa de Daniel Alves. “Estamos sabendo agora que o Daniel Alves pode ser libertado se pagar alguma coisa”, afirmou ao lado da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.

“Apreendi lá em Pernambuco que as pessoas diziam ‘aqui no Nordeste quem tem 20 contos de réis’ não é preso. Essa máxima continua”, afirmou ele.

Nesse momento, Janja cochichou no ouvido do marido que isso é crime. Lula repetiu: “Isso é crime. O dinheiro que o Daniel Alves tem, o dinheiro que alguém possa ter, não pode comprar a dignidade da ofensa que um homem faz a uma mulher praticando estupro”, completou.

O ex-jogador brasileiro, condenado a quatro anos e meio de prisão pelo estupro de uma jovem de 23 anos em uma boate em Barcelona, poderá ser libertado provisoria­mente se pagar fiança de € 1 milhão, equivalent­e a R$ 5,5 milhões.

A decisão judicial coincidiu com o dia do julgamendo de Robinho feito pelo Superior Tribunal de Justiça.

A corte decidiu que o ex-atacante Robinho, condenado pela Justiça italiana, deverá cumprir no Brasil sua pena de nove anos de prisão por um estupro coletivo a uma jovem na Itália em 2013.

A decisão acata um pedido italiano para homologaçã­o da condenação imposta em 2017 e ratificada em 2022.

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