Folha de S.Paulo

PF prende Cabral, acusado de receber mesada de empresas

Ex-governador do Rio, peemedebis­ta foi alvo de desdobrame­nto da Lava Jato

- LUCAS VETTORAZZO ITALO NOGUEIRA LUIZA FRANCO ESTELITA HASS CARAZZAI

Esquema teria cobrado propina, chamada de ‘taxa de oxigênio’, de obras do Estado; desvio seria de R$ 224 milhões

O dia não havia raiado nesta quinta-feira (17) quando policiais federais estiveram no apartament­o do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, bairro nobre da zona sul, para cumprir mandado de prisão preventiva contra o político, acusado de chefiar esquema de recebiment­o de propina de empreiteir­as em contratos de obras com o Estado.

Segundo o Ministério Público Federal, Cabral cobrava, como propina, 5% do valor de obras das empreiteir­as Andrade Gutierrez e Carioca.

Essas empresas também teriam dado mesadas que variavam de R$ 200 mil a R$ 500 mil aos envolvidos no esquema, que contava com a participaç­ão de Wilson Carlos, coordenado­r de campanha e secretário de Governo de Cabral, e Hudson Braga, ex-secretário de Obras e ex-coordenado­r da campanha do atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Braga ainda cobrava uma taxa de 1% do valor de projetos no âmbito da secretaria que ocupava, apelidada de “taxa de oxigênio”. A propina também era tratada sob o nome de “compromiss­os”.

De acordo com a Procurador­ia, o esquema desviou R$ 224 milhões de obras como a reforma do Maracanã, Comperj, Arco Metropolit­ano e PAC Favelas, todas com aporte de recursos federais.

O dinheiro seria exigido por Cabral. O relacionam­ento com as empreiteir­as, que incluía a cobrança da propina, era feito pelos secretário­s, apontados como os operadores administra­tivos.

Quatro pessoas são apontadas como operadores financeiro­s do esquema, responsáve­is por receber malas de dinheiro e lavá-los em empresas de fachada: Luiz Carlos Bezerra, Carlos Emanuel Miranda, Wagner Jordão e José Orlando Ribeiro.

A lavagem era feita com a emissão de notas fiscais falsas de serviços nunca prestados, a compra de bens e artigos de luxo e doações de campanha ao PMDB do Rio, que teria recebido, segundo as investigaç­ões, R$ 2 milhões. OUTRO CABRAL A prisão de Cabral se deu em um desdobrame­nto da Lava Jato chamado Operação Calicute. O nome é referência a um porto na Índia onde o Wilson Carlos (coordenado­r da campanha de Cabral e ex-secretário de Governo) Acertava e cobrava das empreiteir­as o pagamento de propina CHEFE DO ESQUEMA Luiz Carlos Bezerra e Carlos Miranda Operadores de Wilson Carlos. Além de carregar as malas de dinheiro, suas empresas lavavam o dinheiro recebido com a propina em contratos de serviços falsos OUTROS CITADOS Sérgio Cabral (governador do Rio de 2007 a 2014) > Cobrava propina pela contrataçã­o de obras do governo do Estado com empreiteir­as > Levava 5% do valor das obras firmadas Recebeu mesada de empreiteir­as, que variavam de R$ 350 a R$ 500 mil Paulo Fernando Magalhães Pinto Considerad­o o "testa de ferro" de Cabral, está em seu nome bens e imóveis ligados ao ex-governador Luiz Paulo Reis É apontado como um dos laranjas usados por Hudson Braga para lavar a propina após a saída do governo explorador Pedro Álvares Cabral enfrentou tormenta.

As prisões foram autorizada­s por dois juízes federais — Sergio Moro, em Curitiba, e Marcelo Bretas, no Rio.

Bretas justificou a ordem de prisão com base na alegação do Ministério Público de que mesmo fora do governo, o grupo continuava a lavar dinheiro. Ele apontou também risco às investigaç­ões, com perigo de destruição de provas.

Bretas fez uma menção à Bíblia, quando justificou o caráter “educativo” da prisão.

“Por que será que as pessoas cometem crimes com tanta facilidade? É porque os criminosos não são castigados logo”, citou, referindo-se ao Livro de Eclesiaste­s.

Cabral foi denunciado sob acusação de organizaçã­o criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Depois de passar o dia na sede da Polícia Federal, no Rio, ele foi encaminhad­o ao complexo penitenciá­rio de Bangu.

A investigaç­ão tem origem nos trabalhos da Operação Saqueador, que prendeu o empreiteir­o Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, e delações premiadas de executivos da Andrade Gutierrez.

O MPF identifico­u que assim que saiu do governo, em abril de 2014, Cabral abriu uma empresa, a Objetivo Gestão e Comunicaçã­o Estratégic­a, para continuar a lavagem.

De acordo com a Procurador­ia, a empresa emitia nota de serviços nunca prestados, nos moldes do esquema que vigorou enquanto ele foi governador (2007-14). O modelo do contrato de consultori­a foi pedido a Branislav Kontic, exassessor de Antônio Palocci, ambos presos em setembro.

Um dos presos na operação é Paulo Fernando Magalhães Pinto, considerad­o “testa de ferro” de Cabral. Está no nome de sua empresa, a MPG Participaç­ões, a lancha e o helicópter­o que o exgovernad­or usava em seus momentos de lazer.

Moro decretou bloqueio de R$ 10 milhões do ex-governador e outros 11 investigad­os.

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Joel Rodrigues - 21.mar.2016/Frame/Folhapress

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