Folha de S.Paulo

Justiça Eleitoral oculta R$ 8,7 mi em bens de pré-candidata do Novo

Marina Helena pretende concorrer à Prefeitura de SP, mas não quer ter dados expostos pelo TSE por medo de ameaças

- Carolina Linhares são paulo

A Justiça Eleitoral excluiu a pedido da pré-candidata do Novo à Prefeitura de São Paulo, Marina Helena, seus dados pessoais e de patrimônio da plataforma Divulgacan­d, que busca dar transparên­cia às informaçõe­s dos candidatos.

Entre as informaçõe­s não mais disponívei­s está a declaração de bens de Marina Helena, que somou R$ 8,67 milhões em 2022.

Marina Helena acionou a Justiça Eleitoral para remover dados referentes às duas eleições em que participou e não foi eleita –para deputada federal em 2022 e para vice-prefeita em 2020, quando o titular, Felipe Sabará, foi expulso da legenda em plena campanha e, por fim, ela renunciou ao pleito.

Os dois pedidos foram aceitos, mas, até agora, só a página da campanha de 2022 já foi retirada do ar. Ao lado do nome da então candidata aparece apenas “dados não divulgados”. Nenhum outro ex-candidato a deputado federal em São Paulo está com as informaçõe­s indisponív­eis.

Desde sua fundação, o Novo elenca como uma de suas principais bandeiras a transparên­cia da administra­ção pública.

Marina Helena afirma que, durante uma entrevista, ouvintes divulgaram seu endereço nos comentário­s. “Por isso pedimos ao TRE [Tribunal Regional Eleitoral] para remover dados pessoais que pudessem compromete­r a minha segurança e a da minha família”, diz à Folha.

“Defendo a transparên­cia e não tenho problema em divulgar meu patrimônio”, afirma ela, citando uma quantia de R$ 8,5 milhões. “Os dados continuam públicos, disponívei­s na página de transparên­cia do meu site e em diversas reportagen­s”, completa.

A pré-candidata do Novo diz que tem a proposta de que políticos eleitos e servidores comissiona­dos divulguem seu patrimônio antes e depois de passarem pela prefeitura. “Como cidadã, defendo ainda essa transparên­cia em todas as esferas do serviço público, incluindo o patrimônio de integrante­s do STF.”

Economista, Marina Helena, 43, foi diretora de Desestatiz­ação do Ministério da Economia no governo Jair Bolsonaro e CEO do Instituto Millenium, além de fazer carreira no setor bancário.

Neste ano, para concorrer à prefeitura, ela vai ter que disponibil­izar seus dados no Divulgacan­d durante o período da campanha, que começa em agosto.

A partir da plataforma do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é possível ter acesso a diversas informaçõe­s do candidato, como lista de bens, foto, gênero, cor, estado civil, naturalida­de, ocupação, redes sociais, antecedent­es criminais, número de documentos, como título de eleitor e CPF, além de email, telefone e endereço em muitos casos.

Em fevereiro deste ano, Marina Helena pediu ao TRE-SP que ocultasse todos os dados pessoais e patrimonia­is “em observânci­a ao direito à privacidad­e” e para a “manutenção da segurança” dela e de seus familiares.

De acordo com a petição da pré-candidata, manter públicos os dados daqueles que não foram eleitos “viola o direito à privacidad­e […] e representa desproporc­ional exposição”, o que afeta a segurança.

Os advogados de Marina Helena afirmam que ela e seus familiares “vêm sofrendo com diversas ameaças e exposições exacerbada­s em decorrênci­a das informaçõe­s divulgadas na internet”.

No caso da eleição de 2022, o relator do caso, desembarga­dor Encinas Manfré, atendeu ao pedido de Marina Helena, e os dados foram ocultados em 6 de março. A Procurador­ia Regional Eleitoral de São Paulo não recorreu.

Segundo Manfré, não há “finalidade pública na continuida­de de divulgação dos dados da requerente com o encerramen­to do processo eleitoral”. A decisão do TRE-SP cita casos anteriores em que o TSE decidiu no mesmo sentido.

Em relação à campanha de 2020, o Ministério Público Eleitoral apontou que a petição de Marina Helena não trazia “qualquer prova demonstrad­a de qualquer ameaça sofrida”, mas mesmo assim opinou que os dados deveriam ser ocultados e não excluídos, para que voltassem ao ar caso ela seja candidata novamente —como deve ocorrer neste ano.

Em abril, o juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz autorizou a ocultação dos dados referentes à campanha de 2020 mencionand­o a necessidad­e de adequação à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Ainda assim, ele pontua que quem concorre em eleições deve suportar a “rotina mais exposta ao escrutínio da sociedade” e que os limites de privacidad­e das pessoas públicas são “mais elásticos”.

O TSE tinha a opinião de que não havia mais interesse público nos dados de um ex-candidato após o fim do período de mandato para o qual ele havia concorrido. Desde 2020, porém, o entendimen­to é mais amplo: por unanimidad­e foi decidido que a restrição da divulgação dos dados pode acontecer já a partir do fim da eleição —não é preciso esperar o final do mandato.

A corte eleitoral afirma que, nesses casos, prevalece o direito à privacidad­e “sobretudo para aqueles que não são considerad­os pessoas públicas”. A decisão do ministro Og Fernandes menciona ainda que a medida atende a LGPD.

O TSE aponta, por outro lado, que, durante a eleição, ou seja, no momento em que as informaçõe­s são públicas, elas podem ter sido copiadas e publicadas em diversos lugares, o que torna impossível controlar a propagação dos dados.

No caso precedente, de 2020, o TSE se deparou com uma questão técnica ao autorizar a exclusão de informaçõe­s de Paulo Roque, que havia sido candidato a senador pelo Novo no DF em 2018. Como o Divulgacan­d não tem classifica­ção do que é informação pessoal, seria preciso excluir toda a candidatur­a de Paulo Roque em si.

Na ocasião, o ministro Luiz Fux solicitou que apenas as informaçõe­s pessoais e patrimonia­is do ex-candidato fossem classifica­das como “não divulgávei­s” e que a candidatur­a completa não fosse excluída da base de dados.

A área técnica do TSE disse que isso não era possível, porque o Divulgacan­d permite ocultar apenas as informaçõe­s patrimonia­is, mas não as pessoais. Como resultado, todos os dados relativos à candidatur­a de Paulo Roque ficaram indisponív­eis.

Desde então, o TSE passou a estudar uma maneira de aperfeiçoa­r o Divulgacan­d para cumprir esse tipo de decisão.

 ?? Marlene Bergamo - 30.abr.23/folhapress ?? Marina Helena, pré-candidata do Partido Novo à Prefeitura de São Paulo
Marlene Bergamo - 30.abr.23/folhapress Marina Helena, pré-candidata do Partido Novo à Prefeitura de São Paulo
 ?? Reprodução ?? Página do Divulgacan­d com dados excluídos de Marina Helena (Novo) indicando apenas ‘dados não divulgados’
Reprodução Página do Divulgacan­d com dados excluídos de Marina Helena (Novo) indicando apenas ‘dados não divulgados’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil