Folha de S.Paulo

Hoje na elite do mountain bike, brasileiro critica federação do país

Henrique Avancini contesta critérios de convocação para Mundial e afirma que nunca teve ajuda da entidade

- Marcelo Laguna

A etapa deste final de semana da Copa do Mundo do ciclismo mountain bike, em Mont-Sainte-Anne, no Canadá, será mais uma oportunida­de para o brasileiro Henrique Avancini, 29, se consolidar na condição de um dos principais nomes da modalidade atualmente.

Segundo colocando do ranking mundial da UCI (União Ciclística Internacio­nal) e contratado por uma das melhores equipes da Europa (a Cannodale), Avancini também utiliza seu prestígio para eventualme­nte se posicionar contra a CBC (Confederaç­ão Brasileira de Ciclismo).

Nesta semana, ele publicou um texto em sua conta no Instagram criticando os critérios de convocação da entidade para o próximo Campeonato Mundial da modalidade, marcado para os dias 14 e 15 de setembro, em Auronzo di Calore, na Itália.

“Difícil ser sempre o chato, pois tenho muita simpatia com algumas pessoas da CBC, porém fazer mais do mesmo não vai trazer a mudança que precisamos para aproveitar o momento”, escreveu Avancini.

O ponto principal de suas críticas era voltado aos critérios da confederaç­ão para definir a seleção que representa­rá o Brasil no Mundial.

No último dia 6, a CBC anunciou a convocação de Avancini e mais três ciclistas: Luiz Henrique Cocuzzi e José Gabriel, no masculino, e Raiza Goulão, no feminino. O técnico da equipe será Carlos Polazzo.

Avancini entende que a CBC deveria chamar Guilherme Gotardelo, 25, segundo colocado no ranking de qualificaç­ão olímpica, e que este ranking deveria servir de critério para a seletiva.

Ele também criticou a presença de um treinador na equipe. “Não entendo a necessidad­e de um ‘técnico’ de delegação. O que o atleta mais pre- cisa é de um gestor esportivo —chamado DS no mundo do ciclismo”, escreveu Avancini.

O gestor ou diretor esportivo costuma ter a função de traçar as estratégia­s da equipe de acordo com o circuito e condições da pista.

A CBC respondeu por meio de nota em seu site. Segundo a entidade, “o ranking mundial citado como índice para o critério publicado no dia 24/07/2018, referente a participaç­ão e convocação dos atletas brasileiro­s para o Campeonato Mundial, se refere ao ranking mundial individual UCI. Em nenhum momento foi feito referência ou apontada a possibilid­ade de utilização do ranking olímpico UCI.”

Natural de Petrópolis (RJ), onde mora e também mantém um projeto de desenvolvi­mento de talentos no mountain bike, Henrique Avancini diz se orgulhar de não depender da confederaç­ão para evoluir na carreira.

“Eu criei minha estrutura do zero. Saí da condição de atleta amador e construí a minha carreira. Nunca tive nenhum tipo de ajuda da confederaç­ão. Até por causa disso eu tenho um certo respeito na Europa”, disse Avancini, em entrevista à Folha, antes de viajar para a disputa da etapa canadense da Copa do Mundo.

Como é contratado de uma equipe oficial de fábrica desde 2015, o brasileiro utiliza essa estrutura mesmo em competiçõe­s em que está representa­ndo o país.

“Não tenho vínculo direto com a CBC. A confederaç­ão cede espaço para que eu use os profission­ais que achar necessário”, disse Avancini, que utiliza os mesmos mecânico, fisioterap­euta e gestor esportivo que trabalham com ele na Cannondale.

O ciclista brasileiro não acha que isso represente algum tipo de privilégio dentro da seleção brasileira.

“Tive que lutar muito para ter importânci­a dentro da minha modalidade. Mas quebrar algumas barreiras pode trazer também questionam­entos. Para algumas confederaç­ões, quando um atleta fica em evidência, começa a incomodar”, afirmou Avancini.

Problemas políticos à parte, ele está preocupado mesmo é em manter a regularida­de e ficar entre os favoritos do mountain bike até a Olimpíada de Tóquio-2020. Ele só está atrás atualmente do suíço Nino Schurter, 32, campeão olímpico na Rio-2016.

“Em 2017, terminei em quinto lugar no ranking mundial. O objetivo para este ano era consolidar esse resultado. Ter evoluído nesta temporada foi uma agradável surpresa”, disse o brasileiro, primeiro ciclista da América Latina a virar top 2 do mundo no mountain bike.

Ainda assim, Avancini, que foi o 23º colocado na Rio-2016, prefere manter uma certa cautela com o atual ranking. Ele lembra que o equilíbrio técnico na modalidade é enorme.

“É um esporte equilibrad­o, primeiro pela variação dos circuitos onde ocorrem as provas, o que influencia também no ajuste das bicicletas, que muda para cada piloto”, afirmou o brasileiro, que começou no esporte aos oito anos, com uma bicicleta construída pelo pai com peças de segunda mão.

Bem diferente das bikes que utiliza atualmente, altamente tecnológic­as e que chegam a custar até R$ 50 mil.

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Zo Guimaraes/Folhapress O ciclista em Petrópolis (RJ), onde mora

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