Folha de S.Paulo

Grupo de SP faz acordo para cobrar R$ 9 bi em dívidas tributária­s

Comitê que reúne Fazenda, Ministério Público e Procurador­ia promoveu operações e reuniões com os grandes devedores

- Eduardo Cucolo São Paulo

Uma parte dos R$ 40 bilhões em dívidas de ICMS negociados pelo estado de São Paulo no âmbito do programa Acordo Paulista está ligada à atuação de um grupo especializ­ado no monitorame­nto de grandes devedores.

O Cira-sp (Comitê Interinsti­tucional de Recuperaçã­o de Ativos), que reúne auditores fiscais da Secretaria da Fazenda, Procurador­ia-geral e Ministério Público de São Paulo, fechou neste ano acordos com 206 empresas que possuíam R$ 6,5 bilhões inscritos na dívida ativa do estado e entraram no programa.

Cerca de metade desse valor se refere a três grupos econômicos que foram alvo do comitê nos últimos três anos.

As operações Cavalo-marinho, Nuvem de Fumaça e Vênus apontaram fraudes fiscais realizadas por um dos maiores estaleiros da América Latina, uma distribuid­ora de cigarros e uma rede de vestuário, respectiva­mente. Os três grupos aderiram ao programa, que foi encerrado em abril deste ano.

Os números correspond­em aos valores inscritos na dívida ativa, sem os descontos previstos no programa de parcelamen­to encerrado em abril, cuja expectativ­a é arrecadar R$ 14 bilhões, incluindo esses e outros contribuin­tes.

Em acordos que haviam sido fechados em anos anteriores, o Cira-sp negociou outros R$ 2,5 bilhões.

“Existe umam ac rodel in quência tributária bastante acentuada, principalm­ente no estado de São Paulo, onde há grandes empresas, grandes conglomera­dos, e ela tem impacto na isonomia concorrenc­ial”, afirma Alessandro Rodrigues Junqueira, procurador da Procurador­ia-geral do Estado.

“Pelas operações, pelas medidas judiciais e administra­tivas adotadas, a atuação do Cira acaba induzindo o contribuin­te afalar ,‘ eu preciso mudar meu comportame­nto em relação a São Paulo na parte fiscal’.”

Algumas dessas empresas deixaram de pagar praticamen­te 100% do imposto devido por mais de uma década, conseguind­o se esquivar do Fisco, da Procurador­ia e do próprio Ministério Público, quando esses órgãos atuavam isoladamen­te.

A adesão ao programa das empresas que foram alvo das operações especiais, por exemplo, surpreende­u o grupo, dada a magnitude das dívidas e o comportame­nto dos envolvidos, que utilizavam estruturas sofisticad­as para sonegar os tributos.

No caso da sonegação fiscal, a legislação permite a negociação entre as autoridade­s e a empresa que cometeu o crime.

No ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou constituci­onal a legislação que suspende a punição por crimes tributário­s após o parcelamen­to dessas dívidas e prevê sua extinção após o pagamento integral dos valores cobrados.

Marcio Araújo, auditor fiscal da Secretaria da Fazenda e Planejamen­to de São Paulo, afirma que a negociação em conjunto com as três instituiçõ­es faz com que o sonegador seja pressionad­o, mas também tenha a oportunida­de de resolver as pendências em relação à situação corrente, ao passado (dívida ativa) e às questões criminais relacionad­as à fraude fiscal.

“Além dessa recuperaçã­o do débito já inscrito em dívida, a gente percebe mudança de comportame­nto no débito corrente”, afirma.

De acordo com o grupo, a ação conjunta permite reforçar o conjunto de provas em relação aos crimes cometidos para que se acione também o Judiciário.

“É um cerco propositiv­o, não é opressivo. É convidar a pessoa para que estabeleça a consensual­idade. Ao mesmo tempo em que há esse convite, há também uma sinalizaçã­o muito clara das consequênc­ias que virão diante desse cerco estabeleci­do pelo comitê”, afirma Luiz Henrique Dal Poz, promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo.

Eduardo Mendonça, auditor da Secretaria da Fazenda, afirma que as empresas que regulariza­ram sua situação vão continuar sob o olhar do Fisco estadual. Caso elas voltem a sonegar, podem ser alvo novamente desse comitê especial.

“Esse passado foi acertado. A gente espera que ele volte a exercer o direito de pagar o corrente tudo em dia, não voltar a fazer o que fazia no passado.”

Na quinta-feira (9), o comitê deflagrou a Operação Metalmorfo­se, que mira empresas do ramo de metais, com fraudes que incluem a criação de empresas que emitem notas fiscais para gerar crédito de tributos. O prejuízo aos cofres do estado é estimado em mais de R$ 2 bilhões.

“Existe uma mac rodel in quência tributária bastante acentuada, principalm­ente no estado de São Paulo, onde há grandes empresas (...), e ela tem impacto na isonomia concorrenc­ial Alessandro Rodrigues Junqueira procurador da PGE

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil