PF prende Cabral, acusado de receber mesada de empresas
Ex-governador do Rio, peemedebista foi alvo de desdobramento da Lava Jato
Esquema teria cobrado propina, chamada de ‘taxa de oxigênio’, de obras do Estado; desvio seria de R$ 224 milhões
O dia não havia raiado nesta quinta-feira (17) quando policiais federais estiveram no apartamento do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, bairro nobre da zona sul, para cumprir mandado de prisão preventiva contra o político, acusado de chefiar esquema de recebimento de propina de empreiteiras em contratos de obras com o Estado.
Segundo o Ministério Público Federal, Cabral cobrava, como propina, 5% do valor de obras das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca.
Essas empresas também teriam dado mesadas que variavam de R$ 200 mil a R$ 500 mil aos envolvidos no esquema, que contava com a participação de Wilson Carlos, coordenador de campanha e secretário de Governo de Cabral, e Hudson Braga, ex-secretário de Obras e ex-coordenador da campanha do atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Braga ainda cobrava uma taxa de 1% do valor de projetos no âmbito da secretaria que ocupava, apelidada de “taxa de oxigênio”. A propina também era tratada sob o nome de “compromissos”.
De acordo com a Procuradoria, o esquema desviou R$ 224 milhões de obras como a reforma do Maracanã, Comperj, Arco Metropolitano e PAC Favelas, todas com aporte de recursos federais.
O dinheiro seria exigido por Cabral. O relacionamento com as empreiteiras, que incluía a cobrança da propina, era feito pelos secretários, apontados como os operadores administrativos.
Quatro pessoas são apontadas como operadores financeiros do esquema, responsáveis por receber malas de dinheiro e lavá-los em empresas de fachada: Luiz Carlos Bezerra, Carlos Emanuel Miranda, Wagner Jordão e José Orlando Ribeiro.
A lavagem era feita com a emissão de notas fiscais falsas de serviços nunca prestados, a compra de bens e artigos de luxo e doações de campanha ao PMDB do Rio, que teria recebido, segundo as investigações, R$ 2 milhões. OUTRO CABRAL A prisão de Cabral se deu em um desdobramento da Lava Jato chamado Operação Calicute. O nome é referência a um porto na Índia onde o Wilson Carlos (coordenador da campanha de Cabral e ex-secretário de Governo) Acertava e cobrava das empreiteiras o pagamento de propina CHEFE DO ESQUEMA Luiz Carlos Bezerra e Carlos Miranda Operadores de Wilson Carlos. Além de carregar as malas de dinheiro, suas empresas lavavam o dinheiro recebido com a propina em contratos de serviços falsos OUTROS CITADOS Sérgio Cabral (governador do Rio de 2007 a 2014) > Cobrava propina pela contratação de obras do governo do Estado com empreiteiras > Levava 5% do valor das obras firmadas Recebeu mesada de empreiteiras, que variavam de R$ 350 a R$ 500 mil Paulo Fernando Magalhães Pinto Considerado o "testa de ferro" de Cabral, está em seu nome bens e imóveis ligados ao ex-governador Luiz Paulo Reis É apontado como um dos laranjas usados por Hudson Braga para lavar a propina após a saída do governo explorador Pedro Álvares Cabral enfrentou tormenta.
As prisões foram autorizadas por dois juízes federais — Sergio Moro, em Curitiba, e Marcelo Bretas, no Rio.
Bretas justificou a ordem de prisão com base na alegação do Ministério Público de que mesmo fora do governo, o grupo continuava a lavar dinheiro. Ele apontou também risco às investigações, com perigo de destruição de provas.
Bretas fez uma menção à Bíblia, quando justificou o caráter “educativo” da prisão.
“Por que será que as pessoas cometem crimes com tanta facilidade? É porque os criminosos não são castigados logo”, citou, referindo-se ao Livro de Eclesiastes.
Cabral foi denunciado sob acusação de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Depois de passar o dia na sede da Polícia Federal, no Rio, ele foi encaminhado ao complexo penitenciário de Bangu.
A investigação tem origem nos trabalhos da Operação Saqueador, que prendeu o empreiteiro Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, e delações premiadas de executivos da Andrade Gutierrez.
O MPF identificou que assim que saiu do governo, em abril de 2014, Cabral abriu uma empresa, a Objetivo Gestão e Comunicação Estratégica, para continuar a lavagem.
De acordo com a Procuradoria, a empresa emitia nota de serviços nunca prestados, nos moldes do esquema que vigorou enquanto ele foi governador (2007-14). O modelo do contrato de consultoria foi pedido a Branislav Kontic, exassessor de Antônio Palocci, ambos presos em setembro.
Um dos presos na operação é Paulo Fernando Magalhães Pinto, considerado “testa de ferro” de Cabral. Está no nome de sua empresa, a MPG Participações, a lancha e o helicóptero que o exgovernador usava em seus momentos de lazer.
Moro decretou bloqueio de R$ 10 milhões do ex-governador e outros 11 investigados.