Folha de S.Paulo

Alice Braga viaja pelo multiverso e questiona o que é ser feliz na série ‘Matéria Escura’

- Leonardo Sanchez

Multiverso­s se tornaram uma constante nas telas, chegando até o Oscar, sempre pouco interessad­o em filmes de ficção científica. A premiação recentemen­te laureou “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, mesmo sob protestos de quem vê o tema como uma herança infantiliz­ada do cinema de super-heróis.

Mas há quem queira explorar caminhos mais maduros para a teoria de que vidas alternativ­as às nossas correm em paralelo. Em “Matéria Escura”, o escritor americano Blake Crouch se cercou de conceitos da física quântica para entrar na discussão, que agora leva ao streaming numa minissérie de mesmo nome.

“Matéria Escura” narra a história de um físico que leciona para universitá­rios desinteres­sados, mas que ao menos volta para uma família amorosa e feliz ao fim do dia. Até que é sequestrad­o por uma versão de si próprio, vinda de outro universo, em que ele abriu mão da vida famíliar e se tornou um gênio da física.

“Eu nunca vi o tema do multiverso num contexto parecido, tão pé no chão. É uma trama que poderia estar falando da minha vida, de tão humana que é. Todos nós nos digladiamo­s com a pergunta ‘estou feliz com a minha vida?’”, diz Matt Tolmach, produtor que brincou com o conceito nos filmes do Homem-aranha.

“O interesse pelo tema deve ter algo a ver com as redes sociais, com o fato de sermos bombardead­os por vidas idealizada­s, fabricadas, perfeitas. Gera um tipo de frustração silenciosa”, acrescenta Crouch.

“Matéria Escura” provoca o espectador com as duas versões de seu protagonis­ta. Um investiu no trabalho e ficou solitário. O outro assumiu um filho e casou cedo, o que trouxe satisfação pessoal a ele, mas não sem comprometi­mentos.

Numa das realidades, Jennifer Connelly surge como a mulher atenciosa e fiel de Jason. Na outra, Alice Braga faz uma pesquisado­ra que trabalha em seu importante projeto.

Braga conta também ter encarado as perguntas impostas pela série ao longo da carreira. Sobrinha de Sonia Braga, outra que rompeu a bolha do cinema nacional, ela tem boa parte da vida pautada pelas viagens entre Brasil e Estados Unidos.

“Mesmo que ‘Matéria Escura’ seja uma ficção, ela fala de questões que todos nós vivemos. Na vida do Jason não existe escolha certa ou errada, a felicidade está ali, tudo depende da lente com a qual você olha”, afirma ela, que tem um palpite sobre a popularida­de crescente do multiverso.

“Eu acho que a gente explorou tanto, na ficção, a viagem no tempo, que agora chegou a vez de explorar a ideia de estarmos em vários mundos ao mesmo tempo. Talvez por uma questão de tecnologia no cinema ou pelo próprio aprofundam­ento da física quântica essas histórias se multiplica­ram. São artifícios que ajudam a abordar esse constante questionam­ento do ‘e se?’.”

Essa dúvida se impôs recentemen­te. Na ressaca do sucesso “Eduardo e Mônica”, Braga viu crescer a vontade de fazer cinema no Brasil. Na bifurcação de realidades que se apresentou a ela, decidiu tomar, para o futuro breve, o caminho de volta ao lar, e agora tem lido uma série de roteiros para, em breve, aparecer nas telas nacionais novamente.

Matéria Escura

EUA, 2024. Criação: Blake Crouch. Com: Joel Edgerton, Alice Braga e Jennifer Connelly. 16 anos. Disponível no Apple TV+

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Divulgação A atriz Alice Braga em cena da série ‘Matéria Escura’, do Apple TV+

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