Alice Braga viaja pelo multiverso e questiona o que é ser feliz na série ‘Matéria Escura’
Multiversos se tornaram uma constante nas telas, chegando até o Oscar, sempre pouco interessado em filmes de ficção científica. A premiação recentemente laureou “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, mesmo sob protestos de quem vê o tema como uma herança infantilizada do cinema de super-heróis.
Mas há quem queira explorar caminhos mais maduros para a teoria de que vidas alternativas às nossas correm em paralelo. Em “Matéria Escura”, o escritor americano Blake Crouch se cercou de conceitos da física quântica para entrar na discussão, que agora leva ao streaming numa minissérie de mesmo nome.
“Matéria Escura” narra a história de um físico que leciona para universitários desinteressados, mas que ao menos volta para uma família amorosa e feliz ao fim do dia. Até que é sequestrado por uma versão de si próprio, vinda de outro universo, em que ele abriu mão da vida famíliar e se tornou um gênio da física.
“Eu nunca vi o tema do multiverso num contexto parecido, tão pé no chão. É uma trama que poderia estar falando da minha vida, de tão humana que é. Todos nós nos digladiamos com a pergunta ‘estou feliz com a minha vida?’”, diz Matt Tolmach, produtor que brincou com o conceito nos filmes do Homem-aranha.
“O interesse pelo tema deve ter algo a ver com as redes sociais, com o fato de sermos bombardeados por vidas idealizadas, fabricadas, perfeitas. Gera um tipo de frustração silenciosa”, acrescenta Crouch.
“Matéria Escura” provoca o espectador com as duas versões de seu protagonista. Um investiu no trabalho e ficou solitário. O outro assumiu um filho e casou cedo, o que trouxe satisfação pessoal a ele, mas não sem comprometimentos.
Numa das realidades, Jennifer Connelly surge como a mulher atenciosa e fiel de Jason. Na outra, Alice Braga faz uma pesquisadora que trabalha em seu importante projeto.
Braga conta também ter encarado as perguntas impostas pela série ao longo da carreira. Sobrinha de Sonia Braga, outra que rompeu a bolha do cinema nacional, ela tem boa parte da vida pautada pelas viagens entre Brasil e Estados Unidos.
“Mesmo que ‘Matéria Escura’ seja uma ficção, ela fala de questões que todos nós vivemos. Na vida do Jason não existe escolha certa ou errada, a felicidade está ali, tudo depende da lente com a qual você olha”, afirma ela, que tem um palpite sobre a popularidade crescente do multiverso.
“Eu acho que a gente explorou tanto, na ficção, a viagem no tempo, que agora chegou a vez de explorar a ideia de estarmos em vários mundos ao mesmo tempo. Talvez por uma questão de tecnologia no cinema ou pelo próprio aprofundamento da física quântica essas histórias se multiplicaram. São artifícios que ajudam a abordar esse constante questionamento do ‘e se?’.”
Essa dúvida se impôs recentemente. Na ressaca do sucesso “Eduardo e Mônica”, Braga viu crescer a vontade de fazer cinema no Brasil. Na bifurcação de realidades que se apresentou a ela, decidiu tomar, para o futuro breve, o caminho de volta ao lar, e agora tem lido uma série de roteiros para, em breve, aparecer nas telas nacionais novamente.
Matéria Escura
EUA, 2024. Criação: Blake Crouch. Com: Joel Edgerton, Alice Braga e Jennifer Connelly. 16 anos. Disponível no Apple TV+