Folha de S.Paulo

EUA entram com processo contra a Apple por criar monopólio do iphone

Empresa diz que Departamen­to de Justiça está errado nos ‘fatos e na lei’; ações caem 4%

- Stefania Palma e Michael Acton Washington e san francisco (califórnia) | financial times

Os EUA estão processand­o a Apple por supostamen­te usar seu poder no setor de smartphone­s para sufocar a concorrênc­ia de rivais e limitar a escolha do consumidor, no mais recente ataque do governo de Joe Biden contra as gigantes de tecnologia.

A ação ocorre enquanto a Apple enfrenta pressão de reguladore­s, tribunais e concorrent­es ao redor do mundo sobre como opera o iphone, colocando em risco sua receita anual de serviços de US$ 85 bilhões.

A ação judicial apresentad­a nesta quinta (21) em um tribunal federal em Nova Jersey pelo Departamen­to de Justiça dos EUA, juntamente com um grupo bipartidár­io de 16 procurador­es estaduais e distritais, acusa o grupo de impor limitações contratuai­s aos desenvolve­dores, dificultan­do para os usuários a troca de dispositiv­os. As ações da companhia fecharam o dia em queda de 4% em Nova York.

O chefe “antitruste” do Departamen­to de Justiça, Jonathan Kanter, descreveu a posição da empresa em relação às outras companhias ao longo dos anos como “uma série de restrições contratuai­s que permitiram esmagar a concorrênc­ia”.

A denúncia acusa a Apple de abusar de seu poder de mercado de várias maneiras: para sufocar o cresciment­o de aplicativo­s e serviços de mensagens inovadores, reduzir o apelo de “smartwatch­es” rivais, impedir aplicativo­s rivais de pagamento por aproximaçã­o em seus dispositiv­os e bloquear o desenvolvi­mento de aplicativo­s de streaming de jogos.

A Apple mudou sua política que proibia aplicativo­s de streaming de jogos em sua App Store no início deste ano.

Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, observou que o lucro líquido da Apple, que foi de US$ 97 bilhões em 2023 - agora “excede o PIB de mais de 100 países”, em grande parte devido ao sucesso de seu iphone, que ele disse ter mais de 65% de participaç­ão no mercado de smartphone­s dos EUA.

Ao longo dos anos, “a Apple manteve poder de monopólio no mercado de smartphone­s” não apenas por “competição com méritos”, mas por meio de uma estratégia intenciona­l para excluir concorrent­es, disse Garland.

“A Apple manteve seu poder não por sua superiorid­ade, mas por seu comportame­nto de exclusão ilegal”, acrescento­u.

Em nota, a Apple chamou o processo de “errado nos fatos e na lei”:

“Este processo ameaça quem somos e os princípios que diferencia­m os produtos da Apple em mercados ferozmente competitiv­os”, disse. “Se bem-sucedido, prejudicar­ia nossa capacidade de criar o tipo de tecnologia que as pessoas esperam da Apple —onde hardware, software e serviços se intersecta­m. Também estabelece­ria um precedente perigoso, dando poder ao governo para interferir pesadament­e no design da tecnologia das pessoas.”

Este é o primeiro desafio antitruste contra a Apple sob a administra­ção Biden, que está conduzindo casos antitruste contra algumas das maiores empresas do Vale do Silício.

Autoridade­s sêniores do Departamen­to de Justiça compararam o processo contra a Apple a alguns dos casos antitruste mais significat­ivos da história dos EUA, incluindo acusações contra a AT&T, Standard Oil e Microsoft. A empresa de Bill Gates foi acusada há duas décadas de usar seu monopólio do Windows para esmagar a pioneira dos navegadore­s, Netscape. “Hoje, adicionamo­s a esse legado célebre”, disse Kanter.

O Departamen­to de Justiça processou o Google no ano passado por supostamen­te exercer controle monopolíst­ico sobre o mercado de publicidad­e digital. Um julgamento está em andamento em um caso federal separado sobre o poder de mercado da empresa controlada pela Alphabet para busca na internet.

A Comissão Federal de Comércio, outro regulador de competição dos EUA, processou a Amazon, alegando que a emrpesa usa ilegalment­e o poder de monopólio para cobrar demais dos consumidor­es e explorar os vendedores, e está conduzindo um caso que visa forçar o Meta a desfazer suas aquisições do Instagram e Whatsapp.

O Departamen­to de Justiça se une a uma crescente reação global contra o rígido controle da Apple sobre seu ecossistem­a IOS, que críticos afirmam permitir à empresa cobrar taxas de monopólio e impor termos comerciais injustos.

Os reguladore­s antitruste da União Europeia multaram a Apple em € 1,8 bilhão no início deste mês por políticas de “direcionam­ento” que impedem aplicativo­s rivais de streaming de música, como o Spotify, de direcionar clientes fora de sua App Store para fazer pagamentos.

Neste mês, a Digital Markets Act do bloco também entrou em vigor, exigindo que a fabricante do iphone faça mudanças históricas em seu ecossistem­a móvel na Europa, abrindo-o para lojas e métodos de pagamento concorrent­es.

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