Problemas estruturais colaboram com vexame italiano
Queda de relevância econômica do Campeonato Italiano e seleção envelhecida ajudam a explicar fracasso
O futebol italiano, que está fora de uma Copa do Mundo após 60 anos, vai precisar, segundo o ministro do Esporte do país, Luca Lotti, passar pelo seu “renascimento”.
A não classificação para a Copa expôs uma crise que era aparente há uma década no país tetracampeão mundial.
Não apenas pelas campanhas ruins nos Mundiais de 2010 e 2014, fruto de seleções que não se rejuvenesceram. Mas também pela sombra do escândalo da manipulação de resultados de 2006.
Fora do campo, questões estruturais e a queda de relevância do Campeonato Italiano, o mais badalado da Europa nos anos 1980 —palco em que Diego Maradona brilhou—, agravaram-se.
“O processo em curso é reflexo da longa crise econômica na Itália”, diz John Foot, professor de história moderna da Itália na Universidade de Bristol (Inglaterra) e autor de estudos sobre o “Calcio”.
A Séria A da Itália, em três décadas, ficou atrás de Inglaterra, Espanha e Alemanha em termos econômicos.
A conjuntura fez com que dinheiro estrangeiro começasse a irrigar o futebol do país, assunto polêmico para a cultura local. Milan e Inter têm dinheiro chinês. A Roma possui donos americanos.
Apenas a Juventus joga em um estádio moderno. Os outros campos estão obsoletos. A maioria tem muitos lugares ociosos (a média de ocupação é de 52%), apesar da boa média de público —21.680 espectadores por partida.
Há ainda problemas sociais, diz Foot. “Há os casos de violência [dos torcedores] e de racismo”, analisa.
No âmbito desportivo, segundo o pesquisador, há também as figuras controversas.
Se em 1982 a Itália tinha Zoff, Rossi, Tardelli e companhia, depois de 35 anos a situação é apocalíptica, dentro e fora das quatro linhas.
“Os dirigentes idosos e incompetentes, como [Carlo] Tavecchio [74, presidente da federação italiana], e a ridícula escolha do [Giampiero] Ventura [69, o técnico da seleção]” estão entre elas, diz Foot. Ele também critica o poder dos “senadores” do time campeão mundial em 2006: De Rossi, Buffon e Chiellini.
O mais preocupante, quando se fala em renascimento, é a constatação que 53% dos jogadores da Série A são estrangeiros. Nos 1980, quando a Itália brilhou, havia cotas. Há grupos que já defendem voltar ao passado.