Folha de S.Paulo

Lama ‘amolece’ terreno sob trilhos e trens não têm prazo para voltar a circular na capital gaúcha

- Carlos Villela

Os danos causados pela enchente do lago Guaíba no sistema ferroviári­o da Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre) vão deixar o serviço suspenso por tempo indetermin­ado na capital gaúcha.

O diretor-presidente da Trensurb, Fernando Marroni, disse à Folha que a maior dificuldad­e neste momento é a recuperaçã­o do leito da via do trem, que fica sobre uma camada de brita intertrava­da de aproximada­mente 60 cm de altura. “Depois que a lama chega em cima da brita, ela amolece, vira uma manteiga. Não tem estabilida­de para o trem rodar em cima”, diz.

O sistema da Trensurb, que está paralisado desde o dia 3, liga Porto Alegre à cidade de Novo Hamburgo —passando por Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. Cerca de 110 mil pessoas circulam diariament­e pelas 22 estações.

Segundo Marroni, nas estações Mercado, Rodoviária e São Pedro, as mais afetadas pelo alagamento em Porto Alegre, a situação é de perda total. “Nós queremos ir avançando aos poucos para chegar até a estação Farrapos. Da Farrapos em diante, nem no médio prazo nós vamos conseguir”, disse.

Esse problema não é inédito. Após as inundações do Guaíba em setembro e novembro de 2023, foi preciso trocar um trecho de 300 metros de brita. Agora, o problema de instabilid­ade nos trilhos é ainda maior.

“Tem que tirar toda aquela brita, colocar o leito de novo, colocar trilho para depois poder operar. Não são 300 metros. Agora são quase oito quilômetro­s de via com perda total”, explica.

A região metropolit­ana foi uma das mais afetadas pelas chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o fim de abril.

A via férrea do Trensurb tem 43 km de extensão, sendo 31,7 km no chão e 11,3 km elevados.

No domingo (19), inspeção da rede entre as cidades de Canoas e São Leopoldo mostrou que uma subestação de energia precisava de reparos. O disjuntor foi trocado e, segundo Marroni, a empresa prepara uma operação emergencia­l no trecho entre Novo Hamburgo e Mathias Velho, estação em Canoas. Ainda não há data para o início da circulação de trens.

O valor total para recuperar o sistema não pode ser estimado, como explica o diretor da Trensurb, pois há regiões alagadas e isso impede a fixação de um cronograma de obras. No momento, estão em contrataçã­o R$ 168 milhões em serviços para viabilizar a operação emergencia­l e fazer a recuperaçã­o de estruturas como estações, geradores e sistemas de sinalizaçã­o.

Já a falta de previsão do retorno da conexão entre Farrapos —último ponto previsto para recuperaçã­o em curto prazo— e o centro de Porto Alegre, deve complicar ainda mais a questão de logística na cidade.

“O trânsito na região de Porto Alegre já está muito estressado, e vai aumentar porque agora é caminhão, é máquina, é gente retomando as suas atividades”, disse.

“Cada trem nosso carrega mil pessoas, se é trem acoplado vem 2.000 pessoas. Aí larga em uma estação, e tem que entrar 2.000 pessoas nos ônibus. É difícil, mas vamos enfrentar”, diz Marroni.

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3.mai.24/@fernando_berthold Alagamento na avenida Maua, ao lado de trilhos dos trens urbanos de Porto Alegre, no centro da cidade

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