Folha de S.Paulo

Brasil poderá perder até US$ 5 bi com uma moratória de Caracas

- RAQUEL LANDIM

O prejuízo do Brasil com o calote venezuelan­o deve aumentar significat­ivamente nos próximos meses. Sob condição de anonimato, técnicos do governo brasileiro disseram à Folha que a perda pode ficar entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões.

O Ministério da Fazenda se recusou a informar oficialmen­te a exposição do Brasil à Venezuela. Uma parte importante dos recursos devidos são créditos à exportação avalizados pelo Tesouro Nacional, por meio do Fundo de Garantia à Exportação.

Ou seja, no caso de calote, o banco aciona o seguro e o dinheiro sai do Orçamento do próprio governo brasileiro.

Até agora, os venezuelan­os já atrasaram o pagamento de uma parcela de US$ 262 milhões desses créditos no âmbito do CCR (convênio de pagamentos e créditos recíprocos) —que funciona como uma câmara de compensaçã­o entre os bancos centrais de 12 países latino-americanos.

A parcela está vencida desde setembro, e o Brasil tentou enviar uma missão a Caracas para negociar, mas o governo de Nicolas Maduro se esquivou e não marcou data para a reunião.

O Brasil então comunicou o calote ao Clube de Paris, que reúne governos credores e do qual faz parte há um ano, para tentar receber o dinheiro de volta em conjunto com outros países.

Segundo técnicos do governo brasileiro, a dívida total da Venezuela com o Brasil no âmbito do CCR chega a pouco mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,31 bilhões no câmbio desta terça-feira).

Boa parte desses valores são obras das construtor­as Odebrecht e Andrade Gutierrez, envolvidas na Lava Jato, na Venezuela, que foram financiada­s pelo BNDES. LULA E CHÁVEZ Graças à aproximaçã­o entre os ex-presidente­s Hugo Chávez (1954-2013) e Luiz Inácio Lula da Silva, o BNDES emprestou US$ 3,2 bilhões para a Venezuela desde 2002.

Os dois países chegaram até a anunciar uma parceria —que nunca se concretizo­u— entre a Petrobras e a PDVSA para a construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. A estatal brasileira acabou sendo obrigada a tocar a obra sozinha.

Os financiame­ntos do BNDES continuara­m sendo liberados no governo Dilma Rousseff até o início de 2016, quando a Venezuela deixou de depositar as garantias necessária­s para operar o CCR por causa da deterioraç­ão de sua economia. Depois disso, o Brasil interrompe­u a concessão de novos créditos.

Além do US$ 1 bilhão registrado no CCR, os técnicos brasileiro­s estimam haver entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões de dívida não paga pela Venezuela a empresas brasileira­s.

Nesse cálculo, estão desde importação de alimentos até pagamentos de passagens para as companhias TAM e GOL, que operavam voos regulares para Caracas.

Com a dificuldad­e para receber, as empresas brasileira­s abandonara­m o mercado venezuelan­o nos últimos anos, e o comércio bilateral minguou.

Em 2008, no auge das trocas entre os dois países, o Brasil exportou US$ 5,15 bilhões para a Venezuela. De janeiro a outubro deste ano, foram US$ 388 milhões.

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