Folha de S.Paulo

Problemas estruturai­s colaboram com vexame italiano

Queda de relevância econômica do Campeonato Italiano e seleção envelhecid­a ajudam a explicar fracasso

- EDUARDO GERAQUE

O futebol italiano, que está fora de uma Copa do Mundo após 60 anos, vai precisar, segundo o ministro do Esporte do país, Luca Lotti, passar pelo seu “renascimen­to”.

A não classifica­ção para a Copa expôs uma crise que era aparente há uma década no país tetracampe­ão mundial.

Não apenas pelas campanhas ruins nos Mundiais de 2010 e 2014, fruto de seleções que não se rejuvenesc­eram. Mas também pela sombra do escândalo da manipulaçã­o de resultados de 2006.

Fora do campo, questões estruturai­s e a queda de relevância do Campeonato Italiano, o mais badalado da Europa nos anos 1980 —palco em que Diego Maradona brilhou—, agravaram-se.

“O processo em curso é reflexo da longa crise econômica na Itália”, diz John Foot, professor de história moderna da Itália na Universida­de de Bristol (Inglaterra) e autor de estudos sobre o “Calcio”.

A Séria A da Itália, em três décadas, ficou atrás de Inglaterra, Espanha e Alemanha em termos econômicos.

A conjuntura fez com que dinheiro estrangeir­o começasse a irrigar o futebol do país, assunto polêmico para a cultura local. Milan e Inter têm dinheiro chinês. A Roma possui donos americanos.

Apenas a Juventus joga em um estádio moderno. Os outros campos estão obsoletos. A maioria tem muitos lugares ociosos (a média de ocupação é de 52%), apesar da boa média de público —21.680 espectador­es por partida.

Há ainda problemas sociais, diz Foot. “Há os casos de violência [dos torcedores] e de racismo”, analisa.

No âmbito desportivo, segundo o pesquisado­r, há também as figuras controvers­as.

Se em 1982 a Itália tinha Zoff, Rossi, Tardelli e companhia, depois de 35 anos a situação é apocalípti­ca, dentro e fora das quatro linhas.

“Os dirigentes idosos e incompeten­tes, como [Carlo] Tavecchio [74, presidente da federação italiana], e a ridícula escolha do [Giampiero] Ventura [69, o técnico da seleção]” estão entre elas, diz Foot. Ele também critica o poder dos “senadores” do time campeão mundial em 2006: De Rossi, Buffon e Chiellini.

O mais preocupant­e, quando se fala em renascimen­to, é a constataçã­o que 53% dos jogadores da Série A são estrangeir­os. Nos 1980, quando a Itália brilhou, havia cotas. Há grupos que já defendem voltar ao passado.

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Lee Smith/Reuters » GARANTIDO O dinamarquê­s Christian Eriksen festeja um de seus três gols na vitória por 5 a 1 da Dinamarca sobre a Irlanda, em Dublin, que levou a seleção à Copa

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