Próximo Panorama da Arte Brasileira vai do barro às obras 3D
MAM de São Paulo escala 34 artistas para exposição, entre eles Gabriel Massan, que criou para Madonna em sua turnê
Do barro ao computador. É bem ampla a gama de assuntos do próximo Panorama da Arte Brasileira, tradicional exposição que ocupa a cada dois anos o Museu de Arte Moderna de São Paulo com a proposta de mapear a produção contemporânea nacional no campo das artes visuais.
Na lista de participantes dessa 38ª edição há artistas que usam a terra para fazer as suas tintas, como Maria Lira Marques e Marlene Costa de Almeida, e outros que se valem do barro para produzir objetos, como Mestre Nado, artesão pernambucano conhecido por seus instrumentos de sopro de cerâmica.
A carga de tradição desses veteranos vai dividir o espaço do museu no parque Ibirapuera com o futurismo de Gabriel Massan, responsável por criar imagens 3D, vídeos tecnológicos e jogos de videogame onde habitam criaturas meio fofas, meio asquerosas.
Com menos de 30 anos, o carioca já está no auge. Criou o cenário em que Madonna canta a faixa “Bedtime Stories” na turnê que celebra toda a carreira da diva pop e que chegará ao Rio de Janeiro em maio, com uma apresentação na praia de Copacabana.
Germano Dushá, um dos organizadores junto com Thiago de Paula Souza e a adjunta Ariana Nuala, diz que a exposição pensa “como artistas de contextos e práticas tão diferentes podem comungar de uma mesma energia”.
O trio selecionou 34 participantes de 16 estados, de todas as regiões, para dar conta da temperatura da arte nacional. O grupo tem ampla faixa etária, com pessoas nascidas nos anos 1940 e outras jovens, nascidas na década de 2000.
Intitulada “1.000º”, ou mil graus, a mostra, que vai de 3 de outubro até janeiro do próximo ano, “dá a ideia da temperatura máxima, vendo o que está urgente no país”, afirma Dushá. De tão intensa, a fervura derrete qualquer material, e o trio de organizadores quer ver o que surge a partir daí e como uma coisa pode se transformar em outra.
É a ideia de um elemento virar algo que ele não era antes, de forma física ou invisível, argumenta Souza. O conceito parece etéreo, mas faz sentido numa mostra que tem no elenco Dona Romana, uma líder espiritual de Tocantins que não se considera artista. “Ela é uma sacerdotisa, trabalha como um canal entre mundos”, afirma Nuala.
Neste caldeirão entram alguns nomes menos ousados, como a escultora e pintora Solange Pessoa e o pintor Lucas Arruda, ambos reconhecidos por instituições e muito valorizados pelo mercado. Há ainda um aceno à Bienal de Veneza, com a seleção de Joseca Yanomami, artista que estará na mostra principal da exposição italiana a partir de abril.
A mostra vai ocupar todo o espaço do MAM —as duas salas expositivas, o auditório, a parede no corredor e o jardim de esculturas— com obras na maioria inéditas e feitas sob encomenda. Os trabalhos devem ser expostos como se compusessem a estrutura do espaço, sem divisórias, favorecendo o atrito entre obras de técnicas e temáticas díspares.
Haverá ainda performances, para as quais foram chamados Rafael RG, Davi Pontes e o coletivo Mexa, nascido há quase uma década a partir da união de uma cadeirante travesti que estava em situação de albergue e outros artistas.
A lista completa dos participantes da mostra está no site do museu, www.mam.org.br.
38º panorama da Arte Brasileira
João Perassolo