Folha de S.Paulo

‘O Simpatizan­te’ exagera com ator Robert Downey Junior e humor fraco e esquisito

- Sérgio Alpendre

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O Simpatizan­te ★★★★★

EUA, 2024. Direção: Park Chan-wook e Don Mckellar. Com: Robert Downey Junior, Hoa Xuande, Scott Ly. 16 anos. Disponível no Max

Ambientada no final e logo após a Guerra do Vietnã —aliás, da guerra da América, segundo o ponto de vista dos vietnamita­s—, a minissérie “O Simpatizan­te” mostra um comunista infiltrado no exército do Vietnã do Sul. Ele é conhecido como Capitão, é meio vietnamita, meio francês, e é interpreta­do por Hoa Xuande.

Quando entra meio sem querer no grupo que foge de Saigon, então sob bombardeio das forças comunistas do norte, para tentar a vida nos Estados Unidos junto de seu general e familiares, Capitão continua informante dos comunistas, ao mesmo tempo em que encontra uma nova vida.

Interessad­o na filha do general e dividido entre continuar como agente duplo ou se livrar do passado e desfrutar as novas condições que conquistou, Capitão se depara com o pior e o melhor do novo mundo, o que o fascina e assusta ao mesmo tempo.

Adaptação do livro homônimo escrito por Viet Thanh Nguyen, “O Simpatizan­te” é dirigido, nos três primeiros episódios, por Park Chan-wook, diretor de “Oldboy”. Ele divide o posto de criador com o canadense Don Mckellar.

No quarto episódio da série, o brasileiro Fernando Meirelles assume a direção, e os três últimos são assinados pelo britânico Marc Munden.

O humor da série é esquisito e nem sempre funciona. Por vezes é desconcert­ante, como no momento em que o protagonis­ta conta para sua colega japonesa que se masturbava com um pedaço de lula.

Muitas vezes o humor é todo centrado no ator Robert Downey Junior, que se divide em vários personagen­s da trama. Quem não gosta dele terá problemas com a minissérie.

Há ainda o humor do tipo espertinho, que faz menção à própria realização. Em dado momento, o protagonis­ta-narrador admite para nós, o público, que não testemunho­u algumas cenas, mas as imaginou para preencher melhor as lacunas de sua história.

Em alguns momentos, percebemos que esse humor faz parte de algo maior, e a série se torna mais interessan­te. É crítica à guerra, ao capitalism­o, ao comunismo, ao medo do comunismo e ao “American way of life”, que à altura estava em crise moral, militar, social e econômica.

Há aspectos interessan­tes espalhados pelos sete episódios, mas também é notório o enfraqueci­mento do humor nos capítulos finais, o que acaba por enfraquece­r também a violência que rodeia os personagen­s e o tom mais sóbrio de algumas cenas, além do fôlego curto que a direção cheia de truques de estilo, imitações e excessos revela.

Os espectador­es que se deleitarem com os dois ou três primeiros episódios, talvez até o quarto, pela curiosidad­e da produção, vão seguir antenados, já que a série não derrapa o bastante para perder quem já foi fisgado.

Os demais talvez prefiram ver ou rever os filmes citados na série. Uma pena, pois o material literário de origem, que permite uma representa­ção frontal do mal-estar daquela época, e o que se mostra acertado na direção arriscada sugerem que “O Simpatizan­te” poderia ter sido melhor.

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Divulgação O ator Hoa Xuande em cena da série ‘O Simpatizan­te’, da Max

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