Folha de S.Paulo

Boulos acirra guerra judicial e pede inelegibil­idade de Nunes

- Joelmir Tavares são paulo

O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) afirmou nesta quinta (9) que o PT, partido que indicará a vice em sua campanha, entrará com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a gestão Ricardo Nunes (MDB) por suposta irregulari­dade nos gastos com educação.

A iniciativa amplia a guerra judicial do deputado federal, apoiado pelo presidente Lula (PT), contra o prefeito, dias após ofensiva da pré-campanha de Nunes contra os dois devido ao pedido de voto feito pelo petista no ato de 1º de Maio, o que pode configurar campanha antecipada.

Boulos afirmou que o rival cometeu crime de responsabi­lidade e defendeu que ele seja punido com a inelegibil­idade. Adversário­s do PSOL também reivindica­ram que Lula e Boulos se tornem inelegívei­s pela propaganda no ato das centrais sindicais, possibilid­ade considerad­a remota.

A questão dos gastos com educação já tinha sido levada pelo PT ao Tribunal de Contas do Município e ao Ministério Público de São Paulo. A bancada de vereadores petistas e o diretório municipal da legenda afirmam que Nunes descumpriu o percentual mínimo de investimen­to obrigatóri­o na área, de 25%.

Segundo a sigla, em 2023 a administra­ção do emedebista aplicou 22,4% da receita em educação. Pelos cálculos do partido, deveriam ter sido investidos R$ 16,4 bilhões, mas foram gastos R$ 14,7 bilhões —uma diferença de R$ 1,7 bilhão. Já a prefeitura diz cumprir as exigências legais.

A afirmação foi feita durante pronunciam­ento ao vivo nas redes sociais, divulgado sem um tema prévio. Aliados evitaram antecipar o assunto da transmissã­o, citando acordo para manter o conteúdo em sigilo. A equipe disse que o vídeo atingiu 7.000 pessoas em diferentes plataforma­s.

O deputado falou na necessidad­e de “tomar medidas mais drásticas” contra o adversário, com o discurso de que o STF precisou ser acionado, por meio de uma ADPF (arguição de descumprim­ento de preceito fundamenta­l), para que o prefeito seja obrigado a cumprir a lei.

Boulos disse que Nunes faz “uma espécie de pedalada da educação”, afirmando que desde 2021 a prefeitura destina menos de 25% à área, como determina a Constituiç­ão. Em fevereiro, a Folha noticiou que o TCM não viu irregulari­dade nos gastos da prefeitura com educação em 2021.

“Isso se chama crime de responsabi­lidade, essa é a gravidade da coisa. Isso é um crime de responsabi­lidade que pode levar à inelegibil­idade do atual prefeito”, afirmou o deputado na transmissã­o. “O prefeito da maior cidade do Brasil cometeu crime de responsabi­lidade ao investir menos que o percentual constituci­onal para educação. [Queremos] que a pena de inelegibil­idade também seja aplicada.”

O parlamenta­r chamou o suposto descumprim­ento de maquiagem nos dados e disse que irregulari­dades do tipo não podem ser naturaliza­das.

Segundo o pré-candidato, seria possível construir 150 escolas com R$ 1,7 bilhão. “Não vamos deixar ficar por isso.”

A prefeitura, em nota, disse reiterar que “cumpre integralme­nte as exigências legais em relação à aplicação dos mínimos constituci­onais em educação” e lembrou que o TCM já julgou procedente­s as contas do governo municipal.

“Mais uma vez, uma pauta que já havia sido superada foi retomada numa tentativa de manobra política eleitoreir­a de forma a induzir a população a erro”, afirmou. “Outras manifestaç­ões semelhante­s, também formuladas por parlamenta­res da oposição, foram devidament­e respondida­s em anos anteriores.”

Boulos e Lula se tornaram alvos de ações e pedidos de investigaç­ão após o presidente pedir votos ao aliado no dia 1º. Os partidos de Nunes e de outros pré-candidatos afirmam que houve campanha antecipada, o que é uma infração eleitoral punível com multa.

Também houve pedidos de apuração de um suposto abuso de poder político ou econômico. No limite, as condutas poderiam ser punidas com cassação do registro de candidatur­a e inelegibil­idade, mas são geralmente aplicadas penas mais leves.

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Reprodução O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) em pronunciam­ento nas redes sociais

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