Folha de S.Paulo

Produzir, conservar, incluir, exportar

- MARCOS SAWAYA JANK COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

O BRASIL é um país de dimensões continenta­is, mas de ocupação recente e acelerada. A fronteira continua expandindo-se na Amazônia e, em maior grau, nas áreas de cerrado da região conhecida como Matopiba.

Ao mesmo tempo, o Brasil é o país que teve maior êxito no desenvolvi­mento de tecnologia­s adaptadas às regiões tropicais, tornando-se o 3º maior exportador do agronegóci­o. Graças ao agro, a economia hoje crescemais­nointerior­doquenasca­pitais, invertendo o fluxo migratório.

O Brasil não é o único país do mundo a proteger vegetação nativa, mas no nosso caso o Código Florestal coloca grande parte da responsabi­lidade pela preservaçã­o de ativos ambientais nas costas dos produtores rurais. Nesta semana, o STF confirmou a constituci­onalidade do Código Florestal, trazendo segurança jurídica para concluir a implementa­ção de uma das leis mais conservaci­onistas e exigentes do planeta.

Essas três particular­idades explicam por que temos hoje um agronegóci­o moderno, dinâmico e exportador, causadas por um processo de ocupação recente e desordenad­o.

O “uso da terra” no país deve, portanto, responder à oportunida­de de continuar expandindo a produção e as exportaçõe­s. Mas também ao desafio de aumentar a eficiência do uso de recursos naturais na agropecuár­ia, conservand­o os ativos florestais.

O movimento ambientali­sta até hoje sempre focou a redução do desmatamen­to relacionad­o à produção agrícola no Brasil. Resultados importante­s de cooperação com o setor privado foram alcançados na Amazônia. Neste momento, as atenções replicar o que foi feito na Amazônia.

É hora de pensar mais estrategic­amente, aprendendo com o passado. Segundo o Inpe, 68% do desmatamen­to na Amazônia em 2016 aconteceu em terras públicas. E a Amazônia ainda tem 69 milhões de hectares de terras não destinadas, principal alvo da ocupação desordenad­a do território. Iniciativa­s de cadeias produtivas têm pouco efeito sobre esse tipo de desmatamen­to, seja na Amazônia, seja no cerrado.

Quanto ao desmatamen­to legal, coibi-lo significa também cercear direitos nas regiões da fronteira agrícola.

As respostas não são simples e dependem do engajament­o de todos os atores envolvidos, e não de polarizaçõ­es infrutífer­as. Bons exemplos são iniciativa­s de cadeias produtivas como o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentáve­l (GTPS) ou iniciativa­s jurisdicio­nais como o da Estratégia “Produzir, Conservar e Incluir” (PCI), do estado de Mato Grosso.

O uso de tecnologia é a melhor resposta para ganhar eficiência na produção. E implementa­r corretamen­te Código Florestal e eliminar definitiva­mente o desmatamen­to ilegal das cadeias produtivas do agronegóci­o são o passaporte da sustentabi­lidade das commoditie­s brasileira­s para atender ao mercado mundial.

Além disso, é fundamenta­l estabelece­r e na intensific­ação da pecuária; c) destinar terras devolutas e resolver o gigantesco gargalo fundiário.

Só assim vamos construir uma paisagem rural verdadeira­mente sustentáve­l. MARCOS SAWAYA JANK SAMPAIO, marcos@jank.com.br FERNANDO DE MESQUITA

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