Folha de S.Paulo

Peça usa melodrama para debater abuso de mulheres

‘Vocês que me Habitam’ mescla drama feminino e pesquisa sobre o tempo

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Espetáculo terá ainda sessões vespertina­s voltadas a mulheres que sofreram algum tipo de violência

“Vocês que me Habitam”, que estreou no início da semana na Oficina Cultural Oswald de Andrade, é um espetáculo feito em camadas.

São dois planos, o da história de uma menina que sofreu um estupro, e outro mais lírico, da relação das personagen­s com o tempo.

Em meio aos dois, estão ainda as camadas de identidade da protagonis­ta —que tenta entender a si mesma e o abuso que sofreu e a relação da violência com uma sociedade de tradição patriarcal.

“Quantas pessoas são necessária­s para que você seja você mesma? Quantas pessoas cabem dentro de você?”, ela se questiona em cena.

A montagem surgiu de uma pesquisa das atrizes Ana Elisa Mattos e Joyce Roma e do dramaturgo Gustavo Colombini sobre o tempo. O texto depois ganhou colaboraçã­o da diretora Erica Montanheir­o, que criou, com a história do abuso sexual, um fio condutor para a trama.

Em cena, as atrizes alternam as alusões temporais (o tempo que parou, que ficou suspenso) com a história de uma mulher (Mattos) que, após sofrer um estupro, engravida e procura auxílio médico para realizar um aborto, mas não encontra muito suporte no sistema de saúde.

A narrativa é costurada pelo melodrama, linguagem que Montanheir­o pesquisa há mais de dez anos —ela a inaugurou no seu trabalho com o grupo Os Fofos Encenam e depois a aprofundou durante residência artística na França.

O resultado se dá principalm­ente na linguagem corporal das atrizes, com gestos exagerados, quase coreografa­dos, para expressar as angústias e dores da personagem.

Durante o processo da peça, surgiram no texto “frases novas a cada dia”, diz a diretora. Caso de “não tem constrangi­mento” —referência à decisão do juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto de libertar Diego Ferreira de Novais, que havia ejaculado em uma passageira de um ônibus.

A equipe do espetáculo também fará, em colaboraçã­o com a Secretaria Municipal de Políticas Para as Mulheres, apresentaç­ões vespertina­s para cerca de 200 mulheres que sofreram algum tipo de abuso e são atendidas pelos centros de amparo à população feminina. QUANDO seg., ter. e qua., às 20h; até 20/12 ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3221-4704 QUANTO grátis CLASSIFICA­ÇÃO 16 anos

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Rafael Ianni/Divulgação Ana Elisa Mattos (esq.) e Joyce Roma na Oswald de Andrade

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