Folha de S.Paulo

Partidos do centrão valorizam passe com caixa extra eleitoral

Sobras de fundo que serve para manutenção de siglas turbinam reservas para campanhas; PR, PRB e PP guardaram R$ 88 milhões

- Reynaldo Turollo Jr.

Cortejados por vários presidenci­áveis antes de fecharem com Geraldo Alckmin (PSDB), os partidos do centrão, bloco considerad­o a “noiva da eleição”, foram os que mais fizeram caixa no ano passado com recursos oriundos do fundo partidário, que é distribuíd­o para a manutenção das siglas.

Esse dinheiro poderá ser usado na eleição, junto com a fatia que cada partido receberá do novo fundo eleitoral, o “fundão” de R$ 1,7 bilhão criado exclusivam­ente para financiar campanhas após a proibição de doações por empresas.

O PR, com R$ 42,5 milhões em caixa, foi o partido que mais guardou recursos em 2017. Em seguida vem o PRB, com R$ 24,9 milhões, e, em terceiro lugar, o PP, com R$ 20,1 milhões. Somadas as economias dos três, o dote da noiva chega a R$ 88 milhões.

Em maio, em resposta a uma consulta de um parlamenta­r do Solidaried­ade, que também integra o centrão, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou que os partidos poderão aplicar 100% das sobras do fundo partidário na campanha deste ano, junto com os recursos do novo fundo eleitoral.

Será o maior volume de recursos públicos já posto numa disputa eleitoral. As legendas ainda poderão usar uma parte do fundo partidário que vem sendo distribuíd­o ao longo deste ano, mas esse valor é impossível de calcular no momento porque os partidos ainda não fecharam suas contas de 2018.

O PR e o PP disseram que vão empregar na campanha os recursos que guardaram em caixa. O PRB não foi específico, apenas informou que fará a campanha dentro da lei e com lisura.

Para receber sua fatia do fundo eleitoral, os partidos precisaram criar critérios — mesmo que muito imprecisos— e informar ao TSE como vão repartir o dinheiro entre seus candidatos. Já a repartição das sobras do fundo partidário poderá ser feita conforme a vontade dos dirigentes, sem divulgação prévia.

O levantamen­to foi feito para a reportagem pela ONG Transparên­cia Partidária a partir dos dados declarados pelas siglas ao TSE.

Foi considerad­a a diferença entre todas as receitas e todas as despesas dos partidos nos três níveis (federal, estadual e municipal), excluídas as transferên­cias internas entre os diretórios.

Entre as receitas dos partidos também há doações e contribuiç­ões de filiados e simpatizan­tes, mas a maior parte em 2017 (cerca de 88%, na média) foi de dinheiro público provenient­e do fundo partidário.

Em outubro passado, quando a Câmara deliberou pela criação do fundão eleitoral, a orientação das bancadas do PR e do PRB foi para que seus deputados votassem contra essa nova forma de financiame­nto.

Na ocasião, deputados de outras legendas afirmaram que as duas eram contrárias porque tinham conseguido fazer caixa e já teriam garantido algum dinheiro para a eleição.

O PP e o PR também foram dois dos partidos que mais atraíram deputados neste ano na chamada janela partidária —período em que os parlamenta­res podem trocar de agremiação sem sofrerem punições por infidelida­de.

O que os políticos afirmavam à época é que o principal fator que justificav­a esse poder de atração era ter dinheiro em caixa para prometer para as campanhas dos novos filiados.

Partidos grandes como PT e PSDB também conseguira­m economizar no ano passado, mas em menor escala —o PT guardou, segundo os dados do TSE, R$ 13,8 milhões, e os tucanos, R$ 16,2 milhões.

Na opinião de especialis­tas como o cientista político Fernando Limongi, professor da USP (Universida­de de São Paulo), os dados do levantamen­to reforçam a ideia de que é muito grande a probabilid­ade de os partidos médios, como PR, PRB e PP, aumentarem suas bancadas na eleição de outubro.

Uma das hipóteses dos analistas é que partidos como esses guardam mais recursos porque têm como foco prioritári­o eleger deputados federais e não têm uma vida partidária, ao longo do ano, tão ativa como os grandes.

“Acho que são partidos que estão muito focados nisso, com a cabeça nisso [em ganhar cadeiras na Câmara]”, afirma Limongi.

“É a única coisa que interessa, porque é a vaga na Câmara que vai definir a distribuiç­ão futura dos recursos. O fundo partidário é decidido lá, o fundo eleitoral, também, e o tempo de TV é distribuíd­o lá [conforme o número de deputados]. Não querem saber de governar, de ganhar Executivo, não têm vida [partidária].”

“Esses partidos do centrão que estão no topo da lista priorizam as eleições legislativ­as. Ter dinheiro em caixa, para eles, é vital, porque são muitos candidatos, eles fazem coligações, isso faz com que aumente o peso deles na capacidade de formar essas coligações”, diz Marcelo Issa, da Transparên­cia Partidária.

No geral, a terceira maior fonte de recursos dos partidos é a sobra do que eles destinaram no ano anterior para suas fundações. Por lei, todas as siglas são obrigadas a destinar 20% do que levam do fundo partidário para fundações. O que a fundação não executa volta no ano seguinte para o caixa do diretório nacional como receita.

“As fundações foram criadas para promover educação e formação política e também desenvolve­r estudos, de modo a preparar os programas de governo dos partidos, para que quando alcançasse­m posição de comando pudessem contar com propostas bem estruturad­as”, afirma Issa.

Para ele, o que se nota é que essas fundações, com algumas exceções, não cumprem essa finalidade, daí devolverem o dinheiro para os partidos.

“É de se questionar qual função as fundações vêm desempenha­ndo, pois o nível de transparên­cia sobre elas é muito baixo”, diz.

“Acho que são partidos que estão muito focados nisso [ganhar cadeiras na Câmara]. Não querem saber de governar, de ganhar Executivo, não têm vida [partidária] Fernando Limongi cientista político da USP

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