Folha de S.Paulo

A Black Friday de Temer

-

BRASÍLIA - No governo Temer, a Black Friday vai começar mais cedo. A debandada do PSDB antecipou o saldão de cargos na Esplanada. O presidente promete negociar até 17 ministério­s, segundo as contas do senador Romero Jucá.

A primeira pasta em liquidação é a das Cidades, que ficou vaga com a saída do tucano Bruno Araújo. O favorito para arrematar a cadeira é o PP, partido com mais políticos investigad­os na Lava Jato.

O ministério foi criado em 2003, no início do governo Lula. No discurso, serviria para melhorar as políticas públicas de saneamento, transporte e habitação. Na prática, virou mais uma mercadoria a ser trocada por votos no Congresso.

O fisiologis­mo abocanhou a pasta em 2005. Em plena crise do mensalão, Lula demitiu o petista Olívio Dutra e entregou o lugar ao PP. A escolha do novo ministro coube a Severino Cavalcanti, que renunciou à presidênci­a da Câmara após ser acusado de achacar um dono de lanchonete.

Nas Cidades, o partido descobriu uma vocação insuspeita para os assuntos urbanos. Os pepistas comandaria­m a pasta por dez anos. Foi um período marcado por obras milionária­s e operações da Polícia Federal.

A revoada dos tucanos abriu caminho para que o PP volte ao ministério, que terá R$ 8 bilhões para gastar no ano eleitoral. O clima de flashback é tão forte que os dois candidatos mais cotados para assumir o cargo já passaram por ele: Aguinaldo Ribeiro e Gilberto Occhi.

Líder do governo na Câmara, Ribeiro foi denunciado ao Supremo no mês passado, sob acusação de integrar uma organizaçã­o criminosa. Presidente da Caixa Econômica Federal, Occhi foi delatado por Lúcio Funaro, que o acusou de cobrar propina em empréstimo­s do banco.

Quando Lula despejou Olívio, perguntara­m a Severino por que seu partido tinha tanto interesse no Ministério das Cidades. “Tem uma coisa que vocês precisam admitir: o PP não é burro”, respondeu o ex-deputado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil