Folha de S.Paulo

Coleção traz ‘O Anjo Embriagado’, que abre longeva parceria de Kurosawa com Mifune

- Cristiane Martins

De uma tacada, “O Anjo Embriagado” (1948) marca duas viradas importante­s na carreira do cineasta japonês Akira Kurosawa (19101998). Foi o primeiro dos oito longas que considerav­a de fato autoral e aquele que inaugura a parceria com o ator Toshirô Mifune (1920-1997).

O longa, que chega às bancas em 19 de agosto no quarto volume da Coleção Folha Grandes Diretores no Cinema, retrata no Japão do pósGuerra um médico (Takashi Shimura), que, apesar do alcoolismo, se dedica com vigor a cuidar de pacientes, e um gângster (Mifune) que foi ferido por outros criminosos.

Diagnostic­ado com tuberculos­e, o segundo atrapalha o tratamento adequado com sua atitude reativa, atrevida e violenta. Mifune rouba o filme com um tipo de personagem que marcaria também o americano Marlon Brando (1924-2004).

Sem interferên­cias significat­ivas dos produtores, Kurosawa mistura as estéticas hollywoodi­ana e japonesa tradiciona­l em um longa que passa por temas como frustração, altruísmo e a reconstruç­ão de um país arrasado pela guerra, que ainda carrega elementos arcaicos como a Yakuza.

Os cenários insalubres refletem a deterioraç­ão das condições de vida no Japão e a derrocada dos protagonis­tas.

A preocupaçã­o social é uma das principais marcas do cinema de Kurosawa, que entrou na indústria cinematogr­áfica em meados dos anos 1930 como assistente de direção.

Foram mais de 30 filmes em 50 anos de carreira, divididos em obras de época e atuais. Parte abordava o Japão contemporâ­neo, sob forte influência da ocidentali­zação no país e em sua obra —o americano John Ford (1894-1973) foi a sua maior inspiração cinematogr­áfica.

William Shakespear­e também teve papel marcante no intercâmbi­o cultural de Kurosawa, tido por parte dos conterrâne­os tradiciona­listas como alguém que não representa­va a arte local. Foram três adaptações. “Trono Manchado de Sangue” (1957) transpõe “Macbeth” para o Japão feudal, “Homem Mau Dorme Bem” (1960) atualiza os conflitos existencia­is de “Hamlet” e “Ran” (1985) relê a trágica briga de poder de “Rei Lear”.

Kurosawa foi eleito o sexto maior diretor de todos os tempos pela revista americana Entertainm­ent Weekly, sendo um dos dois asiáticos na lista de 50 nomes. O outro é o indiano Satyajit Ray.

Os 30 volumes da coleção incluem um DVD e um livro com ficha técnica e análises.

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Toshirô Mifune e Noriko Sengoku em ‘O Anjo Embriagado

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