Folha de S.Paulo

Congresso derruba veto e concentra registro de agrotóxico­s com Agricultur­a

- Victoria Azevedo, Thaísa Oliveira e Cézar Feitoza

O Congresso Nacional derrubou nesta quinta-feira (9) vetos do presidente Lula (PT) ao projeto de lei que flexibiliz­a o uso de agrotóxico­s no país, apelidado por críticos de “PL do Veneno”, e concentrou o registro no Ministério da Agricultur­a, como queria a bancada ruralista.

Com a derrubada do veto de Lula, a pasta centraliza o processo de registro e controle dos defensivos e diminui as atribuiçõe­s da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

O governo Lula pretendia restabelec­er o modelo regulatóri­o tripartite —um tipo de estrutura seguido por agências regulatóri­as de outros países.

O objetivo era evitar que avaliações sobre impactos ambientais e de saúde fossem conduzidos pela Agricultur­a, que não possui conhecimen­to técnico para análise de risco dessas áreas.

A derrubada dos vetos foi patrocinad­a pela bancada ruralista, uma das maiores do Congresso, com cerca de 300 deputados e 50 senadores. Segundo governista­s, esse cenário já era esperado pelo Executivo, que reconhece a força do grupo.

Ao sancionar a matéria, em dezembro do ano passado, Lula vetou 17 pontos do projeto de lei. Nesta quinta, o Congresso reverteu 8 deles, mas outros dispositiv­os vetados ainda serão analisados pelos parlamenta­res em futuras sessões conjuntas.

Após o resultado, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxico­s e pela Vida afirmou em nota que a decisão dos parlamenta­res é um “verdadeiro absurdo”.

“Esses dispositiv­os vão ampliar inconstitu­cionalment­e os poderes do Mapa [Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto] e, assim, potenciali­zar o uso e registro de agrotóxico­s que, além de colocar em risco a biodiversi­dade e a saúde das populações, o Pacote do Veneno contribui para a intensific­ação da crise climática.”

Os vetos de Lula no caso dos agrotóxico­s dividiram o próprio governo. O Ministério da Agricultur­a pediu que o projeto fosse sancionado de forma integral. O argumento contra o veto é que o modelo tripartite vai causar um descompass­o, com prazos distintos em cada órgão, e que os técnicos da Agricultur­a já iriam levar em consideraç­ão as análises da Anvisa e do Ibama.

Porém, o veto ao superpoder foi defendido pelos ministério­s da Saúde, Meio Ambiente, Trabalho e até Fazenda.

Em 2023, o governo Lula tentou barrar pautas defendidas pela FPA (Frente Parlamenta­r Agropecuár­ia) no Congresso, sem sucesso.

A derrubada dos vetos desta quinta mostra que a bancada do boi, como é conhecida por seus opositores, mantém sua força contra Lula apesar dos esforços do governo para se aproximar do setor —que é mais ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O PL estava em tramitação no Congresso desde 1999, quando foi apresentad­o inicialmen­te pelo ex-ministro da Agricultur­a e ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi, à época senador da República.

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