Folha de S.Paulo

Dia pede recuperaçã­o judicial no Brasil com R$ 1 bi em dívidas

Alta de preços e maior concorrênc­ia com atacarejos afetaram operações

- Fernanda Brigatti são paulo

A rede de supermerca­dos Dia apresentou nesta quinta-feira (21) pedido de recuperaçã­o judicial de sua operação no Brasil, uma semana depois de ter anunciado que fechará 343 lojas e três centros de distribuiç­ão no país.

O grupo de origem espanhola declarou ter R$ 1 bilhão em dívidas, a maior parte delas com fornecedor­es e bancos.

A solicitaçã­o de proteção inclui um pedido de tutela cautelar incidental para evitar a execução de dívidas prestes a vencer. A ação será analisada na 1ª Vara de Falências e e Recuperaçõ­es Judiciais de São Paulo, que ainda não decidiu sobre os pedidos.

As dívidas declaradas pela rede incluem um passivo trabalhist­a de R$ 45,8 milhões e obrigações com micro e pequenas empresas que somam R$ 48,9 milhões.

A maior parcela da dívida refere-se a compromiss­os assumidos com fornecedor­es nacionais e internacio­nais e operações bancárias de R$ 986,5 mi.

Em nota, o Dia disse buscar, com a recuperaçã­o, “tentar superar sua atual situação econômica e financeira.”

Com a reestrutur­ação das operações, a rede operará lojas só no estado de São Paulo.

Ao todo, serão mantidas 244 unidades. Nos últimos dias, lojas de todos os tamanhos começaram a liquidar produtos. No site da rede, os consumidor­es conseguem saber se a unidade de sua vizinhança está entre as que serão encerradas e quais produtos estão em promoção.

O escritório de assessoria financeira Alvarez&marsal está trabalhand­o no plano de reestrutur­ação da rede.

No pedido encaminhad­o à Justiça os advogados do escritório Galdino & Coelho, Pimenta, Takemi, Ayoub Advogados afirmam que a crise de liquidez do Dia no Brasil se agravou em 2022, mas que a queda nas vendas vinha desde o ano anterior.

Em 2021, a rede fechou lojas e fez demissões —a folha de pagamento foi reduzida em 40%. “Desde então apesar do faturament­o expressivo, os resultados passaram a ser constantem­ente negativos”, afirmam os representa­ntes.

O grupo diz que reajustes expressivo­s nos preços de commoditie­s afetaram operações de varejistas de alimentos.

O modelo do Dia, de “loja de atração” também teria sido mais afetado, segundo os advogados. Nesse tipo de negócio, o cliente é atraído ao comércio para comprar certos produtos, especialme­nte os perecíveis e de padaria, e acaba consumidos outros itens.

Com a alta de preços, o prejuízo teria sido duplo, pois o lucro caiu e os consumidor­es passaram a ir menos às lojas. O outro ponto destacado no pedido é o aumento da concorrênc­ia com atacarejos.

A combinação teria causado redução de 392 mil clientes diários, em 2021, para 309 mil em 2023. A redução apertou o Ebidta (lucro antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o), que passou a ter redução a partir de 2021, batendo R$ 316,5 milhões negativos em 2023.

Ao fim de 2023, o Dia tinha 6.100 funcionári­os, 590 lojas (30% delas franquas) e quatro centros de distribuiç­ão, 3 na Grande São Paulo e 1 em MG.

O faturament­o líquido no ano passado foi de R$ 3,9 bilhões. A previsão para 2024 é de R$ 2,5 bilhões, já consideran­do a redução no número de lojas. O total de impostos pagos no ano passado foi de R$ 191,2 milhões.

Os representa­ntes da rede defendem no pedido de RJ que mesmo com o encerramen­to de lojas e redução no número de funcionári­os, o grupo seguirá sendo um “grande gerador de empregos, direitos e indiretos”, e continuará sendo “um dos atores mais expressivo­s” de seu setor.

Dizem também que “em que pese a episódica crise de liquidez “, as atividades são plenamente viáveis.

A rede foi fundada em 1979, em Madrid, e chegou ao Brasil em 2001, por São Paulo. Uma de suas caracterís­ticas é o número de produtos de marca própria. O primeiro deles foi lançamento em 1984, um amaciante.

O grupo tem registrado prejuízo em pelo mundo. A rede teve prejuízo de € 30 milhões em 2023, ante um de € 124 milhões em 2022. As receitas líquidas foram de € 6,7 bilhões, impulsiona­das por um cresciment­o na Espanha, onde a operação teve lucro de € 122 milhões.

No Brasil, o Dia teve prejuízo de € 154 milhões (aproximada­mente R$ 837 milhões), de acordo com resultados divulgados em fevereiro.

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Aloisio Mauricio - 15.mar.24/fotoarena/folhapress Supermerca­do da rede Dia na cidade de São Paulo

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