Folha de S.Paulo

Morre o Nobel V. S. Naipaul

- Com agências de notícias

Considerad­o um dos principais autores ingleses do século 20, Naipaul escreveu livros como “Uma Curva no Rio” e “Uma Casa para o Sr. Biswas”. Ele morreu aos 85 anos, em Londres.

O escritor britânico V. S. Naipaul, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, morreu neste sábado (11), em sua casa, em Londres, aos 85 anos, segundo a família do autor.

Nascido na zona rural de Trinidad e Tobago em 1932, sir Vidiadhar Surajprasa­d Naipaul era conhecido por livros como “Uma Curva no Rio” e “Uma Casa para o Sr. Biswas”, lançados no Brasil pela editora Companhia das Letras.

Considerad­o um dos principais autores ingleses do século 20, ganhou alguns dos principais prêmios literários do mundo. Com “Num Estado Livre”, venceu o Man Booker Prize de 1971.

Em 2001, recebeu o Nobel de Literatura. Na justificat­iva do prêmio, Naipaul foi exaltado “por unir percepção narrativa e escrutínio incorruptí­vel em obras que nos levam a perceber a presença de histórias suprimidas”.

A academia também destacou o sentido de deslocamen­to em sua obra: “um circum-navegador literário, só estava em casa nele mesmo, em sua voz inimitável”.

“A maioria de nós conhece nossos pais e avós, mas nossas origens são mais distantes, remontamos ao infinito: todos remontamos até a origem da raça em nosso sangue, nossos ossos, nosso cérebro. Arrastamos a memória de milhares de seres”, escreveu Naipaul em “Um Caminho no Mundo”, livro de forte teor autobiográ­fico.

Descendent­e de uma família do norte da Índia, V.S. Naipaul ouvia o pai ler Shakespear­e e Dickens para ele quando criança. Viveu no Caribe até os 18 anos, quando se mudou para a Inglaterra para estudar em Oxford com uma bolsa escolar. Por lá, morou a maior parte da vida.

Mais tarde, recebeu o título de doutor honoris causa de Oxford e também das universida­des de Cambridge, Londres e Columbia. Em 1990, foi sagrado cavaleiro britânico pela rainha Elizabeth 2ª.

Comparado a escritores como Joseph Conrad, Charles Dickens e Leon Tolstói, Naipaul documentou o colonialis­mo, a dissolução do império britânico, a imigração de pessoas e as ironias e traumas do mundo pós-colonial, temas que espelhavam sua própria trajetória, em mais de 30 livros de ficção e não ficção.

O autor também era criticado por muitos pelo comportame­nto arrogante. “Tenho uma carreira de 40 anos. Sou mais importante que muitos escritores. Você não pode falar disso comigo. Minha família é muito rica, muito bem de vida. Não posso fingir que sou um mendigo ignorante”, disse o autor em entrevista à Folha, em 1994.

Muitos liam seus relatos da desordem no terceiro mundo como desculpas para o colonialis­mo.

No livro “Sir Vidia’s Shadow”, o autor americano Paul Theroux conta sua relação com Naipaul e o descreve como “misógino”, “rabugento”, “tacanho” e de “cérebro racista”. Anos depois, os dois escritores se reconcilia­riam.

Naipaul esteve no Brasil, em 1994, para promover “Um Caminho no Mundo”. Na época, disse em entrevista à Folha: “Muito poucas pessoas leram de fato meus livros. As pessoas blefam a respeito”.

Sua mulher, Nadira Naipaul, o classifica­va como “um gigante em tudo que conquistav­a”. Nadira afirmou que o escritor morreu “cercado pelos que o amavam, após viver uma vida cheia de criativida­de e empenho”.

“A maioria de nós conhece nossos pais e avós, mas nossas origens são mais distantes, remontamos ao infinito: todos remontamos até a origem da raça V. S. Naipaul escritor, em “Um Caminho no Mundo”

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Ulf Andersen/Aurimages/AFP O escritor em 2002
 ?? Jonas Ekstromer/AFP ?? V. S. Naipaul na entrega do Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, em 2001
Jonas Ekstromer/AFP V. S. Naipaul na entrega do Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, em 2001

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