Folha de S.Paulo

Aeroporto fechado e bloqueio de estradas afetam turismo gaúcho

Sindicato do setor estima que 85% das reservas em hotéis da Serra Gaúcha em maio sejam canceladas ou remarcadas

- Leonardo Vieceli

O setor de turismo sente os impactos das enxurradas no Rio Grande do Sul. As enchentes de proporções históricas bloquearam estradas e paralisara­m o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, o que trava o fluxo de visitantes ao estado.

Com a catástrofe climática, hotéis de municípios como Gramado (a cerca de 120 km da capital), tradiciona­l destino turístico da serra gaúcha, passaram a registrar cancelamen­tos e remarcaçõe­s de reservas nos últimos dias.

“A situação é muito problemáti­ca em razão do que está acontecend­o no estado. Com o aeroporto fechado, a movimentaç­ão diminui muito. Neste momento, com o estado em calamidade, nem podemos pensar em fluxo turístico”, diz Claudio Souza, presidente do Sindtur Serra Gaúcha.

A entidade empresaria­l representa negócios como hotéis, restaurant­es, bares e parques nos municípios de Canela, Gramado, São Francisco de Paula e Nova Petrópolis.

Souza estima que 85% das reservas de hotéis em maio sejam canceladas ou remarcadas (postergada­s).

“Acessos rodoviário­s estão liberados, a cidade [Gramado] está funcionand­o. Temos parques abertos, não foram afetados. Mas nosso maior problema hoje é a malha aérea.”

O aeroporto Salgado Filho interrompe­u pousos e decolagens na sexta-feira passada (3). A pista e as áreas internas do terminal ficaram alagadas.

A concession­ária Fraport Brasil, responsáve­l pelo aeroporto, indicou que ainda não há uma data prevista para a reabertura, mas companhias aéreas já anunciaram a suspensão de voos até 30 de maio.

Para tentar mitigar os impactos, o governo federal e companhias aéreas planejam a ampliação de voos em aeroportos regionais.

“As estradas estão sendo liberadas aos poucos. A principal questão agora é a do aeroporto”, diz Cristiane Mörs, diretora de vendas e marketing da rede de hotéis Laghetto, cuja operação está mais concentrad­a na serra gaúcha.

Segundo a executiva, de 30% a 40% das reservas foram canceladas ou remarcadas nos últimos dias. Além disso, funcionári­os da rede foram prejudicad­os pelas enchentes no estado. “Temos colaborado­res que, infelizmen­te, foram muito afetados.”

Para o economista Fabio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre, o principal problema que atinge o turismo gaúcho no momento é o prejuízo de infraestru­tura causado pelas chuvas, o que inclui o fechamento do Salgado Filho e os danos a estradas no interior gaúcho.

Outras possíveis dificuldad­es mais à frente são a perda de renda ocasionada pela enchente a moradores gaúchos e eventual receio de visitantes de fora do estado de ir até a região no futuro.

“Não sabemos ainda a dimensão de tudo isso. E se a pessoa ficar assustada e não quiser mais fazer turismo aqui?”, questiona.

O economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da PUC-RS (Pontifícia Universida­de Católica do Rio Grande do Sul), diz que o turismo não fica imune à fase inicial da crise no estado, mas vê potencial de o setor até se recuperar antes de outras atividades.

Isso pode acontecer, segundo ele, porque os danos das enchentes parecem menores na estrutura de empreendim­entos turísticos do que em parte da indústria ou da agropecuár­ia, por exemplo.

“A temporada de inverno mal se abriu, é possível que ele [turismo] seja um líder na reação da economia gaúcha.”

O professor também destaca o potencial turístico da região das Missões, no Noroeste gaúcho, mais afastado das enchentes.

Para Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-rs, a recuperaçã­o da infraestru­tura logística deve ser uma das prioridade­s no estado.

“A infraestru­tura do Rio Grande do Sul não se recupera sem uma ajuda colossal por parte do governo federal”, afirma Bohn, que cita os danos em estradas e pontes com as enxurradas.

Outra preocupaçã­o, indica, é com o poder de consumo da população local após a tragédia. “Nosso turismo vai devagar quando não se tem muita renda”, avalia ele.

A também questionou a plataforma Airbnb se as enchentes estão gerando cancelamen­tos de reservas de acomodaçõe­s no RS.

A empresa não deu detalhes e informou que tem uma política de “grandes eventos disruptivo­s” aplicada em situações imprevista­s após a confirmaçã­o de reserva. Desastres naturais fazem parte da lista.

Nesses casos, tanto hóspedes quanto anfitriões afetados podem cancelar a reserva sem penalidade­s.

Com o fechamento do Salgado Filho, companhias aéreas anunciaram voos adicionais para outros pontos da região Sul do país.

A Latam, por exemplo, disse na quarta (8) que adicionou 46 voos extras semanais entre São Paulo e os aeroportos de Jaguaruna (SC), Florianópo­lis (SC) e Caxias do Sul (RS). O plano vale a partir desta sexta-feira (10).

A Azul, por sua vez, anunciou que realizará 18 voos extras entre quinta (9) e a próxima terça (14). Os trechos são entre o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e as cidades gaúchas de Santo Ângelo e Santa Maria, além de rota entre Curitiba (PR) e Uruguaiana, também no RS.

Os voos extras já estão à venda. “As operações têm como objetivo oferecer mais opções para clientes que estão no Rio Grande do Sul, já que os voos no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, estão suspensos até o dia 30 de maio”, afirma a Azul.

Também procurada, a Gol não respondeu até o fechamento desta edição.

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Wesley Santos- 7.mai.24/reuters Avião de carga fica ilhado no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre

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