Folha de S.Paulo

Haddad quer agrupar projetos para regulament­ar tributária

Objetivo é facilitar tramitação; Fazenda quer enviá-los na 1ª quinzena de abril

- Adriana Fernandes brasília

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer reduzir o número de projetos que serão encaminhad­os ao Congresso para a regulament­ação da reforma tributária.

A proposta é juntar num único projeto de lei complement­ar as normas do Imposto Seletivo e dos dois novos tributos que serão criados, a CBS (Contribuiç­ão sobre Bens e Serviços) federal e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de estados e municípios.

O segundo agruparia a regulament­ação do Comitê Gestor do IBS e as novas regras para regular o chamado processo administra­tivo fiscal, que trata dos contencios­os entre contribuin­tes e fiscos. Ou seja, o Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais).

A proposta inicial era enviar os quatro temas em projetos em separado, mas Haddad já sinalizou à equipe do Ministério da Fazenda que pode juntar as propostas em dois projetos para facilitar a tramitação, segundo auxiliares do ministro ouvidos pela Folha.

Para alguns integrante­s da pasta, colocar no mesmo texto os tributos sendo criados faz sentido porque o Imposto Seletivo (mais conhecido como imposto do pecado) está conectado com a CBS.

Os dois serão cobrados pelo governo federal. Se a carga tributária do Imposto Seletivo for maior, a da CBS poderá ser menor e vice-versa. Isso porque a reforma tem como princípio a neutralida­de em relação à carga atual.

Um terceiro projeto, ordinário (que exige quórum simples para aprovação), deverá ser enviado para regulament­ar o FNDR (Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Regional).

Neste caso, o texto é considerad­o muito simples porque a emenda constituci­onal da reforma já tratou da divisão entre estados dos recursos do fundo, que será bancado pelo governo federal para financiar investimen­tos nas regiões menos desenvolvi­das do país.

O martelo ainda não foi batido e depende de negociação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, na terça (19), instou Haddad a enviar logo os projetos para a definição dos relatores.

Em jantar com a FPE (Frente Parlamenta­r do Empreended­orismo), Lira voltou a cobrar e defendeu a aprovação no primeiro semestre.

Lira e Haddad ficaram de acertar o cronograma de votação, que ainda não foi divulgado. Há dúvidas entre aliados de Lira sobre a capacidade de a Fazenda entregar os projetos no início de abril, como se pensou inicialmen­te.

O prazo de envio, que tem sido comentado no Congresso, é maio, porque as propostas ainda têm que passar pelo crivo das áreas jurídicas.

Na Fazenda, a informação é que os canais jurídicos já estão acompanhan­do ou serão convidados a acompanhar a discussão sobre os textos antes de seu envio formal. A proposta é agilizar os processos com esse procedimen­to.

Lira quer aprovar a regulament­ação da reforma no primeiro semestre, em junho, aproveitan­do a janela de votação antes que o calendário das eleições municipais atrapalhe a tramitação.

O risco de a votação enfrentar mais dificuldad­es após as eleições municipais, período já próximo da corrida eleitoral para a presidênci­a da Câmara e do Senado, é apontado como mais elevado.

A informação publicada pela coluna Painel da Folha de que integrante­s do governo Lula têm dito que não há necessidad­e de os projetos serem aprovados em 2024, em razão da agenda legislativ­a lotada deste ano e do aperto do calendário por causa da eleição, acendeu a luz amarela para essas movimentaç­ões de bastidores em Brasília.

Preocupado com a possibilid­ade de o clima de ceticismo com a regulament­ação ganhar corpo, o próprio ministro disse à coluna, nesta quinta-feira (21), que é prioridade para o governo a aprovação da regulament­ação ainda em 2024.

A comissão de sistematiz­ação, criada pela Fazenda para sintetizar as propostas e definir o escopo geral dos projetos a serem apresentad­os ao ministro Haddad, ainda não recebeu as propostas de todos os 19 grupos. A comissão é coordenada pelo secretário extraordin­ário de Reforma Tributária, Bernard Appy. Os seus integrante­s assinaram termo de confidenci­alidade para integrar a comissão.

O prazo para envio das propostas à comissão era dia 15. Alguns dos grupos estão tendo debates mais acalorados e não chegaram a consenso.

Um deles é o que trata das regras para a Zona Franca de Manaus e da forma de operaciona­lização dos créditos tributário­s dos novos impostos via o sistema split payment —o valor do imposto é recolhido automatica­mente. E o crédito do imposto para o fornecedor vai direto para ele. Mas a regulament­ação mais polêmica é a do Imposto Seletivo.

Pessoas que participam das discussões na Fazenda disseram à Folha que o objetivo é mandar o quanto antes os projetos, já na primeira quinzena de abril. O clima é de exaustão, com os técnicos trabalhand­o todos os dias até a madrugada.

As propostas dos grupos de trabalho deverão ser concluídas nesta semana. Para itens que eventualme­nte não tenham alcançado consenso, o dissenso será explicitad­o e caberá à comissão sistematiz­adora decidir. Se a comissão também não alcançar consenso, será adotado o mesmo procedimen­to. Ou seja, a palavra final será de Haddad.

No Congresso, já foram protocolad­os dois projetos que tratam da regulament­ação da reforma preparados pelos grupos paralelos criados pela FPE —um deles sobre o Imposto Seletivo. Segundo o diretor da FPE, João Henrique Hummel, que organizou os grupos, o próximo projeto a ser apresentad­o será para a definição dos produtos da cesta básica, que serão desonerado­s. Para ele, caberá a Lira decidir se os projetos dos parlamenta­res serão apensados ao do governo.

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Divulgação Haddad fala com o ministro da Economia e das Finanças de Benin, Romuald Wadagni

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