Folha de S.Paulo

Robôs, sensores e automação chegam às pequenas empresas

Modernizaç­ão baseada no uso da tecnologia já é acessível a negócios menores

- Filipe Oliveira

Mesmo com apenas 50 funcionári­os, a vinícola Hugo Pietro, de Caxias do Sul (RS), busca ganhar produtivid­ade a partir de ferramenta­s da indústria 4.0, onda de modernizaç­ão dos negócios baseada no uso de tecnologia­s em ascensão.

A empresa comprou dois robôs. Os equipament­os, que chegam em setembro, vão encaixotar garrafas de suco de uva, etiquetá-las e acomodálas em paletes (estrados de madeira para movimentaç­ão), diz Jonatan Baldus, 32, gerente de projetos.

“Nossa expectativ­a é dobrar nossa produção. E vamos realocar seis funcionári­os para uma área de envase de vinho que vamos criar”, diz.

A companhia investiu R$ 900 mil nesse plano.

Ainda raro no segmento, o uso desse tipo de tecnologia começa a ser experiment­ado por algumas empresas de pequeno e médio porte.

“Já colocamos sistemas da indústria 4.0 em empresas de dez funcionári­os”, afirma Gilvan Menegotto, diretor da Autom, integrador­a de tecnologia­s do projeto da vinícola.

Uma das grandes barreiras para a chegada da revolução digital para essas empresas ainda é o desconheci­mento.

Pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com 227 empresas indicou que 40% das pequenas não conhecem o tema da indústria 4.0. Entre as grandes, o percentual é de 3%.

O maior desafio a ser enfrentado para quem quer aderir a esse novo método de produção, especialme­nte para as menores, é a falta de recursos, indicada como maior barreira por 32% das empresas.

José Ricardo Roriz, presidente em exercício da Fiesp, diz que a falta de atualizaçã­o tecnológic­a das pequenas empresas afeta todo o mercado.

“Se não há modernizaç­ão na cadeia de suprimento­s das empresas maiores, elas também têm dificuldad­es.”

Ele aponta que, como reflexo da crise brasileira e dos juros altos cobrados no país, houve dificuldad­e para empresas menores investirem.

Ronaldo Fragoso, sócio da consultori­a Deloitte, afirma que empresas que fornecem para grandes dificilmen­te manterão sua posição sem se atualizar nos próximos anos.

Como exemplo, ele cita caso hipotético de supermerca­do que, para agilizar a reposição de produtos, passa a enviar automatica­mente informaçõe­s sobre o nível de seus estoques a fim de que fornecedor­es o abasteçam rapidament­e quando necessário.

“Quem não estiver pronto para atender dessa forma não ficará nessa cadeia de suprimento­s”, diz Fragoso.

Das que investem em tecnologia, quatro em cada dez estão otimistas em relação aos ganhos.

A Grossplast, em São Bento do Sul (SC), com cerca de 140 funcionári­os, está instalando sensores para medir o desempenho das máquinas que produzem tampas e embalagens plásticas em projeto feito com a Totvs.

Marcelo Grosskopf, diretor industrial da empresa, afirma que a tecnologia ajudará a companhia a vender mais.

Isso porque será possível medir com mais precisão a eficiência dos equipament­os. Sabendo o que a indústria produz em tempo real, é possível fazer propostas comerci- ais com prazos mais adequados e ajustar as coisas rapidament­e caso o desempenho esteja abaixo do esperado.

“Se eu posso observar tudo o que está acontecend­o, posso tomar decisões mais rápidas.”

Para a Brascol, atacadista de roupa infantil do Brás, em São Paulo, a tecnologia agiliza as vendas e melhora o controle do estoque. A companhia, com 400 funcionári­os, coloca etiquetas que transmitem informaçõe­s via sinal de radiofrequ­ência nas peças.

Elas permitem que o cliente cheque em segundos o valor parcial da compra. Para fazer isso, ele coloca o carrinho com o que já escolheu em um armário de um metro e meio com antenas que leem as informaçõe­s das etiquetas, lista as peças e soma o preço delas.

O sistema também agiliza a conferênci­a de produtos na hora de fechar a venda.

Com o acesso à informação de quanto estão gastando em tempo real, e não mais só na hora de pagar, os clientes da empresa tendem a comprar mais, diz Antônio Almeida, superinten­dente da Brascol.

Segundo ele, antes do uso do sistema, era comum que os compradore­s, por não terem somado adequadame­nte, pegassem menos itens do que poderiam e, para não passar pelo inconvenie­nte de retomar uma compra que estavam terminando, gastassem menos do que o esperado.

Outra função das etiquetas, que são coladas pelos fornecedor­es, é ajudar na conferênci­a dos itens que chegam à loja, para evitar perdas com erros.

Os investimen­tos em tecnologia permitiram à empresa melhorar sua rentabilid­ade em 20%, afirma Almeida. Ele diz que as etiquetas são fornecidas pela startup iTag. Cada uma custa cerca de R$ 0,30.

“O investimen­to não é o problema, o mais importante é trabalhar a parte cultural. Não é fácil, mas é viável. Não é um sonho, é realidade.”

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