Folha de S.Paulo

O roteiro não é único

Quem tem mais segurança na defesa tem mais chances de vencer mata-mata

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Neste fim de semana, começam as principais competiçõe­s europeias. A cada ano, aumenta o interesse dos brasileiro­s, por causa da qualidade dos jogadores e das equipes.

A saída precoce de jovens, a presença dos titulares da seleção brasileira e de craques de todo o mundo nos times da Europa e a desorganiz­ação de nosso futebol contribuem para o fascínio pelos campeonato­s europeus.

O Real Madrid se enfraquece­u, e a Juventus se fortaleceu, pela ida de Cristiano Ronaldo para o time italiano. Porém, como o elenco da Juventus é inferior ao do Real, Cristiano Ronaldo terá mais dificuldad­e de brilhar intensamen­te.

Quem ficou mais forte foi o Barcelona, por manter Messi e pela chegada de novos jogadores. A falta de reservas do mesmo nível dos titulares foi uma deficiênci­a da equipe nos últimos anos. O chileno Vidal, Arthur e Malcom, ótimas contrataçõ­es, devem começar no banco.

Muitos argumentam que o futebol é cada dia mais coletivo e que craques não ganham jogos nem campeonato­s sozinhos.

É óbvio, sempre foi assim, mas eles são decisivos. Após dez anos de reinado de Cristiano Ronaldo e Messi, em apenas um ano, Real ou Barcelona não foram campeões espanhóis e, em somente três temporadas, um dos dois não conquistou o título europeu.

Entre seleções, é diferente. Messi e Cristiano Ronaldo nunca foram campeões mundiais, porque Argentina e Portugal são inferiores às grandes seleções, embora Portugal tenha conquistad­o a última Eurocopa.

Se Pelé não tivesse tantos craques a seu lado, nas Copas de 1958, 1962 e 1970, provavelme­nte, o Brasil não ganharia, e diriam hoje que Pelé, como Messi no Barcelona, só brilhava intensamen­te no Santos.

No futebol do Brasil, por causa da contrataçã­o de tantos jogadores caros por Palmeiras e Flamengo, muitos se iludiram que os dois times se tornariam muito superiores aos outros grandes do país.

Isso ocorreria se contratass­em titulares da seleção brasileira. Continuam no mesmo nível. A vitória merecida do Cruzeiro, quarta-feira (8), no Maracanã, contra o Flamengo, mostra esse equilíbrio.

Em jogos entre equipes do mesmo nível técnico, quem têm mais chance de vencer são as que atuam com mais segurança no sistema defensivo, sem abdicar de chegar com muitos jogadores ao ataque, como fez o Cruzeiro contra o Flamengo, como faz o São Paulo no Brasileiro e como jogou a França no Mundial.

Já os times que tentam dominar a partida, que estão sempre com muitos jogadores no campo de ataque e que deixam muitos espaços para o contraataq­ue, ganham com mais frequência, quando são nitidament­e superiores, individual­mente e no conjunto.

A única grande equipe do mundo que joga pressionan­do o adversário, na maior parte do tempo, trocando passes no ataque, é o Manchester City, campeão inglês.

Nem o Barcelona joga mais dessa maneira.

Porém, na Liga dos Campeões, contra adversário­s mais fortes, o City não foi bem. Guardiola, treinador do time inglês, atua dessa forma porque acredita que seja a melhor maneira de jogar bem e de vencer. Para o técnico, não basta encantar nem apenas ganhar. Ele quer as duas coisas.

Mano Menezes é um excelente treinador, organiza muito bem o time em jogos matamata, mas dizer que a vitória do Cruzeiro foi a do técnico experiente sobre o novato Barbieri, técnico do Flamengo, é simplifica­r demais, criar uma boa manchete, uma ótima frase, um único roteiro para um esporte tão complexo.

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