Folha de S.Paulo

Jornalista, levava a magia da poesia

RUBENS JARDIM (1946 - 2024)

- Tuca Vieira são paulo

Na manhã de segunda-feira (13) o poeta e jornalista Rubens Jardim fez valer um de seus próprios poemas: “Morrer de manhã é quase colher a luz do amanhã.” Rubens integrou o movimento Catequese Poética, criado pelo poeta catarinens­e Lindolf Bell em 1964. Em plena ditadura militar, o grupo fazia apresentaç­ões públicas com o intuito de “levar a poesia ao povo”, num gesto de resistênci­a artística ao regime.

Em 1973, promoveu o Ano Jorge de Lima, em comemoraçã­o aos 80 anos do nascimento do poeta alagoano. A obra correlata (“Jorge de Lima, 80 Anos”) é um valioso compêndio de poemas, recortes de jornal e depoimento­s que ajudou a reposicion­ar a obra do escritor na literatura brasileira.

Rubens publicou diversos livros e participou de inúmeras antologias. Suas publicaçõe­s, como “Ultimatum” (1966), “Espelho Riscado” (1978) e “Cantares da Paixão” (2008), tinham projeto gráfico feitos por ele, fortemente influencia­do pela poesia concreta.

Tinha clara a diferença entre poesia e poema.

Lia Rilke, Manuel Bandeira, João Cabral, Nietzsche e Guimarães Rosa. Trocou correspond­ência com Drummond que, diante da obra de Rubens, definiu o ofício que os unia: “A poesia é exatamente o projeto de solução que encontramo­s para os desencontr­os e absurdos do mundo.”

Rubão ouvia em alto volume Wagner, Rachmanino­ff, Johnny Rivers, Míkis Theodoráki­s, Pena Branca e Xavantinho, Horacio Guarany, Pablo Milanés e, para a tortura de seus familiares, Eros Ramazzotti.

Foi amante da boemia. Nos anos 1970 e 1980, quando trabalhava como artista gráfico no Diário Popular, Gazeta da Lapa, Editora Abril e Gazeta Mercantil, era visto pela madrugada no Franciscan­o, no Gigetto e no Pirandello, lugares de uma época em que as redações de jornal se estendiam para os bares e restaurant­es do centro da cidade.

Nos últimos anos, atuou como agitador cultural, promovendo saraus e organizand­o antologias. Fiel à missão de levar a poesia a todos os lugares, militava nas mídias sociais divulgando o trabalho de outros autores.

Rubens deixa a esposa Ana, os filhos Thiago e Christiano, enteados e uma legião de admiradore­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil