Folha de S.Paulo

Fortaleza nordestina

- Bruno Boghossian

O grande teste de transferên­cia de votos de Lula se dará no Nordeste. A região, que se transformo­u em fortaleza petista, concentra o maior número de órfãos do ex-presidente quando seu nome não aparece nas pesquisas. O PT terá o desafio de levar quase 20 milhões de lulistas às urnas em outubro para votar em um nome diferente.

O ex-presidente tem o apoio de quase 50% dos nordestino­s, mas Fernando Haddad ainda é um virtual desconheci­do. Em simulações de segundo turno na região, o substituto de Lula fica tecnicamen­te empatado com Jair Bolsonaro (25% a 28%), perde para Geraldo Alckmin (30% a 21%) e toma uma lavada de Ciro Gomes (40% a 14%).

A esperança dos petistas está no estoque de eleitores sem candidato. Com Lula fora da parada, pelo menos 4 a cada 10 moradores da região não sabem quem escolher ou declaram voto em branco ou nulo.

Da prisão, o ex-presidente azeitou a estrutura partidária do PT e de seus aliados para dar a largada em uma transferên­cia em massa de votos quando Haddad for oficialmen­te ungido como seu substituto.

Lula costurou alianças formais e informais para garantir hegemonia na região. Dos 9 governador­es, 7 declaram apoio a seu nome.

O objetivo dos petistas é explorar as máquinas estaduais para evitar que os votos de Lula se dissipem pelo caminho. Se o ex-presidente conseguir passar adiante dois terços de seus votos no Nordeste, como apontam as pesquisas, Haddad teria, de saída, 9% da votação nacional.

O ex-presidente fortaleceu “golpistas” como o cearense Eunício Oliveira (MDB) e o alagoano Renan Calheiros (MDB); manteve boa relação com o clã Sarney no Maranhão, apesar de apoiar Flávio Dino (PC do B); e atropelou o PT pernambuca­no para apoiar Paulo Câmara (PSB).

Todos eles querem pegar carona na popularida­de de Lula, mas talvez não tenham o mesmo entusiasmo com Haddad. Se o plano B não empolgar, os votos lulistas podem ficar pelo caminho.

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