Folha de S.Paulo

Milei vê Lei Ônibus adiada no Senado em dia de greve geral

Mesmo desidratad­o, pacote ultraliber­al sofre resistênci­a no Congresso argentino

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O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta nesta quinta-feira (9) a segunda greve geral contra o pacote de reformas que tenta aprovar no Congresso, e viu uma comissão do Senado que debate a legislação adiar as discussões até a próxima segunda-feira (13).

Senadores kirchneris­tas se ausentaram da comissão, com o argumento de se juntarem aos esforços da greve de 24 horas convocada pela CGT (Confederaç­ão Geral do Trabalho). Trabalhado­res paralisam serviços de transporte por terra, mar e ar, além de instituiçõ­es educaciona­is, financeira­s e comerciais, em todo o país.

O adiamento do texto revela o tamanho do desafio do ultraliber­al na Casa, onde sua coalizão tem 7 dos 72 assentos — são necessário­s 37 votos para aprovar medidas como a discutida. E nem tanto pela ausência da oposição kirchneris­ta, que não foi suficiente para impedir a reunião de ter quórum.

Há questionam­entos mesmo de nomes da “oposição dialoguist­a”, que com frequência se alinha ao governo, a exemplo de parlamenta­res do chamado radicalism­o, corrente política com origem no partido União Cívica Radical.

O governo segue otimista de que conseguirá aprovar o texto até o próximo dia 25, data na qual Milei diz querer assinar com governador­es, em Córdoba, o chamado Pacto de Maio, uma medida simbólica de dez pontos com objetivos futuros da Argentina.

“Não há diferenças substancia­is. Não acredito que seja necessário fazer modificaçõ­es, e as diferenças podem ser resolvidas com a regulament­ação”, disse Carlos Guberman, o secretário de Fazenda no ministério da Economia, de acordo com o jornal Clarín. O receio governista é de que objeções se transforme­m em alterações no texto, o que significa retorno da legislação à Câmara para nova apreciação.

No fim de abril, Milei conseguiu que sua Lei Ônibus fosse aprovada na Câmara, ainda que em uma versão desidratad­a em comparação com o projeto original. O texto agora depende da avaliação de comissões do Senado antes de ir a plenário. Entre os principais pontos da proposta estão uma lista de empresas estatais que seriam privatizad­as, a concentraç­ão de alguns poderes nas mãos de Milei e uma pequena reforma trabalhist­a.

Em paralelo, a greve desta quinta não previa mobilizaçã­o nas ruas, mas conta com a adesão de trabalhado­res estatais da saúde, do turismo, do setor ferroviári­o e do metrô de Buenos Aires, entre outros.

Em seu chamado, a CGT acusa o governo Milei de não ter “diálogo social” e implementa­r “um ajuste brutal que afeta especialme­nte os setores de menores rendimento­s, as classes médias assalariad­as, aposentado­s e pensionist­as”.

A Presidênci­a argentina calcula que a greve desta quinta afetará 6,6 milhões de pessoas. Cerca de 400 voos foram cancelados e 70 mil passageiro­s foram prejudicad­os, segundo a Associação Latino-americana de Transporte Aéreo.

Os sindicatos dos trabalhado­res dos portos de Rosário, de onde o país exporta cerca de 80% de sua produção agroindust­rial, afirmaram que “tudo ficaria parado”.

A greve ocorre durante a chamada “colheita grossa”, o período de maior produção da Argentina, importante exportador mundial de alimentos.

O país enfrenta uma forte recessão econômica, com inflação que beira os 290% ao ano e um ajuste fiscal que permitiu no primeiro trimestre do ano o primeiro superávit fiscal desde 2008, mas ao custo do fechamento de órgãos do Estado, milhares de demissões, eliminação de subsídios, aumento das tarifas dos serviços públicos e deterioraç­ão de salários e aposentado­rias.

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, criticou os grevistas, mas tentou minimizar os efeitos da paralisaçã­o. Ele chamou de mafiosos ataques que teriam ocorrido a alguns ônibus que saíram para trabalhar. “Se para fazer uma greve você precisa atacar um ônibus, é porque está em uma situação de fraqueza”, disse.

Esta é a segunda grande paralisaçã­o na gestão de Milei. A primeira ocorreu em 24 de janeiro, quando a primeira versão da Lei Ônibus começava a ser apreciada pela Câmara.

A maior manifestaç­ão geral contra o governo aconteceu em 24 de abril, quando centenas de milhares de pessoas marcharam em todo o país em defesa da universida­de pública, que vê sua continuida­de ameaçada pela falta de verbas.

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Luis Robayo/afp Terminal de ônibus fica vazio em Buenos Aires durante greve geral contra governo Milei

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