Folha de S.Paulo

Base rejeita critério de Temer para reforma

Presidente havia decidido demitir em dezembro políticos que disputarão eleições em 2018, mas siglas são contra

-

PP, PSD, PR, DEM e PRB ameaçam criar um impasse na reforma ministeria­l, tida como crucial para o governo

Pelo menos cinco partidos da base de Michel Temer rejeitaram a decisão do presidente de demitir políticos que disputarão eleições em 2018 e ameaçam criar um impasse na reforma ministeria­l, considerad­a determinan­te para a última fase do governo.

O Planalto quer antecipar para dezembro a saída de todos os ministros que vão se candidatar no ano que vem. Assim, o presidente pretende evitar substituí-los em abril, quando a legislação os obriga a deixar seus postos.

A linha de corte, porém, provocou reação negativa entre dirigentes de PP, PSD, PR, DEM e PRB. Em caráter reservado, eles dizem que não aceitam exonerar agora os ministros que admitem disputar as eleições de 2018.

Integrante­s dessas siglas avaliam que os políticos que ocupam os principais postos do governo se expuseram ao longo dos últimos meses para defender um presidente de baixíssima popularida­de e salvá-lo de duas denúncias criminais apresentad­as contra ele pela PGR (Procurador­ia-Geral da República).

Além disso, os ministros reclamam que a saída prematura de suas pastas, antes do fim do ano, os impediria de colher os benefícios dos projetos desenvolvi­dos pela máquina federal —primordiai­s para suas campanhas.

A proposta de Temer foi classifica­da por esses partidos como uma “declaração de guerra”, nas palavras de um dirigente. As siglas vão pressionar o presidente a recuar, manter os ministros até abril e só então substituí-los.

“Tirar agora quem só precisaria deixar o posto em abril não será visto com bons olhos pelos partidos que dão sustentaçã­o ao governo”, disse o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL).

Com a quarta maior bancada, de 45 deputados, o PP quer ampliar seu espaço no governo —hoje comanda Saúde e Agricultur­a—, mas admite abrir mão da segunda pasta caso consiga emplacar o novo ministro das Cidades.

O PMDB também reivindica o posto, mas o presidente pode contemplar seu partido com Secretaria de Governo, Turismo e Minas e Energia.

A promessa do governo de excluir Henrique Meirelles (Fazenda) da reforma ministeria­l —com o discurso de manter a estabilida­de da economia— será usada por esses partidos como argumento.

Eles pedirão a Temer o mesmo tratamento dado ao chefe da equipe econômica, que pode deixar o governo em abril para se candidatar ao Palácio do Planalto.

Em conversas reservadas, o presidente alega que o caso não é uma exceção. Ele cita como exemplo a reforma ministeria­l de Itamar Franco antes da eleição de 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi mantido na Fazenda, e só deixou o posto alguns meses depois para disputar a Presidênci­a. (BRUNO BOGHOSSIAN, GUSTAVO URIBE E MARINA DIAS)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil