Folha de S.Paulo

Harry Kane, o Pé Frozen

O Bayern vinha conquistan­do a Bundesliga havia 11 anos; aí chegou o inglês...

- Sandro Macedo Medalha de ouro no futsal (improvisad­o no gol) e no vôlei do ensino fundamenta­l em 1986; na Folha desde 2001

Existem muitos tipos de pé no futebol, para além do direito e do esquerdo. Tem o pé chato, o pé de ferro, o pé de chumbo, o pé murcho, o pé de anjo, o pé-quente e, acima de todos, o temido pé-frio —não confundir com o pé de Mick Jagger, o ponto zero de todas as zicas climáticas do esporte mundial.

Este humilde escriba não sabe o número das chuteiras do excelente centroavan­te inglês Harry Kane, mas de uma coisa não tem mais dúvida: trata-se da temperatur­a mais baixa entre todos os pés da atualidade.

Com sua carinha de príncipe da Disney, com madeixas aloiradas e olhos azuis cintilante­s, Kane pode ser chamado também de Pé Frozen.

Mas não confunda a aparência de Kane com os centroavan­tes gatos do Corinthian­s, aquilo é outra coisa.

O alvinegro abusou da sorte e da aliança com a Panini ao contratar dois centroavan­tes gatos quando muita gente não tem nenhum, assunto devidament­e destrincha­do em coluna anterior.

Voltemos a Kane. O moço jogava na prestigiad­a Premier League, onde foi artilheiro e quebrou alguns recordes pelo… Tottenham. E, como se sabe (Richarliso­n não sabe), é difícil ser campeão de qualquer coisa jogando pelo Tottenham, rival londrino do Arsenal (uhu).

Mas foi aí que Kane fez uma manobra inteligent­e na carreira, rumo aos troféus: decidiu trocar de clube e se juntou ao Bayern de Munique, na Alemanha.

Jogar no Bayern é título certo. Muitos jogadores ruins foram campeões e tomaram cerveja bávara no caneco ao assinarem com o Bayern.

Nos 11 anos anteriores à chegada de Kane, o Bayern foi campeão todas as vezes. Mas o Bayern foi arrogante, contratou não apenas um, mas dois jogadores do Tottenham (além de Kane, o simpático zagueiro-lateral-volante Dier).

Nosso querido Pé Frozen encheu a rede dos rivais e anotou 36 gols, dez a mais que o vice-líder da artilharia. E o que isso rendeu a ele? Muito abraço e nenhum troféu. O Bayern perdeu o título para o Bayer Leverkusen (campeão pela primeira vez).

Isso não foi tudo, o time também foi eliminado na Copa da Alemanha para um clube da terceira divisão. E até naquele jogo que abre a temporada, a Supercopa, o Bayern terminou em segundo (eram dois) ao ser derrotado pelo RB Leipzig.

Provavelme­nte não se via o time de Munique tanto tempo sem levantar um troféu desde a assinatura da Reinheitsg­ebot, a lei da pureza da cerveja alemã, em 1516.

Ah, apenas para lembrar, com a camisa da seleção inglesa Kane também já foi artilheiro de Copa do Mundo (sem título) e jogou final de Eurocopa em Wembley (perdeu nos pênaltis).

Este escriba se lembra de pés-frios desde a infância. Nos anos 1980, chegaram a chamar Zico e Telê pela alcunha após as derrotas nas Copas de 1982 e de 1986 —nem Copa América ganhavam. Injustiça, pois Zico faturava tudo com o Flamengo, e Telê se provou acima de todos com o São Paulo.

Ainda nos anos 1980, o Palmeiras teve o talentoso Jorginho, que participou da final do Paulista de 1986 —derrotado para a Inter de Limeira. O jogador depois ficou um ano no Corinthian­s, que ganhou muito naquela década, mas não com Jorginho. Pés-frios são inesquecív­eis.

Em junho teremos outra Euro, e a Inglaterra, na humilde e insignific­ante opinião deste escriba, é forte candidata ao concorrido título, ao lado de França e Alemanha (que joga em casa). Mas, dos três, só a Inglaterra tem Kane…

A urgência da CBF

Clubes como Atlético-MG, Botafogo e Corinthian­s, além dos gaúchos, são a favor da paralisaçã­o do Brasileiro devido à tragédia no sul do país. Palmeiras, São Paulo e Flamengo querem a sequência da competição. Na dúvida, o fantástico Ednaldo Wonka convocou reunião emergencia­l da CBF para o dia 27 de maio. A urgência de Ed é comovente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil