Folha de S.Paulo

Novo ‘Matador de Aluguel’ serve um bufê de músculos em lutas violentas

Longa de ação com Patrick Swayze, de 1989, ganha um remake com o ator Jake Gyllenhaal e o lutador Conor Mcgregor

- João Perassolo

Jake Gyllenhaal tira a camisa e exibe o peitoral torneado por meses de academia. A plateia do cinema grita. Minutos mais tarde, Dalton, personagem interpreta­do por ele, troca socos em velocidade alucinante com Knox, bandido vivido por Conor Mcgregor. Vidrados na tela do cinema, os 1.200 espectador­es aplaudem, como se presencias­sem uma luta real.

Foi uma histeria coletiva a estreia de “Matador de Aluguel” em Austin, nos Estados Unidos, dentro da programaçã­o do festival South by Southwest, no início deste mês. O filme, que pulou os cinemas e chegou direto ao Amazon Prime Video nesta quinta-feira, é uma refilmagem do longa de mesmo nome de 1989.

Refilmagem talvez não seja o melhor termo, mas sim “reimaginaç­ão”, como disse Gyllenhaal. No original, Patrick Swayze vive um ex-filósofo que vira segurança de um bar barra pesadíssim­a no interior do estado americano do Missouri — as brigas dos clientes são tão intensas que a banda é obrigada a tocar atrás de grades para fugir das garrafas que voam.

Na nova versão, o bar foi transferid­o para um cenário paradisíac­o na Flórida e o segurança, protagonis­ta interpreta­do por Gyllenhaal, é um ex-lutador de vale-tudo que deixa o ringue de lado para o que promete ser uma vida mais tranquila e com mais dinheiro à beira da praia. Tanto no filme de 1989 quanto no de agora o personagem é de poucas palavras. Até explodir.

A principal diferença entre os filmes é que o novo preza a cartilha progressis­ta. Se no original o elenco era todo branco e americano, no de agora há negros e latinos. O diretor da versão atual, Doug Liman, também cortou a cena de sexo e outra em que um personagem paga para passar a mão nos seios de uma mulher, além de diminuir o consumo de álcool em cena. É tudo mais palatável, sem a estética brucutu do longa de 1989.

Em contrapart­ida, o espectador de hoje ganha um bufê de músculos na tela e uma sequência em que a câmera foca a bunda de Mcgregor —além de muito mais violência. As lutas, numerosas, são longas e cheias de ação, como em jogos de videogame. Numa delas, impression­ante, a câmera em primeira pessoa põe o espectador na pele do personagem de Mcgregor.

Fora isso, a versão do Prime Video tem humor e boas piadas, enquanto a primeira se levava a sério, o que torna o novo “Matador de Aluguel” um filme de ação com doses de comédia. O longa que estreou nesta quinta “é feito para o espectador de hoje e é para ser divertido, alegre e louco”, afirma Gyllenhaal, em entrevista num hotel, em Austin.

“O original, quando saiu, não foi um sucesso, mas daí achou seu público e virou um cult. O novo é totalmente diferente, e espero que seja respeitoso com o primeiro.”

Sorridente, Gyllenhaal lembra que trabalhou com Patrick Swayze no longa “Donnie Darko”, de 2003, e diz ser um fã do ator, que morreu de câncer em 2009. “Realmente pensei muito nele. Acho que ele se divertiria comigo fazendo o personagem.”

A atuação de Gyllenhaal é exemplar —no papel de Dalton, ele transita com segurança pela seriedade, o humor e a ironia, mantendo seu personagem sempre com um meio sorriso no rosto. Vivendo uma enfermeira, a portuguesa Daniela Melchior faz seu par romântico, mas a história de amor não chega a decolar.

“Matador de Aluguel” também marca a estreia de Conor Mcgregor atrás das câmeras. O irlandês faz um bandido meio bobalhão que rouba a cena com suas palhaçadas e sua destreza nas brigas contra o personagem de Gyllenhall. Lutador, Mcgregor conta que ensinou para o elenco a mecânica correta dos socos e chutes para os combate serem mais realistas.

“Isso foi tudo o que eu trouxe”, ele diz, acrescenta­ndo que achou mais difícil atuar do que imaginava. “Não era só sentar e decorar as falas. Você está lutando em uma lancha no meio do oceano Atlântico”, afirma, o rosto parcialmen­te escondido por um boné. Mcgregor conta que não pretende seguir a carreira de ator.

Quem via o delírio na sala de cinema e a gritaria do lado de fora, quando o elenco chegava para a estreia, pode não imaginar que “Matador de Aluguel” chega ao streaming em meio a polêmicas. O diretor do filme, em um artigo para o site Deadline, se disse traído pelo fato de a Amazon disponibil­izar a produção direto em seu serviço de streaming, pulando as salas de exibição.

Os outros dois imbróglios foram levantados pelo roteirista do filme original, R. Lance Hill. Segundo ele, a Amazon teria usado inteligênc­ia artificial para replicar a voz de alguns dos atores durante a greve de Hollywood no ano passado e, além disso, não teria licenciado o roteiro com ele — por causa disto, Hill tenta na Justiça barrar a exibição do filme, até agora sem sucesso.

“O processo movido por R. Lance Hill é completame­nte sem mérito, e inúmeras alegações são categorica­mente falsas. O filme não usa inteligênc­ia artificial no lugar das vozes dos atores”, afirma a Amazon.

O jornalista viajou a convite do Amazon Prime Video

Matador de Aluguel

Estados Unidos, 2024. Direção: Doug Liman. Com: Jake Gyllenhaal, Conor Mcgregor, Daniela Melchior e Jessica Williams. 16 anos. Disponível no Prime Video

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Divulgação O ator Jake Gyllenhaal e o lutador Conor Mcgregor, em cena de ‘Matador de Aluguel’, filme do Amazon Prime Video

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